Generosidade de Poty faz que Portão ganhe o museu
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de abril de 1988
Afinal, o tão propalado Centro Cultural do Portão acabou não sendo inaugurado no aniversário de Curitiba, como tinha anunciado a diretoria da Fucucu. As obras não ficaram prontas e só dentro de algumas semanas (quantas?) é que acontecerá a festa, por certo com muito foguetório político, como tão bem sabe fazer a administração peemedebista neste ano de possíveis eleições municipais.
O grande homenageado da inauguração deve ser, com toda a razão, uma das mais queridas expressões da arte paranaense: o múltiplo e talentoso Poty. Afinal, numa extrema generosidade, foi o grande Poty quem doou à Fundação Cultural de Curitiba todo o seu acervo, de livros e publicações de arte, até preciosas telas e esculturas, além de uma grande coleção de arte popular, que durante anos reuniu em seu apartamento na Rua Senador Vergueiro, Flamengo, Rio de Janeiro. Como bom curitibano, nascido no dia 29 de março - mesmo dia em que a cidade também faz aniversário - Poty, 64 anos, após a morte de sua esposa, Celia Neves Lazarotto, decidiu que o seu acervo artístico deveria voltar para Curitiba.
Assim, sem receber um centavo, Poty transferiu para a FCC a soma de uma vida artístico-cultural, na qual vem convivendo com os maiores nomes - fazendo amigos, ele que, silencioso, retraído, é daquelas personalidades mais admiráveis. O acervo doado, encaixotado, permaneceu meses nos depósitos da Fundação, esperando a hora de ser colocado no lugar definitivo. O próprio Poty, há algumas semanas, ao preparar a exposição que mostrará o seu lado de ilustrador de obras literárias (a ser realizada no solar dos Leões, sede da IBM Brasil, no Alto da Glória), surpreendeu-se em ver que o material que havia encaixotado no Rio de Janeiro, há mais de um ano, permanecia recebendo poeira, enquanto não era concluída a reforma do antigo terminal de transportes no Portão, que a atual administração houve por bem em transformar num centro cultural comunitário - ali instalando o acervo de Poty e transferindo também outras unidades culturais, além de esvaziar o Museu Guido Viaro.
Poty não aceitou a sugestão de que o Centro Cultural do Portão levasse o seu nome - ou mesmo de alguma pessoa de sua família (o pai Isaac, a mãe Julia ou a esposa Celia), já que, em sua modéstia, jamais gostou de qualquer promoção pessoal. Ao contrário, sempre se caracterizou pelo seu mutismo e só mesmo um de seus maiores amigos, o homem de televisão e escritor Valêncio Xavier, tem conseguido, a fórceps, extrair algumas entrevistas-depoimentos. Aliás, Valêncio agora está concluindo um belo vídeo-teipe que fez sobre Poty a propósito da conclusão do painel no Palácio Iguaçu, que planejado a 35 anos foi concretizado agora.
LEGENDA FOTO - Poty: graças a sua generosidade, Curitiba ganha mais um museu
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