Promessas, promessas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de maio de 1978
O curitibano vem sendo visto, em termos sociológicos, como um povo de grande misticismo. Aqui já há sedes internacionais de várias seitas e organizações religiosas, inclusive da Ordem Rosa Cruz, a umbanda teve um crescimento de mais de 800% nos últimos 15 anos e novas religiões, principalmente orientalistas, encontraram campo fértil entre nós. Também várias igrejas protestantes, algumas inclusive sem o devido reconhecimento oficial, prosperaram e os programas religiosos, em diversas emissoras - principalmente na Marumby, pertencente a um pastor - tem registrado altos índices de audiência junto às classes "c" e "d".
Por isso, não é estranho que algumas promessas bastante originais estejam sendo feitas por torcedores inflamados, quase místicos, desesperados em ver o Brasil vencer a Copa do Mundo, que inicia quinta-feira. Um senhor de 58 anos, modesto porteiro de um dos edifícios comerciais da cidade, prometeu subir, de joelhos, 15 andares, se a Seleção Canarinho conseguir a vitória. Outro, por certo influenciado pelo "Pagador de Promessas (1960, de Dias Gomes, levado ao cinema por Anselmo Duarte em 1962) e o personagem Natalício, da telenovela "O Astro", está disposto a carregar uma cruz de madeira, com 3 metros de altura, do Bacacheri ao Portão, pela Via Estrutural. Se o Expresso não atropelá-lo.
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Sem confirmação, mas bastante comentada, a decisão de uma velha senhora, que há muitos anos acompanha o futebol, desde quando o seu falecido marido jogava no Coritiba F. C. : comparecer a 360 missas, sem interrupção de um dia sequer, a partir do último jogo da Copa - em que o nosso selecionado vença.
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Há ainda dezenas de outros tipos de promessas. Só que a maioria de quem as fez, prefere, de momento, manter-se em discreto anonimato. Afinal o preço do ridículo é mais alto do que a dor da derrota do gramado verde.
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