O som é verde-amarelo com o futebol no Mexicoração
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de junho de 1986
... E o Brasil continua a cantar o hino de Miguel Gustavo, que há 16 anos passados, também do México, fazia o som para o selecionado canarinho chegar a conquista da taça Jules Rimet - sonho tão acalentado pela maior torcida deste País de Futebol.
Agora, as próprias vozes de Leão, Carlos, Paulo, Victor, Edson, Oscar, Edinho, Júnior, Júlio Cesar, Elzo, Alemão, Sócrates, Falcão, Silas, Muller, Casagrande, Careca, Edvaldo, Zico - e até daqueles que foram cortados da seleção - Leandro, Dirceu, Mozer e Cerezo - conduzem "O Mundo é Verde Amarelo", composição de Roberto Nascimento para a entonação do próprio selecionado:
Canta Brasil, ô ô
Que hoje é tempo de esperança
Todo mundo tá na dança
O mundo é verde-amarelo outra vez
Torce Brasil
de mãos dadas com a gente
Com suor, unhas e dentes
Partir pra cima com fé
A vitória é a lei
Juntos Brasil
Vamos arrancar o tetra
Não importa gol de letra
O negócio é a raça
Pra ter na cabeça a coroa de rei!
Explode Brasil
De mãos dadas como hermanos
Faz sorrir aos mexicanos
Cielito lindo outra vez
QUANDO OS CRAQUES CANTAM - Júnior, Sócrates e Zico ao entrarem no estúdio da Transamérica, no Rio, para gravar "O Mundo é Verde-Amarelo" sentiam-se mais seguros. Afinal, Júnior com o "Voa Canarinho, Voa" fez um gol nas paradas de sucesso há alguns anos. Sócrates gravou um lp na RCA (interpretando músicas sertanejas, 1981) - além de dividir com seu amigo Toquinho a faixa "Corinthianas do Meu Coração" (lp "Aquarela", Barclay, 1983) e Zico foi convocado por Fagner, outro apaixonado por futebol, para a gravação de "Batuque na Praia". Mas os demais jogadores nunca tinham pensado em cantar - embora as relações dos craques com a música tenha outros exemplos, inclusive o rei Pelé que, apaixonado pela MPB, chegou até a "cometer" composições e fazer dueto com Elis Regina.
Promovido com um vídeo-clip pela rede TVS - em Curitiba, TV Iguaçu - aliás, rodado na cidade, antes da seleção aqui fazer seu último jogo (contra o Chile com um melancólico resultado de 1 x 1, no Pinheirão, em 3 de maio), o lp "O Mundo é Verde-Amarelo", produção de Genaro, para a Amazon/Top Tape - tem 12 músicas ligadas ao futebol - até uma composição de Júnior - "Show de Bola", interpretada por Flavinho Machado, seu parceiro.
A idéia de apostar na seleção e tornar oficial o hino encomendado ao compositor Roberto Nascimento, o mesmo que fez o hino oficial do México na Copa de 70, foi da agência Estrutural. Essa é, aliás, a terceira investida da agência no esporte, já que seu diretor, Rogério Steinberg é um flamenguista doente.
Conta a jornalista Ciléa Gropillo ( "Jornal do Brasil", 7/6/86), que há dois meses, um bate-boca entre o vice-presidente da CBF, Nabi Abi Chedib e o dono da agência, Steinberg, quase prejudica o projeto com um custo total de Cz$ 3 milhões. Alguém acusou Nabi de querer levar o dele, cerca de Cz$ 500 mil, mas Rogério afirma que não foi ele, e que as declarações devidas sobre o incidente já foram prestadas à CBF. Seguindo os conselhos de seu advogado, Hélio Fisheberg, ele prefere não falar sobre o assunto.
Mas - conta ainda Ciléa Gropillo - não foi apenas esse problema que "rolou" na produção deste disco. Num acordo feito entre a agência e a CBF, os jogadores ficaram com apenas 20% dos 15% destinados a CBF. "Os Canarinhos" não gostaram. Reclamaram e conseguiram aumentar a participação nos lucros obtidos com a venda dos discos para 50%, recebendo antecipadamente Cz$ 50 mil cada um. Satisfeitos, eles gravaram o áudio em Belo Horizonte - quando estavam em concentração, na "Toca da Raposa", depois de ter feito a equipe (30 profissionais) esperar durante quatro dias. Se eles não gravassem, a essa altura o projeto daria um prejuízo de Cz$ 1 milhão. A tiragem inicial foi de 60 mil cópias - que se esgotará se o Brasil for o campeão. Mas que se tornará um tremendo encalhe frente a derrota da seleção.
EXALTAÇÃO E HUMOR - Como nem só de uma faixa com as vozes da seleção pode viver um elepê, o produtor Genaro teve que recorrer a outras composições. E buscou sambas de exaltação, bem alegres, dentro do espírito ufanista do futebol. Assim, intérpretes espontâneos como Carlinhos de Pilares ("Brasil Não Seremos Jamais", "Rola a Bola"), Alceu do Cavaco ("Turma da Seleção" e "O Poeta Mandou"), Jorge Machado ("No Ano da Copa Bota no Meio"), Jorge Alexandre ("Vai Dar Brasil"), trazem sambas espontâneos. Há também a presença das Gatas ("Brasil Bom na Rede") e de formações anônimas - encarregadas das faixas "Sarro na Copa" e "Vibrando Com a Seleção".
Entretanto, musicalmente, o momento mais inspirado é a presença do ótimo sambista e bom cantor Nei Lopes em "A Seleção do Seu Mané!", parceria com Rogério Rossini - autor, aliás de duas outras faixas ("Sarro na Copa" e "Vibrando Com a Seleção").
Buscando a linha humorística, Nei Lopes faz uma espécie de "samba do selecionado doido", cantando aquilo que um técnico maluco poderia imaginar para o nosso selecionado:
Podes crer... / Podes crer...
Seu Mané tomou umas outras / E cismou que era o Telê
Tira Casagrande na camisa 9 e coloca Senzala, Senzala
Pôs um tigre de bengala no lugar do Leão
E no lugar do Careca botou na jogada um cabeludão
E um urubu na posição do Falcão
Para variar Marinho escalou no lugar um azul pavão
Mexendo lá na ponta esquerda / Seu Mané queria convocar Caim
Junto com o sapo para atrair a visão
Para o lugar do Sócrates ele tentou colocar o Platão
E um japonês na posição do Alemão
E no lugar do Branco pôs um tremendo negrão
Podes crer... / podes crer... / Seu Mané tomou umas outras
E cismou que era o Telê (refrão!)
Mas o bicho quase pega / Quando o Mané passa intirite
Quis botar dinamite na nossa seleção
Ascendeu o pavio / Acabou provocando uma baita explosão
Arrebentou a boca do pacotão
Mas no final das contas
O Brasil foi campeão.
MEXICORAÇÃO - Sem muitas músicas inéditas, mas trazendo, em compensação, algumas das mais populares músicas ligadas ao tema futebol, "Mexicoração", produção da Sigla/Som Livre, é um dos discos mais vendidos da temporada. Afinal, abre com "Mexe Coração", escolhida pelo Sistema Globo de Rádio e Televisão como o hino da Copa, interpretado por uma anônima formação de estúdio - chamada apenas de "Turma da Seleção". Em seguida, o clássico "Pra Frente, Brasil", de Miguel Gustavo (Werneck de Souza Martins, RJ-24/3/1922-22/1/1972), que, desde a Copa de 1970, no México, é o grande clássico. Toninho Paladino, produtor do álbum, fez boas escolhas para montar este elepê: Júnior, com sua experiência de cantor do sucesso "Voa, Voa Canarinho" comparece com "Povo Feliz". A gostosa "Meu Canarinho" de Luiz Airão - do seu último lp (Copacabana) volta neste lp e a linda voz de Gal Costa, contratada por US$ 1 milhão pela Souza Cruz para uma campanha publicitária do Hollywood tem o jingle-canção da caríssima campanha - "70 Neles" - abrindo o lado 2 do disco. O grupo ainda traz Os Incríveis ( "Gôoooo-aôooo! Brasil!"), Golden Boys ("Sou Tricampeão"), Santa Cruz ("Bola Pra Frente"), o Coral de Joab ("Corrente 78"), os anônimos grupos Coral do Caneco ("Pra Frente Brasil", "A taça do Mundo É Nossa") e o Gool 86 ("Eu Acredito Nesse Time").
LEGENDA FOTO 1 - 90 milhões em ação, pra frente Brasil do meu coração!
LEGENDA FOTO 2 - O selecionado canarinho ataca de música: "O Mundo É Verde-Amarelo", ufanista composição de Roberto Nascimento, registrado durante a concentração dos jogadores, em Belo Horizonte - e que é a primeira faixa do lp produzido pela Estrutural/Top Tape.
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