A queda do império de Chateaubriand
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de abril de 1991
A queda do império Associado a partir da morte de Assis Chateaubriand com a entrega do comando da rede nacional dos "condomínios" divididos por disputas internas, de poder e interesses imensos, se refletiria no melancólico final da empresa no Paraná.
Exatamente 54 dias após o falecimento do fundador do "Diário do Paraná", Adherbal Stresser, seu único filho, Ronald Sanson Stresser, então com 27 anos, no comando da empresa, afastava-se definitivamente dos Associados por divergências com os condôminos - especialmente Edmundo Monteiro, de São Paulo, "que há tempos já vinha retirando, para suprir os déficits nas empresas em São Paulo e Rio de Janeiro, o que produzíamos no Paraná", lembra hoje, sem mágoas, mas com muita clareza, Ronald. Em 10 de dezembro de 1973, quando o Sr. Walter Mazzella já havia se instalado numa das salas da TV Paraná, em suas novas instalações, no Pilarzinho, Ronald deixou a empresa. Afirma:
- "Até aquele momento, tanto o jornal como a televisão, estavam com suas finanças equilibradas. Pagamentos de salários, encargos, impostos, etc., tudo em dia e ainda créditos a receber. Mesmo sofrendo com a verdadeira "rapina" que já vinha acontecendo nas empresas associadas para suprir os buracos sem fundo em São Paulo, tínhamos controle da situação".
Houve, então, uma fase sobre a qual não existem dados facilmente disponíveis, mas que envolvem denúncias, críticas e que teve um resultado melancólico. Um empréstimo concedido pela Caixa Econômica Federal (enorme para a época) de Cr$ 20 milhões, teve como garantias a sede da empresa no Pilarzinho e o edifício residencial que havia sido construído na Rua André de Barros, com o nome de "Diário do Paraná".
O empréstimo não foi honrado, e com o debacle dos Associados - restando apenas os jornais e as TVs em Belo Horizonte e Brasília - a empresa mudou de dono.
O jornalista Carlos Danilo Cortes, 60 anos, que foi o último chefe de redação do jornal, pretende dedicar a partir de maio, "num mínimo de 3 horas" para escrever o há muito prometido livro sobre o jornal em que trabalhou por mais de 20 anos. Testemunha ocular de sua ascensão e decadência, Danilo estava na redação a 13 de janeiro de 1983, tentando fazer circular mais uma edição com todas as dificuldades, quando o último proprietário do jornal, o industrial Bento Chimelli (*), lhe comunicou de sofreguidão:
- "A partir de amanhã, o "Diário do Paraná" deixa de circular".
"O Estado do Paraná", no dia seguinte, foi o único jornal a registrar a morte do "DP", pois nem sequer a chance de fazer uma edição de despedida foi dada a Danilo, e aos últimos profissionais que, há dez anos, vinham tentando ainda manter o "Jornal da Família Paranaense" - como era chamado o diário que marcou 28 anos da imprensa local.
Nota
(*) Bento Chimelli havia adquirido o jornal após o mesmo ter sido vendido pelo interventor dos Associados, Walter Mazzella, a Oscar Martinez este, por sua vez, ficaria apenas com a televisão Canal 6, e passaria o jornal adiante - quando assumiu Odone Fortes, hoje editor do jornal "Indústria & Comércio" (que fundou em 2 de setembro de 1976). Nos últimos anos, vários grupos, representados por diferentes empresários, políticos e mesmo jornalistas - Wilson Camargo, Affonso Camargo, o próprio Ronald Stresser, entre outros, sucederam-se na tentativa de fazer o jornal voltar aos seus anos de poder e glória. Bento Chimelli, último a assumir o título e o que restava de equipamento, redação e entusiasmo, fundou em 10 de janeiro de 1983 a "Folha de Curitiba", quando então decidiu pela total paralisação do "Diário do Paraná".
LEGENDA FOTO - Assumindo o imóvel - como garantia de empréstimos de Cr$ 20 milhões não cobertos - a Caixa Econômica Federal até hoje não pode dar nenhuma utilização à área construída de quase 7 mil metros quadrados.
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