A época em que o Carnaval tinha a sua melhor música
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de abril de 1991
Para compensar o total aniquilamento da música carnavalesca - hoje reduzida aos sambas-de-enredo, cada vez mais comerciais e construídos na base de linha de montagem industrial - felizmente a Moto Discos vem reeditando, em duas séries, os grandes sucessos dos carnavais do passado - inclusive com direito a um CD colocado a venda neste ano.
Somando-se as diferentes séries, com material de várias origens, já existem vinte títulos - com mais de 200 marchas, sambas e algumas marcha-ranchos que cobrem os carnavais dos anos 30 a 50, reunido praticamente todos os artistas que anualmente não deixavam de entrar na saudável guerra pela preferência dos foliões.
Por exemplo, o volume um de "Os Grandes Carnavais do Passado", sem obedecer ordem cronológica, abre com Carlos Galhardo em "Mariana" (1935), passa para Nilton Paz ("Quem Vê Cara", 1939), traz o catarinense Nuno Roland em "Mangueira em Férias" (1948), e chega até um sucesso que Jorge Goulart emplacou há 40 anos ("Sereia de Copacabana").
Já o volume dois demora-se nas campeoníssimas Emilinha Borba e Marlene - inclusive num raro duelo criado pelas arquirivais em 1949 ("Eu já Vi Tudo"). Orlando Silva, em sua condição de cantor do primeiro time, ganhou um elepê todo seu, para desfilar ao menos 12 das marchas e ranchos que popularizou em seus anos de glória. Mas há também curiosidades, como de outro Orlando - o melodramático Dias (1923-1988), que em 1958 gravou um umbandista "Saravá", de Zilda do Zé e Carvalhinho que não teve, ao que parece, boa vontade dos Orixás carnavalescos: passou sem qualquer sucesso.
A riqueza da música carnavalesca, generosamente registrada nesta coleção da Moto Discos, possibilita que se tenha uma visão maior de todo o sentido social-político-econômico da maior festa popular do Brasil - ainda merecedora de muitos estudos para se ter a dimensão de sua importância para a nossa cultura popular. Pode-se dizer que através da audição de álbuns-antologia como os que vem sendo produzidos por Francisco Almeida Aguiar, constituem um complemento indispensável para a leitura dos fundamentais livros de Eneida e Edgar de Alencar sobre o Carnaval Carioca.
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