Sambistas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de julho de 1976
Além de ser uma mulher bonita, comunicativa e hoje uma das artistas que mais fatura no Brasil, a mineira Clara Nunes veio provar que o sambão pode vender muito. Aliás, quem convenceu Clara de seguir este caminho foi seu ex-noivo, o paranaense Adelsom Alves. E com Clara vendendo mais de 400 mil cópias de cada elepe que grava, é natural que outras gravadoras busquem cantoras no mesmo estilo. A RCA Victor convenceu a excelente Beth Carvalho a deixar a Tapecar e agora a Continental lança uma nova sambista, na mesma linha de Clara: Renata Lu. Nascida e criada em Senador Vasconcelos, subúrbio carioca da Central do Brasil, Renata antes de chegar aos sambas da Mangueira e Portela, esteve perdida entre versões de rock, boleros e outros supérfluos.
Aos 22 anos, Renata já tem uma relativa experiência: começou no programa "A Grande Chance" da TV Tupi e chegou a fazer um LP que "agora quero esquecer". E, brasileiramente, se propõe a partir de agora, do lp "Sandália de Prata" (Continental, 1-01-404-131, junho/76). É um elepe válido que poderia ser ótimo: faltou ao produtor Jorge Coutinho, responsável pelas noitadas de samba do Teatro Opinião, maior experiência para fazer um disco forte, como por certo um produtor da sensibilidade de Herminio Belo de Carvalho ou mesmo Sergio Cabral conseguiria. Renata Lu, que em 72 venceu o II Encontro Nacional do Compositor do Samba, com "Quero Sim" (Darci da Mangueira/ Lecy Brandão) é uma cantora de voz agradável, embora por demais apegada ao estilo (de sucesso) de Clara Nunes. Isso, entretanto pode ser superado. E, felizmente, o repertório escolhido para este LP de estréia não poderia ser melhor. Temos sambas do grande Cartola ("Arremedo de um Nada", em parceria com Ismael Silva), Ismael Silva ("Meu Único Desejo"), Heitor dos Prazeres ("Mulher de Malandro"), Nelson Cavaquinho - Guilherme de Brito ("Erva Daninha"), Antonio Candeias Filho (Candeia) e Wilson Moreira ("Afirmação) e do grande Carlos Cachaça (Carlos Moreira de Castro - e não Carlos Aguiar Moreira, como está no encarte do disco) ("Vingança"). Mas outros excelentes compositores populares, embora menos populares também foram reunidos no elepe: Noca Osvaldo Alves Pereira) e Edinho (Edson Correa dos Santos) com "Onde A Cobra é Bicho Manso" o inédito maxixe "Zomba" de Alvarenga (fundador da Portela) e Chandico, "Oto Henrique Drep com "Vem Amor", Pandeirinho (Osvaldo Vitalino) em "Pense Bem" e, a faixa mais comercial (e inexpressiva) do lp, "Sandália de Prata" (David Corrêa - Bebeto Di São João).
Renata Lu é, por enquanto uma promessa. Uma vela promessa para o Samba. Esperamos que, na próxima vez, tenha sorte de encontrar um produtor mais cuidadoso e fazer então um excelente elepe. Como amostra, tudo bem.
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