Sambistas & pagodeiros
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de agosto de 1987
JORGINHO DO IMPÉRIO (RGE) - Filho e herdeiro das melhores tradições musicais de Mano Décio da Viola, Jorge Antônio Carlos, o Jorginho do Império, tem mais de 30 anos de quilometragem de samba. Portanto, sabendo das coisas, sabe como montar um disco de samba, capaz de chegar ao seu público - buscando a afetiva homenagem "No Colo de Minha Mãe" (Beto Sem Braço / Serginho Meriti), a faixa de raízes, como "Pai João", de pesquisa em rodas de Jongo e Caxambú ou o romantismo do crioulo faceiro - "Confissões de Amor" (Luisinho de Souza), que é tão explícita em louvar "a loucura do grande amor livre de preconceitos e receios" que acabou proibido para execução pública.
LECI BRANDÃO ("Dignidade", Nova Copacabana) - Sempre foi compositora mas ao longo de sete elepês em mais de 12 anos de carreira tem cometido resvalões. Agora, reencontra uma boa linha, na qual enaltecendo a mulher e a negritude, com bons arranjos do maestro Ivan Paulo, faz quase um disco-manifesto, comparando a situação dos negros brasileiros e sul-africanos ("Lá e Cá"), exaltando os sambistas paulistas ("Me Perdoa, Poeta", a partir da frase em que Vinícius disse que São Paulo era o "túmulo do samba"), ironizando a Nova República ("Nova Manhã") e atacando de pagode ("Vai Ter que Aturar"). Mas ao lado de suas músicas, Leci buscou também outros bons compositores como Noca da Portela ("Gratidão"), Sombra / Sombrinha ("Lindo Véu"), Acir Marques / Luís Carlos da Vila ("Fogueira de uma Paixão"), fazendo um disco que, repetindo um chavão tão usado pelas cantoras, mas no caso justificável, pode dizer: "É o melhor de minha carreira!".
OS ORIGINAIS DO SAMBA ("A Malandragem Entrou em Greve", Nova Copacabana) - Chegando aos 25 anos, as naturais substituições não alteram o estilo gaiato, alegre e descompromissado deste grupo que tem lutado para fazer o samba chegar as paradas. Dos tempos do "side-men" (ou "voices"?) de Martinho da Vila ficou o bom gosto pela escolha de um repertório sempre maneiroso, capaz de emplacar no agrado popular - como souberam fazer tantas vezes.
ZECA PAGODINHO ("Patota de Cosme", RGE) - Representou a volta do samba as paradas. Nas ondas do Pagode, tornou-se a estrela maior em termos de vendagem, e não podem ser negadas sua simpatia, bonita voz e comunicabilidade. Neste seu novo elepê, Zeca Pagodinho (José Gomes da Silva Filho, 28 anos) com participações especiais como de Luís Carlos de Pilares ("Patota de Cosme"), Arlindo Cruz ("Sem Endereço"), Mauro Diniz (um potpourri de partido-alto), ao lado de inspirados sambas de Nei Lopes ("Tempo de Don-Don") e o seu social "Menor Abandonado".
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