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Aramis

Sendero Luminoso e assassinato de dom Romero nas telas do IV FestRio

Fortaleza São dois os temas dos seminários que estão sendo realizados paralelamente ao FestRio-Fortaleza: "O Cinema e a Questão Social" e "A Revolução Francesa e o Cinema". Dentro destas temáticas mais de 20 filmes especiais foram selecionados pela coordenadora do evento, a jornalista e videomaker Cláudia Furiati, para permitirem ao público interessado em ver grandes momentos do cinema como elemento vivo e eterno de reflexão sobre a sociedade, sua questão social e aspectos da revolução francesa - cujo bicentenário comemorou-se este ano. "O Cinema e a Questão Social" trouxe filmes que jamais chegaram aos circuitos comerciais - como "La Hora de los Hornos", que o argentino Fernando Solanas ("Tangos - o exílio de Gardel", "El sur") realizou (com enormes dificuldades) há mais de dez anos, numa reflexão profunda sobre a Argentina - seus contrastes sócio-econômico-políticos, também observada em outro filme inédito, "Patagônia Rebelde" - enquanto "Actas de Marúsia" (do chileno Miguel Littin, este já lançado comercialmente no Brasil e exibido em Curitiba no Cine Groff) denuncia um massacre de mineiros ocorrido no Chile no início do século. Entretanto, o filme de maior impacto entre os que fazem abordagem de problemas latino-americanos é, sem dúvida, "La Boca del Lobo", um bem acabado co-produção peruana-espanhola, levada (e premiada) em festivais internacionais (inclusive o de Havana-88) e que por isto não pode disputar os Tucanos. Dirigida por Francisco Lombardi, que anteriormente havia feito outro elogiado longa-metragem ("La Ciudade e los Perros", também inédito no Brasil), "La Boca del Lobo" foi considerado um dos melhores filmes apresentados na XIII Mostra Internacional de Cinema de São Paulo mas, como tantos outros filmes que ali tiveram exibição, não foi incluído pelo crítico e empresário Leon Cakoff, que, ao custo de NCz$ 200 mil, levou Curitiba na primeira quinzena de novembro. O que foi lamentável: "La Boca del Lobo" reconstituiu um fato recente, 1983 - o massacre de dezenas de velhos, mulheres e crianças, numa pequena aldeia dos Andes, metralhados por soldados peruanos, que comandados por um tenente fanático, são acusados de serem colaboradores do movimento guerrilheiro Sendero Luminoso - o que não era verdade, conforme jornalistas internacionais denunciaram algum tempo depois. Reconstruído como um filme direto, seco, mas com elementos que lembra "Platoon" de Oliver Stone o soldado ingênuo que se choca com a brutalidade de seus superiores, "O Franco Atirador" de Michael Comino (uma tensa seqüência final, em que se faz um mortal jogo da roleta russa) e mesmo do último filme de Brian de Palma quando uma jovem camponesa é violentada por um militar (naturalmente nem visto pelo diretor Lombardi, quando realizou seu filme). A denúncia que Lombardi faz a brutalidade dos militares contra a população civil, do Peru, a propósito do combate aos subversivos é correta, sem maniqueísmos: em momento algum coloca em cena os integrantes do Sendero Luminoso, evitando, assim, tomar um partido defensivo da organização que há anos luta naquele país - mas denunciando, isto sim, a violência do Exército - de certa forma num símbolo do que ocorre em tantos países da América Latina. Se a "Boca do Lobo", mesmo tendo sido levado a festivais internacionais dificilmente encontrará quem se acoraje a distribuí-lo no Brasil, outro vigoroso filme de temática política, aqui tendo sua primeira exibição, estará no circuito comercial dentro de algumas semanas: "Romero". LEGENDA FOTO - Com Raul Julia no personagem-título, "Romero" é um dos filmes políticos trazidos para a mostra informativa: aborda a ação (e o assassinato) do arcebispo de El Salvador, dom Romero.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
29/11/1989

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