Tatara
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de abril de 1978
João Gilberto Tatara, 31 anos, curitibano das Mercês, é um moço que (ainda) acredita na musica e na poesia. Como o seu (famoso) homônimo baiano, gosta de tocar um violão e cantar. E sua lírica não fica apenas nas letras para músicas da madrugada mas resulta também em poesias de diferentes fases.
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Os poemas sugeridos pela vida e amor, alegrias tristezas, reunidos nestes últimos 10 anos, foram retiradas do fundo da gaveta e resultaram num livro ("Marcas-Velhas e Novas", 110 páginas, edição do autor), lançado há uma semana e que vem sendo vendido diretamente, por João Gilberto, na esperança de recuperar os Cr$ 25 mil que lhe custou a impressão, feita por A . M. Cavalcanti. Como tantos outros poetas da cidade, Tatara só viu na auto-edição a forma de fazer com que sua lírica deixasse de ser inédita.
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As poesias de João Gilberto Tatara Falam de seu universo amoroso, de suas noites, de suas indagações. Algumas poesias ganharam música, outras não - principalmente as mais longas. Mas não fala apenas de amor. Em uma das mais bem-humoradas páginas, dedica uma caústica poesia a sua "ex-querida futura sogra", que classifica de : "Eta bruxa velha/Pelo desejo de se fazer saber o que não é/Se meteu em todos os meus segredos/ de me causar até medo/ que se esconde do mundo/. Como se fugisse de uma guerra/que ainda não findou/Vive rodando em volta de si mesma/aumentando suas rugas/de lhe fazerem tapar/o-zóios/de não poder ver/que destruiu a pureza desta vida/o amor". E os versos prosseguem, violentos: "Você-/vil ser humano/que não entende minha linguagem/e linguagem/se entregou com toda voragem/de quase acabar com minha coragem/Se enraizou pelos cantos mais escuros/de uma frágil sabedoria/de não ter ninguém/ninguém/a quem contar sua triste historia".
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