Terror, o marketing da Empire para o cinema-86
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de março de 1986
Dentro de três semanas acontece a mais aguardada festa do cinema mundial: a entrega do Oscars - mágica noite de entretenimento e marketing cinematográfico que do Dorothy Chandler Pavillion, em Los Angeles, é acompanhado, via satélite, pela TV, por milhões de cinemaníacos espalhados por todo o mundo. Desde 1927 que a indústria cinematográfica americana tem nesta promoção da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood o seu grande ponto-de-vendas, pois a simples nomination ao dourado boneco significa projeção, fama e fortuna aos indicados. E as categorias são muitas, para satisfação de vaidades e interesses mil.
A festa do Oscar faz com que as grandes produtoras guardem para as próximas semanas o lançamento internacional - incluindo o Brasil - dos filmes favoritos, pois a grande promoção está justamente na festa. Por exemplo, "O Beijo da Mulher Aranha", do argentino-brasileiro Hector Babenco, concorre em 5 categorias - e no dia 20 de março tem seu lançamento nacional - em Curitiba, no Palace Itália, o mesmo cinema que, no ano passado, exibiu por três meses o grande premiado "Amadeus".
Mas não vamos falar do Oscar em si - cuja relação dos candidatos já foi divulgada há várias semanas. Vamos falar de filmes que ainda estão em produção, dentro de uma linha comercialmente das mais atraentes: o terror e a ficção-científica.
PARA ASSUSTAR AS PLATÉIAS - Da imensa produção cinematográfica internacional, menos de 30% chega as telas do Brasil. Afinal, as restrições para a importação dos filmes estrangeiros começam no aspecto econômico - ainda bem, para a proteção de nosso cinema. Assim, só filmes de público garantido, capazes de obter boas rendas é que tem sido aqui lançados - exceto, naturalmente, as produções que, participando e sendo premiadas em festivais dos mais importantes (Cannes, Veneza, Berlim), ou chegando a terem indicações ao Oscar, ganham, indiretamente, a grande promoção.
Impressionante o marketing aplicado ao gênero terror na produção americana nestes últimos anos. Folheando-se a "Variety" - bíblia da indústria cinematográfica americana - observa-se semanalmente a investida que produtores independentes - e pequenas empresas (se comparadas aos grandes grupos do setor), vem fazendo no setor, buscando, cada vez mais, o fantástico, o chocante, o incrível, em filmes nos quais os mais notáveis efeitos especiais são utilizados.
Por exemplo, uma pequena produtora - até agora sem distribuição no Brasil - a Empire - investiu milhares de dólares na pré-promoção de uma produção que só começará a ser rodada a 1º de Maio: "Decapitron - The Devastion Criation".
Produzido por Charles Band, com roteiro de Paul De Meo e Mac Ahlberg, "Decapitron" é anunciado como "o mais ambicioso, extravagante e tecnicamente superior produção" do ano, com utilização de computadores e efeitos laser em sua realização. Uma história fantástica, em torno de uma criatura com poderes extraordinários - meio máquina, meio homem - "Decapitron... The Devastation Creation" é a ponta de lança de um pacote de filmes que somente serão lançados, mesmo nos Estados Unidos, no final de 1986 ou princípios de 1987.
DIABINHOS, MONSTROS... - A mesma Empire International traz uma série de outras produções na linha do terror, com monstros que vão desde simpáticas criaturas - tipo "ET" - até plágios descarados das criações de Spielberg, como "Ghoulies II" - na mesma fase dos "Grenlins", que, há 3 anos, foi o grande êxito de bilheteria.
Por exemplo, "Troll" traz imagens terríficas de monstros que deixariam qualquer autor de histórias fantásticas de 20 anos passados parecendo um ingênuo contador de contos de fada. "Xone Troopers", lançando um novo diretor - Danny Bilson - traz um poster-imagem que lembra aquele famoso cartaz de Tio Sam, apontando o dedo para o jovem americano e dizendo "I Want You" - tão usado pelo Exército americano durante a II Guerra Mundial para convocar os americanos dispostos a lutarem contra nazistas e japoneses.
Outro filme de terror da Empire - "Terror Vision" é um desfile de monstros disformes, criaturas assustadoras - contracenando com jovens intérpretes - aliás, uma das características do cinema comercial que se faz nos Estados Unidos nesta década: aproximar adolescentes em todas as estórias, como uma ponte para reconquistar o público na faixa dos 10/16 anos que, entre os anos 60/70 foram praticamente expulsos das salas de exibição devido a preocupação exclusiva de produção de "filmes adultos".
Um autor de ficção-científica dos mais prestigiados, já com alguns títulos editados em Português - H. P. Lovecraft - teve duas de suas fantásticas histórias levadas a tela em produções da Empire: "Re-Animator" e "From Beyond". Mas a produção de horror não acaba aí, pois Charles Band e Robert Bessi, os dois principais executivos da Empire estão com uma linha das mais diversificadas: há três meses foi iniciado "Ghost Town"; em princípios de março começa a ser rodado "Journey Through The Dark Zone"; para junho está previsto a produção de "Murdercycle" - um fantástico filme sobre motoqueiros infernais do futuro, as exteriores de "The Doll" já foram concluídas e "Mutant Hunt" encontra-se em fase de montagem.
São filmes trazendo intérpretes novos - todos desconhecidos - assim como seus realizadores. Mas as fichas técnicas destacam, em primeiro lugar, o trabalho dos responsáveis pelos efeitos especiais. Realmente, a julgar pelos posters promocionais - alguns dos quais ilustram a página de hoje - parece que muito mais do que a preocupação de cinema, há na linha de terror da Empire, uma busca de efeitos especiais e imagens chocantes para testar o estômago e a coragem dos espectadores que se encorajarem a entrar nos cinemas em que suas fitas venham a ser exibidas. Mas o público é um sofredor por natureza e adora pagar ingressos para levar sustos.
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