Afinal, a volta de Dionne com os amigos talentosos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de março de 1986
Estava mesmo na hora. Milhares de pessoas que nos anos 60 tanto curtiram Dionne Warwick interpretanto hits como "Anyone Who Had A Heart", "Walk On By", "Reach Out For Me", "A House Is Not A Home", "Do You Know The Way To San Jose" e, especialmente, "I'll Never Fall In Love Again", e "Alfie" lamentavam, nestes últimos anos, os novos rumos que a excelente intérprete havia dado à sua carreira. Ligada a outros compositores e produtores e discutíveis volteios no gênero pop, a afinada crioula deixava saudades dos tempos em que era a grande intérprete das canções de David Bacharach e Hal David.
É bem verdade que David separou-se de seu parceiro e após seu divórcio da atriz Angie Dickinson (as mais belas pernas de Hollywood dos anos 60) encontrou em Carole Bayer Sager não só a sua nova companheira de cama, mas também a parceira precisa.
Agora, em seu sétimo lp pela Arista ("Friends", distribuído no Brasil pela RCA), Dionne reencontra o grande Burt Bacharach, produtor, arranjador e autor (com Carole) de quatro das melhores faixas: "That's What Friend Are For", "Stronger Than Before", "How Long?", e "Extravagant Gestures". Fazendo jus ao título do lp - e numa tendência que também existe em alguns superstars do Brasil (Ivan Lins, Chico, Edu, etc.), qual seja a de reunir amigos e dividir faixas, na faixa de abertura, apropriadamente chamada de "That's What Friend Are For", à voz de Dionne juntam-se às de Elton John, Gladys Knight e Stevie Wonder - com quem, aliás, havia comparecido, há 2 anos, na trilha de "A Dama de Vermelho" (igualmente aqui editada pela RCA).
A exemplo de tantas outras black-singers, Dionne começou cantando gospels em corais de Igreja e com uma irmã e prima logo formou seu próprio trio - "The Gospelaires", quando ainda estudava no Hartt College Of Music. Burt Bacharach notou sua prodigiosa voz e a fez a grande estrela dos anos 60, gravando dezenas de sucessos, estrelando um musical na Broadway ("Promisses, Promisses") e chegando ao Olympia, em Paris, com auspícios de Marlene Dietrich, de quem Burt havia sido pianista e amante.
Numa carreira paralela à de Diane Ross, Dionne Warwick escalou posições, colecionou discos de ouro e foi a primeira cantora nomeada como "Woman In The Year" pelo Hasty Pudding Club de Harvard. Contratada da Warner, durante algum tempo seus discos mostraram uma queda de qualidade nas canções - o que agora, neste sétimo lp que faz para a Arista, reconquista, graças especialmente às presenças de Bacharach, Wonder ("Moments Aren't Moments") e mesmo talentosos parceiros novos, como Roberts/Bronsman ("Whisper In The Dark"), Foster/Gordon ("Love At Second Sight") e Navarro/Bryant ("Remember Your Heart").
Ativíssima profissional - possui sua própria etiqueta, faz projetos especiais para televisão e cinema, participou do "Live Aid" e "USA For Africa" ("We Are The World") - Dionne ainda formou um grupo de caridade - o Bravo (Blood Revolves Around Victorious Optismism), dedicado a pesquisas e tratamento de doenças de sangue.
Aos 45 anos, esta americana de East Orange, New Jersey, mostra estar em plena forma, cantando bonito e com um repertório como nos bons tempos. "Friends" mostra que nada como bons amigos para um disco suave e enternecedor.
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