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Aramis

Geléia Geral

Trancinhas, crioulo, - com um nome francês - Terence Trent D'Arby, o novaiorquino Terence Trent D'Arby (15/3/1962), filho de pai pastor evangélico e mãe professora de psicologia e cantora de gospel, é novo cantor-cult na Inglaterra e que chega agora ao Brasil com seu primeiro lp ("Introducing the hardline according to Terence Trent D'Arby", CBS). Já foi boxeur, estudou jornalismo e quando servia o Exército em Berlim acabou desertando e exilando-se na Inglaterra onde em julho último, com seu elepê de estréia, atingiu um milhão de cópias vendidas. Como diz um entusiasta de sua voz, Jean-Yves de Neufville, vocalmente Terence é capaz de passar com desenvoltura por uma escala de tonalidades invejáveis. Autor de dez das 11 faixas do lp, Trent D'Arby não esconde influências negras (James Brown, Marvin Gaye, Curtis Mayfield, Ottis Redding, Stevie Wonder), mas conservando sua própria personalidade. xxx Em setembro, no pacote de edições nostálgicas produzidas em convênio com a Cadeia Breno Rossi, a CBS lançou dois discos-documentos. O primeiro foi a histórica apresentação que Marlene Dietrich fez no Golden Room do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, quando era acompanhada ao piano por um jovem pianista chamado Burt Bacharach - que além de arranjador e maestro, era o seu amante. A passagem de "La" Dietrich pelo Rio tem histórias deliciosas - que o Simão de Montalverne, jornalista dos mais atuantes na noite carioca nos anos 50, hoje vivendo tranqüilamente em Curitiba, pode contar. O disco é um documento marcante com Dietrich cantando clássicos de seu repertório, incluindo até uma homenagem ao Brasil: "Luar do Sertão", ao lado de "My Blue Heaven", "Look me over closely". Atenção: "Lili Marlene" não está no disco. xxx O segundo álbum histórico da CBS é uma homenagem aos 60 anos do cantor Johnny Ray (1927, Dallas, Oregon). Ignorado pelos mais jovens, Ray foi o criador de um dos maiores sucessos dos anos 50: "T'he Little White Cloud Cried". Com um estilo de blues, uma voz marcante, Johnnie Ray há anos não tinha um disco no Brasil, de forma que a edição deste "Greatest Hits" possibilita que se possa conhecê-lo em alguns momentos brilhantes como "All Of Me", "Broken Hearted", "Hey T'here" e, muito especialmente, "Alexander's Ragtime Band", um dos hits de Irving Berlim - o compositor americano (nascido na URSS) que comemorará no próximo dia 11 de maio, nada menos que um século de vida. xxx Ao lado de Dominguinhos (José Domingos de Morais, 46 anos , o acordeonista Oswaldinho (33 anos, filho de veterano Pedro Sertanejo), foi o músico de raízes nordestinas que soube aproveitar o espaço exigente para o seu instrumento normalmente visto com preconceitos. Resultado: 14 elepês gravados e há cinco anos fazendo apresentações em festivais de jazz na Europa. Em seu novo disco ("Loro", 3M), Oswaldinho mostra porque seu belo trabalho instrumental tem funcionado no Exterior, começando por fazer uma releitura do clássico "Loro", de Gismonti - que dá título ao disco, revisitando "Aquarela do Brasil", fazendo em "Beija-Flor" um forró urbano no estilo de seu ídolo Hermeto Pascoal. Regravou ainda seu "Jeito Barroco", forró com frases de Bach, agora numa versão que passa também pelo samba e pelo jazz (e pode-se comparar ouvindo-se seu lp "Forró 2000" de 1981). Gaiteiro desde os 5 anos, mas com estudos em conservatório, Oswaldinho é um instrumentista eclético, que no lado dois do disco mostra seu lado de "músico do mundo" com cinco composições inéditas: "Pindura a Saia" (Sá e Guarabira), com a participação vocal da dupla); "Fruta de Estação", "Nó Cego", Beijo Carmin" e "Mulé Macho". xxx Os 50 anos da morte de Noel Rosa (RJ, 11/12/1910-5/5/1937) não tiveram as comemorações merecidas. Afora o show do grupo Coisas Nossas que sob auspícios do SESC percorreu o Brasil (mas que não chegou a sair em disco) e o show-disco do grupo MPB-4, pouco se fez em homenagem ao nosso compositor maior. Por isto, palmas à Continental que além de ter lançado o disco do MPB-4, montou ainda "Uma Rosa Para Noel" (50 Anos Depois), com Arthur Costa interpretando "Positivismo" e "Mentiras de Mulher"; Leo Vilar em "Coisas Nossas" e "Devo Esquecer"; Ismael Silva (1905-1978), seu grande parceiro, em "Vejo Amanhecer"; e mais gravações originais de Noel em "Mulher Indigesta", "Felicidade" e "Gago Apaixonado". Faltou, obviamente, um encarte explicativo (não há sequer informações sobre as datas das gravações originais), como aqueles que João Luiz Ferreti tão bem fazia para suas produções na mesma Continental há alguns anos. Entretanto, na pobreza de homenagem a Noel, melhor este disco do que nada. xxx Bela, suave, afinada, Jane Duboc ainda não ganhou o espaço merecido na MPB. Ela já morou nos EUA, dividiu shows com gente de competência (Toquinho, por exemplo) e chega agora ao seu quarto lp (Continental, outubro/87) ainda à espera de um reconhecimento maior. Pode-se dizer que Jane foi quem criou músicas como "Manuel, o Audaz", "Tentação" e "Que Outro Dia Amanheça", mas lhe faltou ainda aquele impulso maior para colocá-la entre as grandes cantoras, como merece. Neste seu quarto elepê, das doze composições, nove são de mineiros: "As Cores" (Tunai/Sergio Natureza), "Natural" (Milton Nascimento/Fernando Brant), "Além de Nós" (Toninho Horta/Márcio Borges), "Contos da Lua Vaga" (Beto Guedes/Márgio Borges) etc. Em parceria com Lula, Jane Duboc também mostra sua admiração pelas Alterosas em "Minas em Mim".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
13/12/1987

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