A bela vanguarda de Bartok e Satie
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de dezembro de 1987
Compositores que transpuseram as fronteiras do erudito para em suas épocas beirarem a vanguarda, Erik Satie e Bela Bartok são dois dos compositores que mais tem chegado aos jovens músicos, interessado também em renovar a música. Por exemplo, o londrinense Arrigo Barnabé se confessa um fã ardoroso tanto do húngaro Bela Bartok (1881-1945) como do francês Erik Satie (Alfred Erie Leslie Satie, 1866-1925).
Bartok viajou muito como pianista concertista e foi um pesquisador da música folclórica do Leste europeu e do mundo árabe, descobrindo que a verdadeira música popular magiar era muito diferente do estilo cigano. Sua música incorporou o som da música folclórica, sem citação literal, ao lado de harmonias dissonantes, cromatismo e grande vitalidade contrapontística e rítmica. Emigrando em 1940 para os EUA, morreu pobre e esquecido. Já Satie foi uma espécie de hippie do início do século: tinha fama de preguiçoso e só aos 39 anos se matriculou na Schola Cantorum para estudar fuga e contraponto com d'Indy e Roussel (1905-1908). Na década de 1980, tornou-se compositor da Sociedade Rosacruz em Paris e foi pianista de café e teatro. Amigo do poeta Cocteau, do pintor Picasso, Satie deixou uma música marcada pela clareza de harmonia e tessitura e pelo equilíbrio melódico. Mas o humor sempre marcou suas obras, com títulos bizarros, sucessivos comentários, figurando, por vezes, na música impressa. Satie influenciou muitas gerações, desde Debussy e Ravel até a avant garde dos anos 50 e continua a entusiasmar aos que (re)descobriram sua genialidade - unida a sua vida boêmia e fascinante.
A Polygram vem de editar agora um álbum precioso a quem deseja conhecer mais a obra de Satie: com o pianista Reinbert de Lecuw, que a partir dos Festivais da Holanda, há 15 anos, começou a se projetar como intérprete criativo da obra do autor francês, temos quatro das peças mais interessantes de Satie. No lado um a "Gnosianas" (22:24') e no lado dois a Pequena Abertura para Dançar (2:19), o prelúdio da porta heróica do céu (5:39) e as Danças Góticas (13:33).
De Bela Bartok, temos uma preciosa gravação: a Orquestra de Câmara Ferenc Liszt, de Budapest, sob a regência de János Rolla, executando duas de suas obras mais marcantes: "Música para cordas, percussão e Celesta, em quatro movimentos e o Divertimento para Orquestra de Cordas.
A edição deste álbum - mais um meritório trabalho da Imagem, do bravo Jonas Silva - possibilita o conhecimento de sua "Música para Cordas", obra que Bartok escreveu a pedido do regente Paul Sacher para comemorar o décimo aniversário da Orquestra de Câmara de Basiléia. A primeira audição pública deu-se a 21 de janeiro de 1937 - portanto há 50 anos, o que torna o lançamento duplamente importante: por trazer mais uma peça de Bartok e também pela efeméride que marca.
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