A música de Satie / Joplin
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de maio de 1984
Um dos discos mais importantes do ano é o que a EMI / Angel / Odeon colocou nas lojas há algumas semana; unindo os talentos de dois virtuoses do piano, Clara Sverner e João Carlos Assis Brasil, na interpretação de obras de Scott Joplin e Erik Satie.
Conhecida e admirada pelo seu repertório clássico, evoluindo depois para a preservação da obra de grandes autores - Chiquinha Gonzaga, Eduardo Souto e Glauco Velasquez, e unindo-se, no ano passado, no maravilhoso disco com clarinetista Paulo Moura, Clara Sverner firmou seu prestigio como uma das mais ecléticas e talentosas pianistas brasileiras, Agora, em nova - e como sempre brilhante produção deste incansável magico sonoro que é Mauricio Quadrio, reencontramos toda a sensibilidade de Clara em duo com João Carlos Assis Brasil, 38 anos, irmão gêmeo do eterno Victor Assis Brasil ( falecido há 3 anos ), cuja carreira de pianista tem
sido das mais brilhantes - embora só agora chegando ao disco. E num álbum de caracteristicas muito especiais,pois reúne obras de dois compositores da mesma época - Erik Stie ( 1866-1925) e Scott Joblin ( 1868-1917 ) aparentemente separados por suas barreiras: a distância geográfica e a distância estética. Satie, "o mestre de Arcuelli", bem ou mal, enquadrado na música de divertimento. Num excelente texto do encarte que acompanha o Lp, Augusto de Campos situa a importância de cada um deles pianistas autores - revolucionários em sua época, Satie na França, o negro Scott, nascido no Texas, depois ascendendo com " Mapple Leaf Rag" ( 1899 ), "The EasyWinners"por Marvin Hamlisch, na trilha de um " Golpe de mestre/ The Sting", o tornaria popularissimo ( quase 60 anos após sua morte ) à galeria dos maiores criadores do ragtime.
A União de peças e Satie e Joplim, na interpretação de dois pianistas brasileiros, de excelente formação - mas, naturalmente, de gerações diferentes - confere a este álbum uma importância única, justificando que após ser adquirido ( é o tipo do disco que vale o que custa ),
mereça múltiplad e atenciosas audições cada uma possibilitando maiores reflexões. Melhor do que outras adjetivações o paragrafo de Augusto de Campos: " Por tudo isso, é mais do que pertinente esse encontro transcultural promovido por Clara Sverner e João Carlos Assis Brasil entre o piano a quatro mães de Satie e o de Joplin. Do rasgo do rag ao risco de Satie sopra um ar sempre novo. Um ar não condicionado, onde o humor e a criatividade não dão as mãos.
Sabendo-se que Clara e João Carlos estão fazendo uma série de consertos, promovendo este disco, é de se lamentar que a imcompetência tenha tomado de assalto às entidades culturais da cidade e os "participativos"homens e mulheres que se entricheiraram nos bem-remunrados cargos da Fucucu e Secretaria da Cultura ( sic?sic?) não tenham a menor sensibilidade para patrocinarem a vinda de um concreto como este a Curitiba.
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