A catedral do chope para a nossa cidade
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de dezembro de 1987
De princípio, é bom que se esclareça: embora possa parecer à primeira vista, o Bavararium Park não é nem pretende ser uma espécie de Canecão curitibano. Embora espaço não falte - são 3 mil metros quadrados em diferentes utilizações - o imenso biergarten inaugurado na noite de quinta-feira,10 - e que desde sexta, ao meio-dia, já começou a funcionar - pretende ser, isto sim, uma casa do melhor chope e comida. Para o primeiro, o próprio dono do grande empreendimento, o bávaro Arthur P. Lanpelzammer, 51 anos, coloca todo seu invejável know-how da arte de fazer a loira que refresca e para a cozinha a supervisão será nada mais, nada menos, do que do mais badalado mestre-cuca francês, Frank Rossa que trocou, pelo visto (ao menos até que surja melhor oferta) a sofisticação da nouvelle cuisinne française do pequeno Mahoagany, do Araucária Flat Hotel, por um espaço mais democrático e amplo. Como mestre Frank é hoje um consultor de restaurantes requisitadíssimo, seu executivo nas panelas do Bavarium Park será o monsieur Gilbert, também com currículo invejável na arte de preparar os melhores pratos.
Assim, com a melhor (e exclusiva) cerveja ("podem chamar de chope, que não há ofensa!" - explica Creso de Moraes, que cuida da relações públicas da casa) e uma cozinha internacional, o Bavarium Park não pensa em outras atrações maiores. Basta a sua imensidão, a novidade, a boa localização, uma grande campanha publicitária que Manoel Alaponto desenvolveu nas últimas semanas para, nesta primeira etapa, garantir casas lotadas e fazer com que os 60 garçons, 20 garçonetes e mais 50 pessoas em outras funções, suem os "uniformes" bávaros que usam. Orgulhosamente!
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Há exatamente um ano, fomos os primeiros a noticiar o grande empreendimento. Na época, o arquiteto Manoel Coelho desenvolvia o projeto do Bavarium mas, por determinação expressa da proprietária, sra. Olga Ferreira, não podia dar a menor indicação. Dona Olga, uma mineira de Curvelo, vinha comandando as obras, enquanto o marido, Arthur, ainda estava em Assunção, implantando a sétima das grandes cervejarias industriais que montou nos últimos 25 anos.
Entrevista, nem pensar. Gentil, mas com segurança, dona Olga, telefonicamente, dispensava qualquer tentativa de se obter dados do grande empreendimento já em andamento. Só através de artifícios, foi possível arrancar algumas ( poucas) informações que possibilitaram ao "Tablóide" dar a notícia: o casal tinha residido em diferentes países e decidido por Curitiba para implantar um biergarten ao estilo bávaro, com fabricação própria de cerveja. Dona Olga antecipava seu projeto de inaugurar, então, a casa, ainda no início de 1987. O que, evidentemente não aconteceu.
Quinta-feira, em elegante vestido verde, atenciosa e simpática, assessorada pela eficiente Christiane de Moraes, dona Olga recebia cumprimentos de milhares de pessoas, enquanto Arthur cuidava do comando estratégico da "operação-inauguração". Embora ainda fria e discretíssima nas informações, insistindo em chamar a todos de "Sr." e "Senhora" para, propositalmente, colocar gelo em qualquer tentativa de aproximação maior, dona Olga não escondia, entretanto sua felicidade: a inauguração do Bavarium Park (Avenida Mateus Leme, 4248) foi um sucesso!
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Bonita, educada - embora bastante racional em seu tratamento, dona Olga é uma executiva extraordinária. Que o digam os engenheiros, arquitetos, fornecedores e operários que, nestes dois últimos anos trataram com ela. Com habilidade mineira, cursos de administração de empresas nos Estados Unidos e vivência em vários países, dona Olga foi a comandante-em-chefe de uma operação que envolveu nada menos que US$ 2 milhões de dólares, desde a compra do terreno com 22.270 metros quadrados até a atual fase de finalização do empreendimento. Recursos aos quais se somaram economias do casal ao longo destes últimos dez anos em que residiram em países da Europa, Africa e América do Sul (o último ponto foi Assunção) a financiamentos do BNDS, via BADEP, dentro da linha Prointur.
Com sua competência em assessoria de relações públicas, Creso de Moraes pode levantar vários ganchos que farão do Bavarium Park ser notícia em publicações especializadas: o lado econômico, as inovações tecnológicas que Arthur Lampelzammer, um dos poucos engenheiros-cervejeiros hoje no Brasil, trouxe para conseguir o "gosto Bavarium" no produto que fabrica, além de, a curto prazo, mostrar a mudança de comportamento no lazer dos curitibanos que um empreendimento como este pode provocar.
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Mulher astuta e que passou noites planificando seu negócio, dona Olga tem dados que provam as potencialidades do negócio - e se assim não fosse, evidentemente o casal não investiria quase Cz$ 200 milhões num empreendimento de tal porte. Argumenta:
- "Só uma agência de turismo trouxe a Curitiba, em janeiro deste ano, mais de 14 mil pessoas."
O turismo, naturalmente, é um dos alvos para fazer com que o Bavarium Park tenha uma ocupação de pelo menos 50% de seus 1.494 lugares confortavelmente sentados, distribuídos entre o Biergarten (140 lugares), buffet self service (140), Baby Beef (160), bar (24), Pizzaria (200), mezzanino (230), quiosques de sorvete (40) entre outros espaços que incluem a esquina da criança (que terá vídeo, com programação especial), Grill's e três terraços (mais 380 lugares). A pista de dança não é grande - apenas 40 casais poderão ocupá-la, e a palco foi planejado, para um quinteto, no máximo, o que confirma o desinteresse, ao menos imediato, do casa trazer grandes shows. Tem, isto sim, desde já, um conjunto, naturalmente especializado em música alemã, e que conta com a simpatia do barbudo Nivo Waltz, uma espécie de Dr. Jeckyl and Mr. Hyde bávaro: durante o dia fatura como próspero representante comercial de indústrias de Blumenau e, a noite, veste seus coloridas trajes, apanha o acordeom e sai a cantar as canções dos Alpes. Até há duas semanas, eram os fregueses do Humel-Humel que, vez por outra, aplaudiam a alegria de Waltz, mas como a querida proprietária daquela casa alemã, Ingeborg Rost, está agora visitando sua filha, Gabriele, em San Francisco, Nilo não titubeou em aceitar o convite do amigo Lampelzammer para ser atração no Bavarium Park.
LEGENDA FOTO: Nilo Waltz: o Dr. Jeckyl e Mr. Hyde das noites bávaras
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