Tragédias gregas em primorosas traduções
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de fevereiro de 1992
Durante anos a Zahar Editores esteve identificada às áreas de ciências sociais e econômicas. A bibliografia básica da Zahar trouxe ao Brasil os mais importantes títulos, enriquecendo a bibliografia e auxiliando a formação de milhares de estudantes e profissionais.
Nos últimos anos, com mudanças na empresa, Jorge Zahar diversificou a linha de sua editora, passando a dar grande ênfase aos lançamentos culturais: música, teatro, cinema, artes plásticas etc. Tem merecido cuidadosas edições de Zahar, que, inclusive, vem investindo em indispensáveis dicionários especializados.
Agora, enriquecendo a bibliografia teatral, a Zahar traz três tragédias de Eurípedes - "Medéia", "Hipólito" e "As Troianas" - em esmerada tradução do grego de Mário da Gama Cury, responsável também pelo didático texto de apresentação. Embora já existissem traduções destas três peças lançadas pela Civilização Brasileira (entre 1965/77), agora houve uma ampla revisão, "com o objetivo principal de dar maior fluência aos versos que, nas edições anteriores foram às vezes sacrificados para assegurar maior literalidade em relação ao original grego", como diz o tradutor.
Com esta edição conjunta de três das mais importantes peças de Eurípedes, amplia-se as edições de clássicos traduzidos pelo helenista Mário da Gama Kury para Jorge Zahar Editor. "A trilogia tebana", "Édipo Rei", "Édipo em Colono", "Antigona"), de Sófocles, e "Oréstia" ("Agamêmmon", "Coéforas", "Eumênides"), a trilogia de Ésquilo. Esta série de tragédias gregas será complementada por um quarto volume, reunindo outras peças desses três grandes dramaturgos: "Os Persas", de Ésquilo; "Electra", de Sófocles e "Hécuba", de Eurípedes.
O teatro de Eurípedes, uma das raízes mais importantes de todo o teatro ocidental, beneficiou-se de uma sensível preferência das gerações posteriores. Tanto que foram conservadas 19 de suas 80 a 90 peças, enquanto das cerca de 90 escritas por Ésquilo sobreviveram apenas sete e das mais de 100 peças de Sófocles também somente sete chegaram até nós.
Eurípedes nasceu em Salamina, ilha próxima a Atenas, em 485 A. C., e morreu na Macedônia em 406 A. C. (datas prováveis). Viveu em isolamento e parece ter sido uma pessoa insociável. Terceiro dos três grandes tragediógrafos áticos, escreveu ao todo cerca de 80 a 90 peças, que se caracterizam por uma grande variedade de estados de alma, chegando mais perto da vida ordinária do que Ésquilo ou Sófocles. De um modo geral, Eurípedes encenou situações de tensão emocional violenta, mostrando homens e mulheres dominados por paixões ou dilacerados por impulsos conflitantes. Questionou a religião e a moral tradicionais, e demonstrou vigorosa independência intelectual, escandalizando freqüentemente a opinião pública. Eurípedes deu grande destaque às personagens femininas e deixou-nos uma galeria maravilhosa de retratos de mulheres, heroínas do bem ou do mal.
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