Incrível, mas verdadeiro: a melhor estréia é uma reprise! Após semanas em que chegaram filmes atraentes - mas que, infelizmente, não foram devidamente entendidos pelo público ("Gringo Velho", por exemplo, chegou a ter sessões suspensas na terça-feira), a programação decai novamente. Assim, nesta semana, a maior atração é uma comédia realizada há 18 anos, dentro do espírito sapeca, malicioso e audacioso para a época que caracterizava o cinema italiano mais descompromissado: "Venha Tomar um Café Conosco", do veterano Alberto Lattuada, com um dos mais populares comediantes peninsulares: Ugo Tognazzi. Sucesso na época (foi lançado no saudoso Cine Rivoli, na Rua Emiliano Perneta, ali permanecendo 3 semanas em cartaz), "Venga a Prendere il Caffe do Noi", com seu humor bem peninsular é uma opção para verificar se envelheceu ou não. Substituiu ao vigoroso (mas incompreendido) "Gringo Velho", no Astor. Quem vibrou com "Dirty Dance" - uma bobagem como filme mas que agradou bastante - tem oportunidade de checar agora se o diretor (Emile Ardolino) e o ator (Patrick Swayze) lançados naquele filme - resistem: Ardolino é o diretor de "O Céu se Enganou", a comédia soft, sem pretensões, que o Plaza está exibindo. E Patrick Swayze, o galã-bailarino que encantava as garotas naquela comédia musical é agora o "Matador de Aluguel" (Road Mouse), policial que terá amanhã às 22 horas sua pré-estréia no Lido II - onde estréia na próxima quarta-feira. Também nos termos das pré-estréias, "Máquina Mortífera 2" (Letal Weapon 2), de Richard Donher, com a mesma dupla da fita anterior - Mel Gibson e Danny Glover - tem pré-estréia amanhã, às 22 horas, no Astor. Com seu trailler exibido "ad nausean" em todos os cinemas da cadeia da Fama Filmes, a esperança da Warner é de que o público dê a esta nova aventura dos dois tiras nova-iorquinos - Martin Riggs (Mel Gibson) e Roger Murtaugh (Danny Glover), o mesmo prestigiamento que o primeiro filme obteve. Quem já o viu, diz que a fórmula já começou a cansar mas como a mediocridade e violência (vide o caso de "O Grande Dragão Branco", há semanas em cartaz no Palace Itália) funciona... A propósito: a insistência em repetir os traillers dos filmes mais comerciais em todas as salas de um circuito é mais uma razão para afastar o público dos cinemas. A CIC tornou o trailler de "Corra que a Polícia Vem Aí" desgastada tal a insistência em que mostrou o material promocional desta comédia amalucada (que continua no Lido II). Agora a Warner está torrando as regiões baixas dos espectadores com a insistência em mostrar o trailler de "Batman". Programado só para estrear em fins de outubro, o trailler do filme que alcança as maiores bilheterias nos Estados Unidos e impulsiona uma onda de "godgets" e produtos comerciais, enche a paciência do espectador. Nem mesmo os gerentes dos cinemas (que são obrigados a exibi-los) agüentam mais... Imagine-se, então, o público que ainda vai ao cinema e é obrigado a tolerar este trailler. VOLTANDO A TERRA - O roteiro de Perry Nowze e Randy Nowze em "O Céu se Enganou" (Changes Are), de Emile Ardolino, não é nem um pouco original: Alex Finch (Robert Downey Jr.) volta a Terra por que acabou morrendo por engano. A idéia de trazer de novo a vida alguém que tenha morrido antes da hora já havia sido explorado em filmes como "Também os Deuses Amam", e mais recentemente, por Warren Beaty em "O Céu Pode Esperar" (Heaven Can Wait, 1978). Emile Ardolino, que fez o bem sucedido (em termos de bilheteria) "Dirty Dance" é o diretor deste "Changes Are", que tem no elenco, afora Downey Jr., três nomes relativamente conhecidos: Cybill Sheperd, que foi musa de Peter Bogcanovich quando aquele ex-golden boy vivia sua fase dourada; o veterano Ryan O'Neal e a bonita Mary Stuart Masterson. A fotografia é de um mestre - William A. Fraker, que já fez inclusive um grande western ("Um Homem Difícil de Matar", 1970) o que recomenda o filme. Também a trilha sonora é de um nome competente - Maurice Jarre, com a música-tema de Robert Allen e All Stillman. Portanto, nesta semana de poucas estréias, fica como uma opção no Cine Plaza. MATADOR DE ALUGUEL - Seu lançamento no circuito comercial só acontecerá na próxima semana, mas como amanhã haverá uma pré-estréia (Lido I, 22 horas), aqui vão algumas informações sobre "Matador de Aluguel" (Road Mouse), de Rowdy Harrigton, mais um diretor novato. Patrick Swayze interpreta Dalton, um leão-de-chácara num night club da pesada (Double Dance), e, naturalmente, se envolve em muitas confusões. O diretor, Rowdy Harrigton (anteriormente fez "Jack's Black", inédito no Brasil) escolheu Patrick Swayze para interpretar o personagem central após ter assistido "Dirty Dance". "Eu fiquei impressionado pelas cenas de dança com ele e meu filme tem sua própria versão de dança e luta". No elenco, há um ator conhecido: Ben Gazzara, 58 anos, da turma do grande John Cassavetes, há anos morando na Itália e que há pouco esteve no Brasil fazendo "Forever", sob direção de Walter Hugo Khouri. Aqui ele é o vilão da história. Outro bom ator que aparece é Sam Elliott, que em 1976 fez um cult movie: "Verão de Ilusões". A música é de Michael Kamen. VENHA TOMAR UM CAFÉ CONOSCO - Alberto Lattuada, 75 anos, é um nome respeitável dentro do cinema italiano. Filho do compositor Fellice Lattuada (que compôs várias trilhas para sua fitas) tem uma longa carreira, iniciada em 1933. Preocupado com a preservação dos filmes, foi presidente, por anos, da Cinemateca Italiana. A partir de 1942, com "Giacomo Idealista", iniciou sua carreira de diretor, até hoje não interrompida: apesar da idade, em 1985 realizou uma superprodução: "Cristovão Colombo", para a televisão italiana. Ao longo de sua filmografia, extensa, há vários gêneros - do drama a comédia, sempre com dignidade. Em 1970, quando a comédia maliciosa italiana estava no auge, realizou "Venga a Prendere Il Caffe do Noi", com um roteiro desenvolvido em colaboração com Adriano Baracco, Tulio Kezich e Pierro Chiara. Numa pequena cidade da Itália, um inspetor de rendas, Emerenziano Paronzini (Ugo Tognazzi) decide quebrar seu celibato e após cortejar três irmãs solteironas, opta por Fortunata (Angela Goodwin), mas vivendo no casarão da família passa também a dividir suas noites com as manas Tarsilia (Francesca Romano Coluzzi) e Camilla (Milena Vukotic). No final, nem mesmo a empregada, Caterina (Valentine) escapa de seu encanto. O filme é narrado com graça e humor, bem característico do cinema italiano da época e neste relançamento, hoje com censura para 14 anos (originalmente era 18), vale a pena ser (re)visto. OUTRAS OPÇÕES - Milagre! O Bristol, que tem sido um cemitério de bons filmes, teve sua programação mantida em cartaz: a deliciosa comédia "Adorável Sedutora" (Her Alibi), dirigida pelo australiano (radicado nos Estados Unidos) Bruce Beresfor ("A Força do Carinho", "Rei David", "Crimes do Coração"), continua em cartaz. Um thrilling com bons momentos de humor, conta o envolvimento de um escritor em crise (Tom Selleck, menos canastrão do que em outras fitas), com uma belíssima imigrante rumena, Nina (Paulina Porizkova, que foi capa de 300 revistas nos Estados Unidos), acusada de um crime. A trama é boa, uma excelente trilha sonora do francês Georges De LeRue, num filme que se assiste com prazer. Dispensável é "Escorpião Vermelho" (Red Scorpion), de Joseph Zito, na linha de um sub-Rambo e com um sub-Sylvester Stallone. Aliás, o loiro herói desta mediocridade (que continua em cartaz no São João) é Dolph Lundgreen, que em "Rocky IV" era o pugilista russo que desafia Stallone. No circuito das reprises, ou seja, as salas da Fucucu, volta um dos melhores filmes nacionais dos anos 70: a magnífica adaptação que Leon Hirzman (1938-1987) fez há 16 anos do romance "São Bernardo", de Graciliano Ramos, com Othon Bastos e Isabel Ribeiro. No Guarani, retorna "O Último Imperador", de Bernardo Bertolucci, enquanto no Ritz continua "Kuarup", de Ruy Guerra. Só no Luz um filme inédito, mantido em segunda semana: "Nostalgia", 1982, penúltimo longa-metragem do cineasta soviético Andrei Tarkoviski (1932-1986), rodado na Itália, e tendo no elenco ao lado de Oleg Jankovski e Domiziana Giordano, o excelente ator sueco Erland Josephson. Um filme difícil, árido, mas que merece atenção. No mais, domingo, às 10 horas, no Luz, "Uma Cilada para Roger Rabbit". LEGENDA FOTO - "Venha Tomar um Café Conosco": humor a italiana, com Ugo Tognazzi em plena forma. Em exibição no Astor.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Cinema

Página: 8

Data: 15/09/1989

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