Veja os curtas neste dia de protesto de cineastas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de março de 1987
A exibição de seis premiados curta-metragens em cinco sessões, com entrada franqueada ao público (Groff, Rua XV de Novembro, 14, 16, 18, 20 e 22 horas) desta quinta-feira, 19, tem, antes de tudo, "um sentido político" como diz Berenice Mendes, 27 anos, cineasta e representante dos documentaristas do grupo de trabalho que vem se empenhando para que seja aprovada nova legislação a respeito.
Há anos que os curtametragistas vem lutando para encontrar espaços nos circuitos comerciais. Há alguns anos, foi aprovada uma lei obrigando a projeção de um curta-metragem como complemento de cada filme estrangeiro mas devido a falhas na legislação, isto mais prejudicou os bons realizadores. Pela simples razão de que os exibidores passaram a adquirir curtas-metragens medíocres, realizados por picaretas da área, os quais irritaram o público e acabaram "justificando" a revogação do decreto.
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Enquanto os cinemas deixaram de exibir curtas-metragens - e também com o fim dos cinejornais (que a isntantaneidade da televisão tronou obsoletos), os programas de cinema passaram a se constituir apenas de um ou dois traillers e o longa metragem. Os curta-metragens, permaneceram inéditos nos circuitos comerciais - enquanto são aplaudidos, elogiados e premiados em festivais como de Gramado e Brasília.
Hoje há 169 curtas-metragens, "com função crítica e de instigação a reflexão, que há dois anos não chegam às telas", reclama, com toda razão, Peter Lorenzo, presidente da Associação Brasileira de Documentaristas - seção do Paraná.
Reunidos em Brasília, há algumas semanas, cineastas e executivos da área do cinema cultural (Cinematecas, Conselho Nacional de Cineclubes etc.) aprovaram um documento exigindo providências imediatas em relação a valorização (e exibição) dos curta metragens.
No documento, é lembrado que "o acervo de curta e média metragens documentários, ficção e de animação e longa metragens documentários e 16 mm, realizados de forma descentralizada, em torno dos Estados, registrando a realidade brasileira, mapeando fatos determinantes da história do nosso País, contribuindo para a inovação da linguagem, formando e aperfeiçoando técnicos e instigando o surgimento de novas vocações artísticas, retrata a identidade e a diversidade da cultura do povo brasileiro.
No entanto, o filme cultural só realizará plenamente a sua função crítica e de instigação à reflexão, quando regularizar seus canais de acesso à sociedade.
O filme cultural é do interesse público. E nossa perspectiva, o Conselho Nacional a ADB espera que o governo e a Assembléia Nacional Constituinte respeitem o direito do povo brasileiro de ter acesso a essa produção".
Assim, o Conselho Nacional da Associação Brasileira de Documentaristas reafirmou no encontro de Brasília o princípio de descentralização de decisões e recursos, a reserva de mercado para o filme cultural no circuito 35 mm, televisivo e vídeo cassete. E, com vistas ao aperfeiçoamento do seu projeto para o cinema cultural, pleiteia:
1. A ampliação da plenária do Conselho Nacional de Cinema com a inclusão de um representante da Associação dos Documentaristas;
2. Participação da entidade no conselho curador da Fundação do Cinema Brasileiro a ser criada;
3. Participação em toda e qualquer instância já existente ou a ser criada para estudo e/ou reformulação do cinema brasileiro.
Os documentaristas também estão exigindo a criação de um grupo de estudos tripartite que fornecerá emendas para o projeto da Fundação do Cinema Brasileiro, a partir do projeto ministerial, de forma a contemplar as diretrizes recomendadas pelo Conselho Nacional da ADB.
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