Poucos viram os curta-metragens
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de novembro de 1985
Praticamente poucos espectadores assistiram aos curta-metragens em competição. Nas sessões da manhã eram exibidos exatamente às 8 horas, quando poucos dos madrugadores espectadores na Sala Glauber Rocha do Hotel Nacional haviam chegado. A noite, eram também projetado antes do início do filme na sessão das 18 horas - também com os espectadores ainda chegando e procurando lugares. Assim, não se deu aos curtas o tratamento que mereceriam.
O Brasil foi representado por três filmes interessantes. "Memórias de um cine jornal", de Carla Niemeyer e Luís O. Coimbra, com material de arquivo do Canal 100 (de Carlos Niemeyer) e que, de certa maneira, se constitui numa espécie de versão-síntese de fatos políticos nos últimos 20 anos. Utilização panfletária na trilha sonora de forma panfletária, as músicas de protesto neste período ("Apesar de Você" - "Caminhando", "Cálice" etc) sobre imagens militares e civis que a partir de 1964 se sucederam no poder.
Já "Frankie e Alberto", de John Perkins, com base num "blue" americano, foi uma proposta criativa e interessante - embora extremamente estrangeira em sua temática. "O mergulhador", de Ana Maria Magalhães, com base no poema de Vinícius de Moraes, foi o momento de maior erotismo de todos os filmes apresentados no FestRio, com a sensual Nídia de Paula e o já envelhecido Arduino Colassanti (lembrando bastante Paul Newman), este curta parece inaugurar uma linha de "poesia sexual explícita" em termos de cinema, ao transpor para bonitas imagens na tela aquilo que Vinícius de Moraes, com tanta suavidade, colocou em seu poema. "O Mergulhador" faz parte de um projeto de adaptar poemas para curta-metragens que o bilionário ex-editor, ex-distribuidor Álvaro Pacheco (Artenova) está realizando com financiamento da Petrobrás (empresa que tem sido das mais generosas em financiamentos de projetos culturais). Os outros curtas produzidos por Álvaro Pacheco (que também é poeta, vários livros publicados) na linha de poesia filmada, são "A última canção do beco" de Manuel Bandeira, direção de João Carlos Velho (premiado no recente I Festival de Cinema de Fortaleza), "Os sapatos", de Mauro Motta e, "Balada do Nadador", de Álvaro Pacheco, ambos dirigidos por Miguel Borges e "A Balada das 10 bailarinas", de Cecília Meirelles, também dirigido por João Carlos Velho.
Os demais curtas exibidos no FestRio - e do qual sairá hoje o premiado com o "Tucano de Ouro" na categoria - foi o divertido e político desenho animado "La Nariz", de Alberto Giudici, e o enfadonho e com toques de material publicitário "Arquitectura de la colonizacion antioquena", do colombiano Sisandro Duque; "Cuando termina el baile", do cubano Geraldo Chijona; "Milenovecentossessenta" do italiano Massimo Guglielmi; "Imagines de un bombardeo", de Julian Alvares Garcia e o italiano "Odloty", da polonesa Marian Cholrek.
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