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Aramis

Violões

O violão, bandolim e mesmo banjo-instrumentos de múltiplos recursos - podem ser apreciados, num "pacote"- para utilizar um termo bastante em evidências - colocados no mercado, nas últimas semanas. Chorinho, samba, jazz, clássico e pop-desenvolvidos por instrumentistas da maior competência, nas mais diversas linhas. Por exemplo, Joel Nascimento, no entendimento de muitos críticos um dos herdeiros de Jacob Pick Bittencourt (1918-1969), na execução do bandolin, em terceiro lp-solo ("Meu Sonho", Odeon/Coronado, 4220098), continua a mostrar possibilidades deste instrumento, e como - acentuou Sérgio Cabral - Jacob já havia realizado muitas vezes, misturando o instrumento com o som de cordas e de metais. Nessa tarefa, Joel conta com o maestro Geraldo Vespar - uma colaboração fundamental, pelo gosto e pelos conhecimentos de Vespar. Joel em seu lp anterior, na faixa-titulo - "O Pássaro", já havia demonstrado intenções de não se restringir apenas a ser um chorão - apesar de sua admiração a este gênero - mas, sim, procurar vôos mais altos. Assim "meu Sonho"(Joel), é dedicado pelo instrumentista ao próprio Geraldo, destacando a participação dos violões dos jovens Rafael e Maurício. Em "Congada" (Joel), os percussionistas; no baião "Peneirado"(Joel), a sanfona de Julinho se destaca, enquanto que em "Coincidências" (Nivaldo e Paulo Cesar Pinheiro) entra uma orquestra de cordas. No clássico "As Rosas não falam"(Cartola) além dos 5 bandolins tocados por Joerl, temos um quinteto de cordas. Em "Amigos", e "Bandoladas" de Geraldo Vespar, utiliza o violão de 7 cordas de Luiz Otávio - e mais, no segundo tema, os violões de Hélio Delmiro e Maurício Carilho. Duas composições de Aldir Blanc/João Bosco - "Bala com Bala" e "Bijouterias", a sensível "Maninha" de Chico e dois choros melancólicos - "Entre Mil... Você" (Jacob do Bandolim) e "Três Estrelinhas"(Anacleto de Medeiros) completam este lp instrumental dos mais oportunos neste momento. Quando se fala em instrumentistas de cordas no Brasil, um nome inesquecível é o de Garoto (Anibal Augusto Sardinha, 1915-1955). Durante mais de 20 anos, este instrumentista e compositor trabalhou em vários regionais, esteve no Exterior (fez, inclusive, parte do grupo Bando da Lua, do Aloysio de Oliveira, num curto período), mais ficou conhecido apenas por 2 clássicos: "Duas Contas" e "gente Humilde"(que só receberia a letra de Chico/Vinícius 14 anos após a sua morte). Paulo Tapajós foi durante anos um dos maiores amigos de Garoto, dentro da rádio Nacional, e assim, com imensa alegria se dispôs a selecionar do acervo de acetados com registros dos programas dos anos de ouro da maior emissora do País - que perambulou até por banheiro antes de ser depositado no MIS-RJ - as faixas para um elepe que a Fundação Estadual de Museu do Rio de Janeiro editou, há 2 meses, com distribuição da Copacabana. Neste elepe-documento, é possível apreciar toda a genialidade de Garoto, ao longo de 15 faixas - gravadas em diferentes ocasiões, com acompanhamento que só Paulo Tapajós, com sua memória privilegiada e extrema sensibilidade, poderia identificar: "Alma Brasileira" (Radamés Gnatalli), "Sons de Carrilhões" (João Pernambuco), "Rato Rato" (Casemiro Rocha - Claudionor Costa), "Tico Tico no Fubá (Zequinha de Abreu), "Amor Não se Compra" (Bonfiglio de Oliveira), "Carinhoso"(Pixinguinha/João de Barro; com Lyrio Panicalli ao piano), "Chinatown, My Chinatown" (Willian Jerone-Jean Schawartz). As demais faixas são composições do próprio Garoto: "Benny Goodman no Choro", "Duas Contas", "Cavaquinho Boogie", "Relâmpago", "Chorinho do Ahu", "Nacional", "Sempre Perto de Você" e "Saudade de Iguape". O próprio Tapajós, no domingo passado, participando do Encontro de Produção Cultural Alternativa-MPB, afirmava que este lp - bem como o de Orlando Silva (1918-1979), que também produziu com registro do acervo da Nacional - se destinam, fundamentalmente a preservarem a memória de momentos da história da MPB. Por isso não permanecerão muito tempo em catálogo e a recomendação é uma só: adquiram enquanto estiverem nos balcões. Uma mostra da obra para violão de Francisco Mignome, 83 anos, nos é dado por Carlos Barbosa-Lima, considerado um dos mais importantes violinistas da atualidade. Se Turibio Santos tem feito a maior parte de sua carreira na Europa, Carlos Barbosa Lima tem, nos últimos 12 anos, dividindo-se entre o Brasil e Estados Unidos. Agora, na Philips, teve oportunidade de interpretar 12 estudos para violão de Mignone, num lp destinado a lançamento internacional - haja visto, inclusive, a contracapa trazer textos em português e inglês. A mesma Polygram, em vigoroso álbum duplo, contando com material da MCA, oferece um dos mais importantes álbuns a quem se interessa por violão: "Guitar Player", onde Leonard Feather, a maior autoridade em jazz, montou aquilo que define como "na álbum of contemporary styles by modern masters". Realmente, os diferentes estilos de mestres de violão/guitarra estão reunidos nos dois elepes deste álbum da maior importância; inclusive o brasileiro Laurindo Almeida ("Lament In Tremolo Form", "Samba For Sarah" e "Feelings"), há mais de 30 anos radicado nos EUA, Lee Retenour ("Valdez In The Country" e "Bertha Baptist"), B.B. King ("Guitar Plager" e "Counting my Tears") , Joe Pass ("Django", "Allisson II", "Two Track Trip"), Barney Kesselx e Herb Elis ("Two More For The Blues", "Tea For Two" e "Contrary-Ness"), Irving Ashby e John Collins ("Silvers" e "Funkville USA") e finalmente, Larry Corryel ("Toronto Under The Sign Of Capricorn", "Spain", "Autunm In New York") foram os craques do violão selecionado por Feather para esta antologia - onde inclusive há duas composições do autor do "Jazz Anthology": "Guitar Player" e "Counting In My Tear", na execução de B.B. King. Coryell, que forma ao lado de Philipe Catherine, uma dupla sensacional - já com 2 elepes editados no Brasil ("Twin House" e "Splendid", WEA), mostra um estilo mais para o pop, dividindo "Back Together Again"(Atlantic/WEA) com o percussionista Alphonse Mouzon, cuja linha jazzistica é bem mais livre - e proximada do pop - do que os ouvintes tradicionais podem aceitar. As 10 faixas - todas inéditas - deste lp produzido por Julie Coreyll, com composição de Mouzon, Corryel, Catherine - e participação além dos 2 solistas, de músicos como John Lee no baixo e do próprio Philipe Catherine - não são tão facilmente absorvíveis como os temas clássicos do álbum anterior, mas nem por isto devem deixar de merecer atenção. Especialmente "Transvested Express" e "Reconciliation". George Benson é, na atualidade, um dos guitarristas mais em evidências nos Estados Unidos, pela versatilidade de seu trabalho: quatro álbuns, colocados recentemente no mercado, mostram diferentes fases de seu trabalho - mas em todas a mesmas segurança. "Livin'Inside Your Love" (Warner/WEA, 26.029/029), o traz num registro recente, onde a orquestra tem regência e arranjos de Claus Ogerman - o mesmo maestro que tem trabalhado com Antônio Carlos Jobim - e a seleção vai desde musicas novas, como "Nassau Day" até "Unchained Melody" e "Hey Girl". Da fase em que ainda gravava na CIT, de Creed Taylor, dois outros importantes álguns de Benson: "Body Talk", com arranjos e regências de Pee Wee Elis, reúne um time dos melhores instrumentistas, entre os quais Ron Cárter no baixo, Jack de Johnet na bateria, Frank Foster no sax-tenor. São 5 faixas, registradas em julho de 1973, com Benson à vontade, em desenhos sonoros dos mais belos: "Dance" , "When Love Has Grown", "Plum", "Body Talk" e "Top Of The Word". Já "Space", gravado nos estúdios de Van Gelder, em Los Angeles e no Cernegie Hall, em Nova Iorque, também ampara um excelente grupo de instrumentista; embora não tão conhecidos como do disco anterior - exceto o flautista Hubert Laws. Igualmente, aqui são 5 faixas, o que permite longos solos e improvistos: "Hold On I'm Coming", "Sky Drive" , "Octane", "No Sooner Said Than Done" e "Summertime". Estas duas edições, da CTI, estão lançadas pela Continental - sendo que "Body Talk", em 1974, saiu pela Top Tap, então representante da gravadora de Creed Taylor. E a Top Tap é que agora lança "George Benson/-Jack McDuff", com faixas registradas em maio/64 e outubro/65 portanto há mais de 14 anos, no início da carreira de Benson, e quando trabalhava com músicos como o organista Jack McDuff, o sax-tenor Red Hollyway, o baixista Ronnie Boykins e o bateirista Joe Dukes. Mas neste álbum duplo - infelizmente com o texto de contracapa mantido em inglês e impresso ao inverso - houve o cuidado de remixar as gravações originais, conseguindo-se, assim, um som limpo, e expôntaneo, enm temas como "Just Another Sunday", "Shadow Dancers", "I Don't Know" e "Cry Me A River"- este um clássico de Art Hamilton que Julie London tornou inesquecível em termos vocais Para quem curte a guitarra eletrificada, o nome de Eric Clapton é dos mais admirados: "Backless" (RSO/Polygram) , o traz numa série de temas próprios, improvisados em longos momentos - e amparado em instrumentistas como Dick Sims (teclado), Carl Radles (segunda guitarra) e Jamie Oldaker (baterial) além de fazer vocais - divididos com Mercy Levy e Carl Radle. Entre as faixas mais interessantes estão "Walk Out In The Rain" e "Early In The Morning". Como famosos, as opções são muitas e quem aprecia a guitarra flamenga, tem uma chance especial: Paco de Lúcia, considerado hoje o interprete maior deste instrumento, num álbum duplo (Phonogram/Philips) mostra 10 temas de Manuel de Falla, cuja obra é das mais conhecidas e divulgadas, merecendo inclusive arranjos para ballet: "Danza de 1.º vecinos" , "Danza ritual del fuego", "Introducion y Pantomina" , "El panõ moruno" , "Danza del molinero" , "Danza" , "Escena" , "Cancion del fuego f`guo" , "Danza del terror" e "Danza de 1. ª molinera". O álbum é valorizado com texto (em espanhol) de Felix Grand e belíssimo desenho de Máximo Moreno. Finalmente, dois lançamentos de guitarra mais comerciais: Francis Goya (Top Tap), reune 16 temas - desde o do filme "Elvira Madigan" a "Love Story", passando por "Nuages" (Reinhard) e "Zorba`s Dance"), num disco que não resiste a uma comparação com os demais aqui mencionados. Os alemães Siegrifried Schwab e Peter Horton, em duo, em "Guitarissimo" (Nature/Brain/Continetal), mostra que ainda tem muito a percorrer até chegarem perto da genialidade de Coryel/Catherine. O repertório de Siegried e Horton é próprio - exceto um arranjo sobre um tema de "Bach". Vale apenas como registro. Finalmente, um registro especial: o inesquecível filme "Amargo Pesadelo" (Deliverance, 1972), de John Boorman, trazida uma trilha sonora criada por Eric Weissberg e Steve Mandell tendo por base especialmente as musicas de bandolinhas. E numa das seqüências, havia o famoso "Dueling Banjos" , numa sonoridade que, passados 7 anos da realização do filme, permanece em nossos ouvidos. Editado inicialmente em compacto duplo pela WEA, a faixa agradou tanto que temos agora a trilha sonora integral deste filme, com quase 20 temas - alguns curtos, outros mais longos - todos execultados por Weissberg e Mandel. E este sido um dos elepes mais vendidos do ano, provando que o publico aceita a boa música instrumental. FOTO LEGENDA- Garoto FOTO LEGENDA1-Paco de Lúcia Interpreta a Manuel de Falla FOTO LEGENDA2- Coryel/Mouzoun Black Together Again FOTO LEGENDA3- George Benson Jack McDuff FOTO LEGENDA4- Joel Nascimento Meu Sonho
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
1
03/06/1979

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