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O liro dos poetas segundo D. Pompilia

Ao lado da professora Maria Nicholas, a sra. Pompilia Lopes dos Santos é a última remanescente e uma geração de professoras e poetas a quem a idade não abate. Ao contrário, tanto ela como Dona Maria – ambas já octagenárias, estão sempre bem dispostas, criativas, procurando sempre escrever sobre os mais diferentes assuntos. Dona Pompilia fundou o Centro Paranaense Feminino de Cultura, participa de inúmeras entidades culturais da cidade, tem livros publicados e agora está revendo os originais de uma nova obra – "Poetas do Paraná", que vai encaminhar ao secretário Luis Roberto Soares, da Cultura e Esportes – esperando sua publicação. Com este levantamento, Dona Pompilia pretende preencher – ou iniciar o preenchimento de um vazio em nossa bibliografia: um "quem é quem" dos homens e mulheres nascidos ou radicados no Paraná que tem cultivado a poesia ao longo dos anos. xxx Na persistência de reunir biografias e exemplos das poesias de poetas paranaenses, dona Pompilia selecionou 161 deles. Ontem procurava dados sobre Maria Jesus Coelho – assassinada por ladrões em seu apartamento há pouco mais de um ano. Para que a obra não fique incompleta – afinal, dona Pompilia se concentrou basicamente nos poetas falecidos ou os de mais idade – seria interessante que o seu trabalho fosse [ampliado], com acessoria de alguém que vem acompanhando a poesia dos jovens. Por exemplo, até agora dona Pompilia desconhece a obra do irreverente Paulo Leminski, bem como de outros poetas da nova geração – como Domingos Pellegrini Júnior, de Londrina; Reinoldo Atem, Paulo Ciça, Luiz Edson Fanchin, Tadeu, Tatára, Rettamozo, Eulália Rake e outros. Em compensação, dona Pompilia aponta Salvador José Correa Coelho, nascido na Lapa, em 1821, como o primeiro poeta paranaense. Correa Coelho estudou em São Paulo, onde se formou em direito, morou em Recife e morreu em Mogi das Cruzes, sendo, portanto, praticamente desconhecido no Paraná. O segundo poeta paranaense, na ordem cronológica é Fernando Amaro, parnanguara, nascido em 1831, e que publicou muito em sua cidade em Curitiba. A primeira poetisa do Paraná, Júlia da Costa, tem destaque, pois, segundo dona Pompilia, "era muito sentimental e surpreendia a todos por seu conhecimento de literatura brasileira e cultura geral.". Ao lado de poetas consagrados como Emiliano Perneta, Nestor Vitor, Dario Vellozo, Emílio de Menezes, Tasso da Silveira e tantos outros, dona Pompilia quer chamar a atenção para o lado poético de Rocha Pombo – normalmente conhecido apenas como historiador. xxx Falando em poesia, em apenas um mês, "Colar de Maravilhas, de Miriam Paglia Costa – londrinense de nascimento, há 10 anos radicada em São Paulo, onde é editora de arte e cultura na revista "Visão", praticamente teve sua edição esgotada. Com isso, os editores – Massao Ohno – Roswita Kempf decidiram lançar um segunda edição em fevereiro, ainda mais agora que a Associação Paulista de Críticos de Arte considerou Miriam como "poeta revelação de 1892". O júri formado por Leo Gilson Ribeiro, Nelly Novaes Coelho, Henrique Alves e Hélio Silveira, entre outros, classificou a obra de "um exercício de memória e imaginação, onde a sensibilidade alça o seu vôo para além dos limites estreitos do simples "cantar a infância". Um crítico do "Diário Popular" lembrou que Miriam desestrutura a técnica para não ter que discutir a técnica; enxuga as palavras até o osso, fazendo o tema saltar do poema para não correr o risco de tematizar. Recorrendo a brincadeiras da infância "quero ser colar/ quero ser pulseira/ quero ser tiara" ou, como no Poema II, exercitando sua própria liberdade. Mais a grande poetisa surge inteira nos poemas onde ela joga com a ambigüidade e a sugestão labiríntica, como, como no Poema XVIII: "Quem é esta mulher que dorme / que meu braço enlaça e minha carne trinca/ fria, ao chegar da rua?" A edição, cuidadosamente produzida por Massao Ohno, um dos mais refinados editores, tem belíssimas ilustrações de Darcy Penteado. Para Cora Rónai, do "Jornal do Brasil", os desenhos de Penteado integraram-se a obra pois "versos e ilustrações têm o mesmo ar de renda antiga – mas é uma estranha renda, essa, em que de vez em quando se encontra algo novo e inesperado, clima de sonho que é invadido sem a menor cerimônia por gestos e objetos do cotidiano" Rónai lembra ainda que o título do livro vem – quem se lembra?- dos colares de maravilhas, aquelas frlorzinhas cor-de-rosa que as meninas trançavam em pulseiras, tiaras, colares: "Flor e capim/ laço e pescoço/ somos papagaios ao vento/ coloridos vãos/imponderáveis/ sementes de mulher/ Distintas, usamos colar de maravilhas". xxx Charles Baudelaire (1821-1867) é conhecido e admirado por sua "As Flores do Mal", cuja primeira edição apareceu em 1857, mas deixou outros livros- inclusive um emocionante diário entitulado "Mon coeur mis à nu", onde se mostrava ao lado de um poeta que tinha a dualidade de ter um aparente satanismo (tendo como fundamento um sentimento do pecado, da natureza religiosa) o parnasianismo, também um radical e profético crítico da civilização moderna. E agora, em carinhosa tradução de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira a Editora Nova Fronteira publica "Meu coração desnudado" este diário íntimo do trágico poeta francês. Herdeiro de certos traços da obra de Edgard Alan Poe e Gerald de Nerval, Baudelaire construiu a sua a partir da crítica radical aos excessos sentimentais do romantismo, contribuindo decisivamente para a instauração do modernismo. Lendo-se sua prosa em "Meu coração desnudado", sente-se um texto que se articulado enquanto linguagem na medida em que, desnudando a realidade do autor e do mundo que o cerca e o prime, desnuda-se sobretudo a si mesmo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
22/01/1982

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