Amaral, fundador da UFP e o pioneiro do futebol
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de setembro de 1983
Victor do Amaral, o homem que trouxe o futebol para o Paraná?
Pois é. Parece incrível, Victor Ferreira do Amaral e Silva (Lapa, 9/12/1862-Curitiba, 2/2/1953), médico, professor, deputado estadual e federal, vice-presidente - do Estado (1900-1904) e um dos fundadores e primeiro reitor da Universidade do Paraná (1912) foi também quem teria trazido o esporte bretão a Curitiba no início do século.
Mesmo sem se aprofundar neste aspecto, o professor Eduardo Corrêa Lima, revela na página 14 do livro que elaborou sobre Victor do Amaral, que no quadriênio em que foi eleito para a vice-presidência do Paraná, no governo Xavier da Silva, exerceu também a direção geral da Instrução Pública, quando se preocupou com o desenvolvimento da Educação Física. Assim, de regresso de uma viagem ao Rio de Janeiro, em maio de 1903, trouxe a primeira bola de futebol para o Paraná. Diz Eduardo Correia Lima que "era uma bola n' 5, que o Dr. Victor trouxe, juntamente com o primeiro manual de futebol que ofereceu aos seus alunos do então Ginásio Paranaense, do qual também era diretor. Entre esses alunos, destacavam-se as figuras de João Moreira Garcez, Antonio Gomes Júnior, Gilberto Beltrão, Antonio Franco, João de Oliveira Franco, Pedro Stenghel e outros que iniciaram assim no Paraná os primeiros movimentos do esporte mais popular do Brasil".
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Lançado no final do ano passado, inaugurando a coleção "Mestres da Universidade Federal do Paraná", o livro "Victor Ferreira do Amaral e Silva - - O reitor de Sempre" (520 páginas, imprensa da UFP) passou um tanto despercebido - como aliás tem ocorrido com outras edições patrocinadas pela septuagénaria instituição. Trata-se, entretanto, de um excelente documento de referência sobre a mais antiga universidade brasileira. Eduardo Corrêa Lima, médico, professor e ex-reitor, não se preocupou em escrever uma obra original -limitando-se a uma introdução de 14 páginas, aos quais acrescentou um perfil que o poeta Heitor Stockler dedicou a Victor do Amaral, um texto autobiográfico do próprio focalizado, a publicação de teses e ensaios médicos na - primeira parte ao livro. Mas através da publicação integral dos relatórios da universidade - entre os anos 1913/16, e posteriormente os relatórios da Faculdade de Medicina -entre 1920/23, 1930, 1933, 1936, 1938 e 1941, que se traça um interessante documentário da fundação da Universidade do Paraná, há 71 anos passados, seus primeiros anos de exisitência, do desdobramento, em 25 de maio de 1918, nas faculdades de Medicina, Engenharia e Direito. Victor do Amaral, um dos fundadores da universidade, seu primeiro reitor e, posteriormente diretor em várias ocasiões da Faculdade de Medicina, nos relatórios anuais, ofereceu, com riqueza de detalhes, elementos interessantes não só sobre os primeiros anos do ensino superior em Curitiba, mas também refletindo aspectos da própria cidade e Estado. Assim, se de um lado a riqueza de detalhes e minucias pode parecer desnecessário aos mais apressados leitores, a quem realmente se interessa por nossa história, tem nesta obra oportunidade de fazer uma mágica viagem ao tempo da Curitiba de pouco mais de 50 mil habitantes que, já na segunda década deste século, ganhava uma pioneira universidade.
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Além dos ilustrativos relatórios oficiais, o professor Eduardo Corrêa Lima reuniu duas dezenas de outros documentos, relatórios, artigos de jornais, discursos, necrológicos, ensaios, correspondência etc., capazes de melhor situarem a participaçio de Victor do Amaral em seu tempo, sua contribuição a medicina, ao ensino e também a política do Paraná no início deste século.
Assim como a Câmara Federal criou uma ilustrada coleção denominada "Perfis Parlamentares", nas quais vem fazendo justiça aos deputados e senadores mais atuantes (um dos próximos volumes será dedicado a Corrêa; Pedro dos Santos Lima e João Bento Munhoz da Rocha Neto, cujo 10' aniversário de morte transcorre em novembro), a Universidade Federal do Paraná deve dar sequência a esta coleção dedicada a seus mestres. Através de biografias, documentos e outros textos que ajudem a entender melhor a evolução da instituição - e em consequência da cidade e do Estado - se terá ao menos material referencial para futuros estudos analíticos e críticos. Imaginem-se o quanto facilita o trabalho de pesquisadores interessados no estudo da formação universitária do Paraná, a possibilidade de ter agora em mãos, num volume ordenado, os relatórios da Universidade do Paraná em seus primórdios - documentos até então de difícil acesso.
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O primeiro e mais discritivo relatório dos detalhes da fundação da Universidade do Paraná - oficialmente ocorrida em 19 de dezembro de 1912 -foi apresentado pelo também médico e professor Nilo Cairo da Silva, em 18 de dezembro de 1913, quando a instituição já vinha funcionando, provisoriamente, em sua primeira sede, num casarão da Rua Comendador Araujo, 42 - que embora tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, está agora sendo demolido por um empresário imobiliário - interessado em ali levantar um espigão. Curiosamente, em nenhum dos relatórios da Universidade consta o nome do proprietário daquele imóvel, que ao longo deste século teve inúmeras transações - terminando por ter uma dezena de herdeiros, dos quais o atual dono conseguiu adquirir-lo finalmente.
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Victor do Amaral veio para Curitiba estudar no colégio do professor alemão Jacob Muller (o único que existia), em 1872, quando contava apenas 9 anos. Em 1874 foi para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio Abilio, concluindo o curso de humanidades e matriculando-se em 1878 na Imperial Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Em 1884, com apenas 22 anos de idade, recebia o diploma e defendia a tese - transcrita integralmente no livro agora editado. Na época, poucos médicos haviam nascido em terra paranaense: José Francisco Correa; Pedro dos Santos Lima e Joaquim de paula Xavier, lapianos e formados também no Rio de Janeiro; Leocádio José Correia e João Menezes Doria, naturais de Paranaguá.
Exercendo a medicina e ingressando depois na política - inicialmente como eputado estadual (1892), quando foi eleito deputado federal em 1906. Suas atividades foram amplas e diversificadas, mas nunca olvidou os prazeres da vida.
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