Aqui, Jazz (IV)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de maio de 1977
O jazz não jaz, absolutamente. Renova-se sempre! E se muitos só agora estão descobrindo essa jovem música com mais de um século e se deslumbram com a criatividade que os "Bisavós" e "Avós" de New Orleans já faziam, muitas vezes com primitivos instrumentos, hoje, com o rompimento das rígidas fronteiras de "gêneros" musicais, em nome da liberdade musical se fazem as mais curiosas e inesperadas integrações. Tudo bem, desde que seja realizado concientemente, com dignidade. Hoje, muitos dos discos e instrumentistas que citaremos talvez não se encaixem dentro daquilo que se convencionava chamar de jazz.
Por exemplo, o baixista Miroslau Vitous, checoslovaco radicado nos Estados Unidos, nestes últimos anos tem gravado com os mais importantes - do jazz ao pop, em todos integrando-se de forma perfeita, mas sem porem deixar de imprimir sua personalidade de muita voltagem. Não se pode pretender ouvi-lo como Charles Mingus, mago do baixo acústico. Vitous pertence a uma outra galáxia de comportamento musical - e assim é que deve ser visto e admirado, como neste "Magica Shephert" (WEA Discos, 36.011, 1977), gravado em San Francisco, no ano passado, com a participação de Instrumentistas como o pianista Herbie Hancock, principal líder da corrente jazz-rock, do percussionista catarinense (longos anos no Paraná) Airto Moreira e Jack Deohnett, num mini mog, entre os instrumentistas mais conhecidos.
Yusef Lateef, múltiplo instrumentista - sax tenor e alto, flauta, oboé, fagote e alguns orientais, como o shanai, rabat, argole etc., é um músico na mesma linha de Roland Kirt ou Billy Cobhan; ou seja, numa voltagem que o faz surpreender os consumidores do jazz tradicional - mas, em compensação, desperta na faixa mais jovem a vontade de conhecer algo melhor do que os cansativos e repetitivos grupos pop. Uma dupla oportunidade de se conhecer o som de Yusef: na praça, os elepes "Club Date" (Impulse/ABC/Phonodisc, 2-64-404-004, agosto/76), gravado há 13 anos passados (26/6/1964), com a participação de um quarteto (Richard Willians no pistão, Mick Nock no piano, Ernie Farrow, baixo e James Black, na baterial) , e "The Doctor Is In... And Out"(Atlantic/WEA Discos, 50.003, março/77), gravado no ano passado com a participação de nada menos que 14 instrumentistas - entre os quais o baixista Ron Carter e o brasileiro Dom Um Romão. Em "Club Date", Yusef, ao longo de apenas seis temas próprios - "Oscarlypso", "Gree Sam Gee", "Rogi", "brother John", "P-Bouk" e "Nu-Bouk", limitava-se ao som natural dos instrumentos. Já neste seu recente elepê, com 8 faixas três das quais de autoria de Kenneth Barron, Lateef limitou-se aos sax alto e tenor, oboé e flauta comum e de bambu, numa transa musical bastante complexa - cuja pretensão é sugerida até no como intitulado "Rhythm", publicado à guisa de contracapa.
Já ouviu falar em Sonny Fortunes? Não?. Não se preocupe, pois isso é normal; afinal só agora esse flautista está desenvolvendo uma carreira solo, após passar anos trabalhando com o grupo do pianista McCoy yner e, posteriormente, com a orquestra de Mongo Santamaria e, finalmente, a partir de 1974, com Miles Davis e sexteto de Buddy Rich. Em todas essas formações, Sonny sempre se adaptou sem sacrificar sua própria individualidade. Em 1975, finalmente, Sonny fez o seu primeiro álbum como solista ("Awakening", Horizon/A&M Records, Odeon, 1976). Gravado em Nova York, em agosto/setembro/75, com a participação de outros instrumentistas igualmente jovem (e desconhecido, no Brasil), "Awakening", traz cinco peças - "For Duke and Cannon" e "Awakening" de Fortune; "Triple Threat", "Nommo" e "Sunshower", Trata-se de um disco extremamente pessoal, em que são exploradas as multiplas possibilidades instrumentais da flauta, executada por Fortune com requintes - como a utilização de peda wa-wa, shaker e pequena percussão.
Na linha do chamado jazz livre ou improvisação de grupo, outro álgum revelador de novas estruturas musicais é o "The People`s Republic" (Horizon/A&M/Odeon, 1976), onde um grupo chamado Revolutionary Enseble, formado por Leroy Jenkins (violino), Sirome (baixo) e Jerome Cooper (bateria) - oferece exemplos das mais estranhas utilizações sonoras, por exemplo, sons de um serrote, na faixa "Ponderous". Desde o seu aparecimento, em 1970, o chamado Grupo Revolucionário, vem propondo novos sons - que devem somente serem apreciados por quem se dipõe a conhecer experiência totalmente diferentes. Como alguns outros dos discos aqui registrados hoje, The Revolutionary Ensemble, em sua sua linguagem Free, leva as últimas conseqüências um trabalho que, no Brasil, tem em Hermeto Paschoal, um de seu seguidores. Resultados: mesmo nos EUA é ainda pouco compreensivo e aceito, embora já comece a expandir o seu público nestes 7 anos de existência. Pode ser integrado também ao que se chama de "musica contemporânea" - liberdade bem ampla a uma nova geração de abstracionistas do som. Curiosamente, John Coltrane (1926-1967), muito a anos antes já levava a novos universos o free jazz, em trabalhos com o clarinetista Allan Dolphy e Ornette Colleman, saxofonista e que tivemos ocasiões de assistir, no carnegie Hall (setembro/73), num jazz-sessiom de som-free, absolutamente desconcertante. Trabalhando 5 anos com Miles Davis (1955-60), numa de suas melhores fases, o saxofonista Coltrane, em seus sete últimos anos de vida gravou uma série de álbum até hoje difíceis de serem compreendidos, tal a carga de libertação sonoro, perecendo, muitas vezes, apenas simples exploração dos recursos técnicos do saxofone. Um destes discos é "Sun Ship" (ABC Impulse/Phonodisc, 6-27-404-001, junho/76), gravado em 26/8/65, com o pianista McCoy Tyner, baixista Jimmy Garrison e o baterista Elvin Jones, colocando 5 longos temas - exaustivamente criativos. A Viúva de John, organista e harpista Alice Coltrane, é, de certa forma, continuadora de sua obra de vanguarda e em "Universal Consciousness" (ABC Impulse/Phonodisc, 6-27-404-002. 1976), gravado em abril de 1971, após viagem ao Oriente, onde completou uma parte de sua mística iniciação (tanto é que adotou o nome de Turiya Aparan), fez este álbum profundamente místico, gravado com a utilização de instrumentos de cordas e misturando hinos tradicionais e religiosos indianos. Dos instrumentistas conhecidos que participaram da gravação, estão o baterista Jack DeJohnette e Ornete Coleman. Tanto "Sun Ship" como "Universal Consciusness", Haviam, sido lançados originalmente no Brasil pela Odeon e, reaparecendo pela Continental, destinam-se a uma faixa restrita de interessados no free jazz.
Definições e rótulos são perigosos em sua utilização, em termos de música. Assim, é arriscado classificar trabalhos de novos instrumentistas como os percussionistas Alphonse Mouzon e Bobby Hutcherson, de adeptos do free jazz. Mas uma coisa é certa: a julgar pelo som que oferecem em seus lps "Linger Lane" (Blue Note, Copacabana, BNLP 12.098, fevereiro/77) e "The Man Incognito" ( Blue Note, 12101, Copacabana, fevereiro -/77), eles não se incluem numa linha convencional, jazzistica. Hutcherson, ma marimba conjugado ao baixo (Chuck Rainey), bateria (Harvey Mason), guitarra (John Rowin), entre outros instrumentistas, oferece um som dos mais agradáveis, nas seis faixas deste seu primeiro lp editado no Brasil - e onde, há uma discreta presença de vocalistas em background: Maxine, Julia, Oraene Luther Waters.
Já Alphonse Mouzon, percussionista e vocalista, introduz um som latino, quente, em 10 faixas de seu "The Man Incognito", que o faz alcançar até um público habituado ao som das discotheques, só com muita investividade. Entre os instrumentistas que o acompanham nas faixas deste curioso lp, está Dave Grusin (piano).
Pistonista, compositor e eventual vocalista, Donald Byrd (Detroit, Michigan, 1932), estudou com Nad a boulang, em Paris (1963) e frequentou a Music and Art High School em New York City. Participando de jazz festivais na Europa e autor de alguns temas de prestigio nos meios jazzísticos dos últimos anos ("Cocile", "Pure D. Funk", "The Cat Walt", "Shangri-la", "Bossa" etc.), também se integra a corrente mais liberta do jazz, oferecida agora ao público brasileiro. Seu "Places And Spaces" (Blue Note, BNLP 12104, Copacabana, fevereiro/77), com 7 temas ("Change", "Make You Want To Hustle", "Wind Parde", "Dominões", "Places And Spaces", "You And Music", "Night Whistler", e "Just My Imagination"), tem uma leveza sonora, uma limpeza de notas - amparada em metais e cordas bem trabalhados, alem de uma finura musical - transmitindo as imagens propostas na capa: o vôo tranqüilo num céu de brigadeiro.
FOTO LEGENDA- Bobby Hutcherson Linger Lane
FOTO LEGENDA1- Donald Byrd Places And SP
FOTO LEGENDA2- Alphonse Mouzon... The Man Incognito
FOTO LEGENDA3- Adamo Voyage Jusgu`d toi
FOTO LEGENDA4- Michel Sardou la maladie d`amour
FOTO LEGENDA5- Yusef Lateef The Doctor is in ...And Out Will Return
Please Gome Back Urs Leave Message
FOTO LEGENDA6- Miroslay Vitous (")
FOTO LEGENDA7- The Revolutionary Ersemble The People`s Republic
FOTO LEGENDA8- (")
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