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Aramis

Assassinato na estréia de um filme brasileiro

Tanto "Maldita Coincidência" como "Romance" foram filmes de produção complicada. Para realizar estes dois longas-metragens, Sérgio Bianchi investiu quase 10 anos de sua vida e energia que o tornou muito mais descrente e amargo do que se tivesse seguido uma profissão convencional. "Romance" sofreu quatro (longas) interrupções em suas filmagens. Na hora da edição final, Sérgio e a montadora Marília Aliym tiveram que fazer um demorado processo de seleção. Fernanda Torres, há quase dois anos, quando estava no auge de seu estrelismo (premiada em Cannes por "Eu Sei Que Vou Te Amar" de Arnaldo Jabor) aceitou fazer a personagem Regina e veio a Curitiba para algumas filmagens. Só que a produção tumultuou-se e problemas com a dispendiosa equipe fizeram com que as rodagens fossem suspensas. De volta ao ponto zero, Bianchi retomou o projeto e substituiu Fernandinha por Imara Reis, uma atriz que vem crescendo de papel para papel ("A Próxima Vítima", "Som Sem Fim" etc) e que, no final, acabou se mostrando como uma personagem densa e dramática e, dentro de dois meses, quando "Romance" estiver disputando só Kikitos na 16ª edição do Festival do cinema Brasileiro de Gramado aposto que estará muito bem cotada para uma premiação de melhor atriz. A estréia inesperada de "Romance" no cine Ritz, na última quinta-feira, é mais uma comprovação de que tem razão os que pregam o fim da Embrafilme, ou ao menos sua total reestruturação. Há menos de um mês o cidadão que preside a empresa, em entrevista neste "Almanaque", garantiu que a estatal não iria lançar filmes novos no período março/maio, pois seria condená-los ao fracasso numa temporada em que toda a força de marketing se concentra nos filmes nominados (e premiados) com o Oscar. Portanto, é surpreendente - e mostra mais uma vez a face de incompetência da empresa ou, ao menos, dos responsáveis pela área de comercialização - que, dois dias após a entrega dos Oscars - e simultaneamente a campeões de público em exibição ("Atração Fatal", "O Último Imperador", "Feitiço da Lua", "Império do Sol" etc), queimar um filme inédito, de uma temática inquieta, e que ao invés de ter o lançamento simultâneo com São Paulo (onde deveria estar em exibição no Belas Artes) e Rio de Janeiro (prevista sua estréia no dia 24, no Ricamar), mas que acabou chegando apenas no cine Ritz. Assim, é compreensível que até o domingo, apenas 250 espectadores tivessem assistido ao filme, já que é de se indagar se, com os ingressos dos cinemas custando Cr$ 200,00 e todo glamour e promoção dos "oscarizáveis", qual a fatia que sobra para um filme-de-invenção, difícil em sua temática como "Romance"? Sérgio Bianchi, com roda razão, está magoado, furioso, decepcionado com mais esta traição que sofre em Curitiba - ver seu filme prejudicado num lançamento obscuro, boicotado até com detalhes que seriam cômicos se não fossem trágicos, como o fato das fotos de promoção, que deveriam ser mostradas num cartaz defronte o cinema terem sido "Censuradas" por um burocrata da Fucucu, que achou que as mesmas eram "inconvenientes" e "anti-estéticas". Sérgio não é o primeiro - e infelizmente não será o último cineasta vítima do calcanhar-de-Aquiles que é a questão do lançamento e promoção dos filmes. "Tigipió", de Pedro Jorge de Castro, premiado no I FestRio, levou quatro anos para ter lançamento e foi crucificado em péssimas datas. Pior ainda é o caso de "Pedro Mico", que apesar da presença de Pelé como personagem-título, continua inédito, quase 7 anos após sua realização. Com "Romance" não houve atraso de lançamento, apenas falta de melhor programação e uma suicida marcação simultânea aos filmes indicados e premiados com o Oscar.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
20/04/1988

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