Atahualpa hoje em Curitiba ( e ninguém está sabendo )
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de maio de 1984
Há quatro anos passados o compositor Colmar Duarte, presidente do Centro de tradições Gaúchas Sinuelo do Pago, Uruguaiana, idealizador da Calofórnia da Canção Nativa, imaginou uma forma muito deste evento para marcar a décima edição deste evento musical que hoje, reconhecidamente, é o mais importante festival de música regional do Brasil. Entre outras sugestões surgiu a de trazer para a abertura o maior nome da música folclórica argentina, Atahualpa Yupanqui. A idéia pareceu absurda e impossivel de ser realizada. Então com 72 anos, há mais de 10 anos radicado em Paris - num exilio- protesto contra a ditadura na Argentina, recusando-se voltar a América do Sul,a possibilidade de conseguir a participação de Atahualpa na promoção parecia distante. Entretanto, o entusiasmo dos homens que consolidaram a Califórnia da Canção é grande e, assim, após muitos contatos através de amigos comuns, Yupanqui aceitou vir fazer apenas um show em Uruguaiana, aproveitando para rever sua Argentina. Em dezembro de 1980, na 10º Califórnia, Atahualpa esteve no cine Ópera, fez história apresentação e quando a noticia chegou aos grandes veiculos de divulgação, a surpresa foi grande. Aré então, havia uma ignorância cretina em torno da importância da Califórnia da Canção Nativa, que a partir de 1981 passou a ter maior cobertura e interessar a jornalistas e pesquisadores musicais, compositores etc. Atahualpa ficou horas no Brasil - o tempo suficiente para um show e uma entrevista exclusiva como jornalista Juarez Fonseca, da "Zero Hora", de Porto Alegre.
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Só em 1981, quando a Ariola lançou no Brasil o elepê "El Canto Del Viento" - e com a abertura politica - Atahualpa concordou em vir fazer algumas apresentações em nosso Pais, começando por Porto Alegre ( 14 de agosto ) e encerrando em Campinas, a 1º de setembro passando pelo Rio, São Paulo, e belo Horizonte,. Alguns meses antes, de 12 de maio a 6 de junho, Yupanqui havia lotado todas as noites o teatro Des Halles, em Paris, num sucesso que se repete sempre que este genial compositor, violinista e cantor se apresenta em qualquer cidade.
Agora, agora a grande surpresa: Atahualpa Yupanqui , com toda sua glória e fama, está hoje em Curitiba, para uma única apresnetação no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto ( ingressos a Cr$ 7 mil na platéia ; Cr$ 5 mil no 1º balcão e CR$ 4 mil no 2º balcão ), que praticamente acontece de forma anônima. Isto porque até ontem, praticamente não havia sido feita nenhuma divulgação a respeito passado um evento cultural desta importância ignorado até das pessoas que se ligam á música latino-americana. A vinda de Atahualpa Yupanqui ao Brasil deve-se a Enrique Bergen, argentino radicado em São Paulo, idealizador e diretor do grupo Raizes da América, que recentemente fez uma bonita apresentação no Teatro Guaira, em promoção simpatica empresária Nadyege Almeida, mas que apesar de toda a divulgação teve pouco público.
O que dizer, então, é uma única apresentação de Atahualpa Yupanqui, que acontece sem o minimo apoio promocional, num descuido lamentável dos promotores do evento. Corre-se o risco de repetir o que, no passado, aconteceu com jazzmen da dimensão do baterista Art BlaKey e o pitonista Dizzy Gillespie, que tiveram a decepção de veram apenas um quarto das poltronas do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto ocupadas em suas apresentações.
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Dentro do boom da música latino- americana nos anos 70, Atahupalpa Yupanqui, nascido em Campo de la Cruz, pequenino vilarejo ao Norte de Buenos Aires, no dia 31 de janeiro de 1908, não teve entre nós a repercussão merecida.Enquanto Mercedes Sosa, a falecida Violeta Para - e seus filhos , Isabel e Angel, e vários outros artistas argentinos, urugauios e chilenos, tiveram inumeros elepês aqui editados, a discografia de Atahualpa continua reduzidissima: um album duplo pela Odeon, faixas esparsas em alguns álbuns antologias e o belo "El Canto del Viento, que a Ariola lançou em ju;ho de 1981, antecipou a temporada que o artista aqui fez.
Se o Brasil, Atahualpa é praticamente ignorado em termos fonográficos , na Europa especialmente na França, há mais de 20 álbuns registrando várias fases de sua carreira imensa, bela, das mais produtivas. Afinal, aos seis anos Atahualpa começou a estudar violino com um sacerdote, o reverendo Rosaenz. Logo começaram também suas aulas de violão que, no decorrer de sua vida, se tornaria seu companheiro inseparável. Nas cordas de violão, Atahualpa cantaria os homens e as paisagens da Argentina.em peomas e canções plenos em transcendência, representatividade e talento. Músico e poeta, Atahualpa estudou etnologia e folclore, radicando-se por muitos anos no Norte da Argentina. Aos 20 anos compôs suas primeiras canções"Caminito del Indio"e " Nostalgias Tucumans".
Há exatamente 50 anso começou a ganhar maior popularidade.Em 1940 publicou seu primeiro livro de poemas " Piedra Sola". Em seguida , " Cerro Bayo" ( 1943 ), "Aires Indios"1946, " Tierra Que Anda" ( 1953 ) e " Guitarra" ( 1956 ), obras que tiveram várias edições, não só em espanhol, mas também em francês, inglês, holandês, e húngaro.
Nos últimos 35 anos sua carreira internacionalizou-se, com várias excursões à Europa e o prêmio do disco Folclórico de Academia Charles Cross de Paris, em 1950. Na Faculdade de Letras, em Paris. E na Universidade de Casablanca, Marrocos, seus versos e poemas são materia curricular. Seu Livro. " Cerro Bayo" foi elevado ao cinema em 1956 com o titulo de Horizontes de Piedra", para o qual fez trilha sonora recebendo vários prêmios. Se entusiasmou pelo cinema e apareceu como ator em " Zaira" e de Lucas Demare um filme sobre os trabalhadores de cana de açucar no Norte da Argentina, Aos 76 anos, incansável. 1500 músicas,
não para : nos últimos anos publicou três novos livros ( " El Canto del Viento", " El Tiempo de Hombre" e " El Tpayador Perseguido", este já em sexta edição ).
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