O melhor Dizzy com antológica "Ballad"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de maio de 1987
Quando de sua penúltima (a quinta) excursão pelo Brasil, oportunidade inclusive em que, pela segunda vez, se apresentou no Teatro Guaíra, Dizzy Gillespie motivou a edição de um de seus discos menos importantes, decepcionante mesmo para quem aprendeu a admirá-lo como não só um pianista, compositor, cantor, maestro, arranjador e percussionista, mas, principalmente, um dos fundadores do jazz moderno, da escola do bebop, que teve como grão-sacerdote o seu amigo Charlie Parker (1920-1955).
Agora, felizmente, menos de duas semanas após a sexta temporada de Gillespie no Brasil, infelizmente restrita ao Rio e São Paulo, e na qual trouxe o saxofonista James Moody, chega às lojas um disco esplêndido, mostrando que, aos 69 anos, o grande John Birks Gillespie (Cheraw, Carolina do Sul, 21/10/1917), continua em plena forma - e mais criativo do que nunca.
Com a inclusão de "New Faces", no suplemento inaugural da GRP/CBS no Brasil, fica demonstrado que entre os novos talentos do jazz de novas propostas, a gravadora de Dave Grusin e Larry Rosen, não esquece o tradicional, quando tem algo de novo a dizer. "New Faces", mostra que Gillespie continua tão avançado quanto a era dos polêmicos dias do bebop. A tendência de Gillespie - que ao longo de cinco décadas de atividades, revelou tantos talentos - sempre procurou pesquisar novos materiais ao construir seus edifícios sonoros, surpreendendo sempre pelo brilhantismo das idéias e o modernismo das concepções. Desta vez, cerca-se de jovens e autênticos valores como Branford Marsalis (sax), o pianista Kenny Kirkland (atualmente com a banda de Wynton Marsalis) e o baixista Lennie Plaxico, ex-Jazz Messenger's de Art Blakey (outro Ziegfield do jazz) e o baterista Roberto Amenn.
Bastaria uma faixa deste disco, para torná-lo indispensável: a emocionante "Ballad", com uma sonoridade extraordinária, ao longo de seus 7:18" sugerindo imagens magníficas - e que só um Miles Davis dos melhores tempos ("The Cool of Jazz", "Sketches of Sapin"), poderia se igualar. Das sete faixas, cinco são de Gillespie: a extraordinária "Ballad", "Lorraine", "Tenor Song", "Fiesta Mojo" e "Birk's Works". Duas faixas revelam novos compositores: Chano Pozo em "Tin Tin Deo" e M. Longo com "Every Mornin".
Ouvindo-se este extraordinário "New Faces" - a primeira audição, o melhor dos seis lançamentos da GRP - lembramos o que, há poucos dias, escreveu José Guilherme Correa, em "O Globo":
- "Um solo de Gillespie é tão pessoal que, para reproduzí-lo sem ter ouvido antes o original, qualquer músico sentiria uma dificuldade enorme, só lendo a música. No jazz, o feeling é sempre inimitável, ainda que a técnica não o seja."
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Além de se apreciar o talento de Branford Marsalis no álbum "New Faces", de Gillespie, há também a oportunidade de se ouvir esta brilhante revelação do jazz em seu novo álbum solo ("Royal Garden Blues", CBS, maio/87).
Elogiadíssimo quando de seu lançamento nos Estados Unidos e na Europa, o álbum de Branford Marselis - "Royal Garden Blues" - apenas confirma a fama que a família conseguiu conquistar no mundo do jazz: o irmão Wynton, pistonista, consagrado tanto no erudito como no jazz (ganhou Grammies, nas duas categorias, há dois anos) e o pai, Ellis, veterano jazzista.
Neste novo álbum, além de standards como "Strik Up The Band" e a própria faixa-título, encontra-se o ar da família por inteiro com Ellis em "Swingin' The Blues" e "Emanon", de Wynton. Braford toca o sax-tenor e soprano como virtuose que é, acompanhado por diferentes seções rítmicas em que se alternam os pianistas Ellis Marsalis, Kenny Kirkland, Larry Willis e Herbie Hancok, os baixistas Ron Carter, Ira Coleman e Charnett Moffet e os bateristas Ralph Peterson, Tain, Al Foster e Marvin Smitty Smith.
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