Até o carioca ajuda bloco dos Apinagés
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de janeiro de 1982
Fernando Pamplona, 52 anos, carioquismo e campeão de vários carnavais cariocas até a década passada, esteve quarta-feira em Curitiba acertando detalhes para retransmissão do nosso Carnaval que será feita pelo Canal 4, com o comando do veterano homem de TV[,] Arrabal, ex-companheiro de Pamplona em várias estações deste País. Atualmente Arrabal é diretor da TV Iguaçu Canal 4 e Pamplona ocupa a superintendência do Canal 2. TVE-Rio.
Nesta rápida passagem por Curitiba, Fernando Pamplona – um dos primeiros cenógrafos a levar um trabalho profissional às chamadas grandes escolas do Rio de Janeiro – fez questão de saber como estão os preparativos para o Carnaval e passou algumas horas no QG instalado na Fundação Cultural. Assim ficou sabendo que um dos blocos mais tradicionais do Carnaval do Paraná [-] os Apinagés, de Antonina – e que muitas vezes alegrou a festa de Curitiba[,] se encontra em dificílima situação financeira, ameaçado mesmo de se extinguir.
Soube também desde o início do ano [que] o presidente dos Apinagés, Jobel Martins, vem fazendo uma via crucis em gabinetes da burocracia de [direito] para ver se consegue apenas Cr 30 mil para a compra dos instrumentos necessários.
Até agora a peregrinação do bom Jobel vem sendo infrutífera, com diversas alegações – "falta de verba", "as escolas de [samba] de Curitiba não aceitam dividir a subvenção com escolas do Interior" etc. Fernando Pamplona, homem ligado [às] manifestações populares, entendendo a importância de que um bloco puro e espontâneo como os Apinagés, não se perca, ao despedir-se de Ana Marli, competente relações públicas da comissão de Carnaval de quem tinha ouvido a história[,] deixou-lhe uma incumbência: fazer chegar às mãos de Jobel, um cheque de Cr$10 mil, de sua conta particular. Amanhã, o bloco estará recebendo das mãos de Tina Camargo, capelista de raízes históricas, esta espontânea contribuição do carioca Pamplona.
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A iniciativa de Pamplona em dar um cheque pessoal de Cr$ 10 mil para que um bloco carnavalesco, de uma cidade do Interior, não morra, é sintomática e exemplar. Afinal, num Estado carente de maiores tradições populares, os Apinagés se constituem como exemplos de um Carnaval espontâneo, que independe de subvenções oficiais para sair às ruas da cidade.
Há anos que os Apinagés vem sofrendo um processo de esvaziamento como a própria cidade e Antonina, em que pese suas potencialidades turísticas de se transformar numa nova Parati, como centro de atividades ulturais e lazer. Cleto de Assis, artista plástico e que após ter ocupado a secretaria de Imprensa, assume a direção executiva da Fundação Teatro Guaíra nesta semana, é um dos homens mais preocupados com Antonina como um centro que necessita ter sua vida cultural e turística animada. E dentro de um conjunto de idéias[,]que podem fazer Antonina ter um extraordinário revigoramento[,] não pode deixar de estar uma vitalização do bloco Apinagés, que em sua humildade e simplicidade reúne muito de nossa tradição cultural[,] entendendo-se esta palavra em seu sentido antropológico.
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O Carnaval do Litoral Antonina e Paranaguá, basicamente teve durante muitas décadas características especiais. Inami Custódio Pinto, floclorista e pesquisador de manifestações populares, tem boas informações sobre a tradição carnavalesca desta região[,] ligado inclusive ao único prato típico do Paraná[,] o barreado, num folclore musical gastronômico qye apesar de oferecer um bom marketing promocional, raramente é explorado como deveria.
Será que só um carioca como Fernando Pamplona percebe a importância dos Apinagés serem estimulados? Eis um tema para reflexão de quem pode (e deve) auxiliá-los.
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Até que as coisas se acalmem, não convidem para a mesma mesa de aperitivos o bom Afunfa (Osvaldo Fernandes da Silva), presidente da Escola de Samba Mocidade Azul e o compositor Nelson Santos, alçado este ano à presidência da Comissão Organizadora do Carnaval de Curitiba. Na última quinta-feira, numa das reuniões preparatórias da festa, a temperatura subiu quando Nelson não aceitou algumas colocações de Afunfa, fez críticas genéricas aos ex-presidentes das comissões de Carnaval e, em conseqüência, desentendeu-se com Afunfa e também Julinho (Julio Cesar de Oliveira), da Acadêmicos da Sapolândia.
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Afunfa recusa agora a ajuda oficial da Prefeitura Cr$250 mil e garante que sua escola sairá com mais de 2 mil integrantes, num investimento de Cr$ 6 milhões. Matematicamente, prova de que a ajuda dada pelo município para sua escola apresentar um belo espetáculo (merecedor, inclusive de participar do primeiro grupo na Avenida Marquês de Sapucaí, no Rio) não chega nem a Cr$ 80,00 por pessoa. Nos últimos cinco anos, a Mocidade Azul tem sido [imbatível] no Carnaval curitibano, com temas bastante felizes: os imrãos Queirolo ("Enfim, Eles Voltaram", 1977), folclore("Caboclo: Gloria e Orgulho de um Povo", 1978); ecologia ("Cataratas do Iguaçu", 1979); memória da cidade ("Cassino Ahú", 1980) e turimo ("Uma viagem ao litoral", 1981). Este ano, a Mocidade Azul sairá com um enredo mais simbólico "Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai", onde, promete Afunfa, haverá crítica inclusive às multinacionais "que ameaçam a ecologia do Brasil".
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De Carnaval, também: contratada por Móveis Pinheiro para coordenar seu setor de relações públicas, a produtora Léa Kissenberg, locutora, atriz e modelo, bolou um excelente esquema promocional. "T-shirts"para as bandas da cidade, um concurso de fantasias infantis e outras boas idéias que farão com que a verba publicitária investida nesta promoção tenha um bom retorno.
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