Login do usuário

Aramis

Berro faz Caciques cantarem Nativismo

É lamentável que as gravadoras nacionais não estejam dando a atenção merecida para divulgação dos discos de música nativista no Paraná. O movimento nativista é tão forte no Rio Grande do Sul, onde se realizam meia centena de festivais de música anualmente, que os discos contendo estes eventos em suas músicas finalistas, bem como dos elepês individuais de alguns artistas, alcançavam vendagens tão grandes que não há nem preocupação em estender os esforços promocionais fora daquele Estado. No caso do Paraná, que abriga especialmente nas regiões Oeste e Sudoeste uma influente população que migrou do Rio Grande do Sul a partir dos anos 50, discos com os que documentam o Califórnia da Canção (cuja 14ª edição, realizada em dezembro último, acaba de sair pela Philips) ou do Musicanto, de Santa Rosa (produção de Airton dos Anjos, edição da Sigla/Som Livre) tem amplas condições de venderem muito bem. Nunca é demais lembrar que Renatinho Borghetti, 21 anos, num elepê cuja produção custou menos de Cr$ 2 milhões, já ultrapassou as cem mil cópias - sendo o primeiro instrumentista (toca gaita de ponto) a merecer um disco de ouro. Nem por isto, seu disco foi divulgado no Paraná. Por tudo isto merece aplausos o veterano Roberto Berro, 46 anos, 18 de fonografia e desde 1970 em Curitiba, ex-representante da Polygram, hoje o atuante homem da Barclay, que sentindo as possibilidades do grupo Os Caciques, de Guarapuava, sugeriu a Ely Oliveira, big-boss de vendas da Barclay, a produção de um segundo elepê com este quarteto que se dedica a música regional, Ely deu sinal verde e assim Berro trouxe Os Caciques a Curitiba, levou-os ao estúdio Sir e agora está saindo o elepê "Vozes do Pago" - já com boas vendas. Formado pelos irmãos Adilson e Marcelino Batista Morais, mais Jair e Nelson, Os Caciques já haviam gravado um elepê na etiqueta Tiaraju ("Fandango de Campanha"), que apresentou excelente vendagem. Formaram, assim um público que com toda a certeza assimilará este segundo elepê, descontraído, alegre e dos mais interessantes. Embora radicados no Paraná, Os Caciques tem uma formação nativista - o que sente-se nas canções otimistas, alegres, valorizando a terra, os sentimentos - características no canto gaúcho. Excelentes acordeonistas, mostram os esplêndidos recursos da harmônica em "Tosquiada", composição de Adilson Moraes. Marcelino Moraes Filho é autor de "Quem Sou Eu", "Nova Estância" e "Ainda Morro Disso", enquanto Luiz Carlos Costa compôs "Vozes do Pago"; e Ediu e Pedro Bonavigo o "Sempre Dizem que fui Eu". Guarapuava é cantada por Edu Itararé em "Saudades de Guarapuava", enquanto Ari dos Santos mostra uma bem humorada descontração em "Melhor do que Pão com Banha". Mas é "Tomando Mate", de Jair Lemos que traz toda a carga nativista, de exaltação a natureza. Um belo disco de raízes que mostra a integração nativista do Paraná e Rio Grande do Sul. Produção feliz do estimado Roberto Wilson Berro, de quem esperamos novas realizações. Afinal, em Porto Alegre, Ayrton dos Anjos já lançou mais de 200 elepês com artistas. Berro pode estimular os valores paranaenses, também em suas produções fonográficas. xxx Valdomiro Mello é um entre tantos cantores/trovadores do Rio Grande do Sul, com grande popularidade naquele Estado. Seu novo elepê ("De Sul a Norte", Polyfar) parece mais uma audição radiofônica, tal o número de mensagens que entremeia nas canções gravadas. Dirige-se a amigos de vários municípios, numa forma coloquial e simpática, que deve funcionar em termos de vendas. Valdomiro traz uma espécie de resposta ao sucesso de Sérgio Reis ("Panela Velha"), dizendo em "Panela Vazia" (Parceria com Auri Silvestre), com muito humor: "Panela nova também faz comida boa/Mas anda à toa quando está vazia". Gildo de Freitas, admirável trovador gaúcho, falecido em dezembro de 1983, - e que está sendo agora biografado pelo jornalista Juarez Fonseca da "Zero Hora" para um dos próximos volumes da coleção "Esses Gaúchos" (Tchê Edições), é reverenciado por Valdomiro Mello: Adeus, ó Gildo de Freitas/Numa mensagem sincera O Rio Grande te deu prova/Que muito te considera Com tua morte entristeceu/Que nem galpão de tapera Enlutou a terra sulina/E lá na estação divina O patrão grande te espera Valdomiro Mello apresenta letras grandes - mais para serem declamadas do que cantadas, enaltece o amor, os pampas, fala de amores, recorda a infância e, principalmente, lembra os amigos. Um disco emotivo e sincero, que funciona como uma espécie de complemento dos shows deste trovador dos pampas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
19
17/02/1985

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br