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Aramis

A briga com o ECAD foi para a justiça

A previsão mais otimista era de que um público de 40 a 45 mil espectadores poderia comparecer ao show no Estádio Couto Pereira. Na ponta do lápis, o engenheiro e financista Rubens Maluf, 44 anos e o primo Luís Cláudio Maluf, 46, elaboraram o planejamento e o risco calculado para um grande projeto: US$ 100 mil para o show de Nina Hagen, mais os custos de produção local, publicidade etc. - ao redor de Cr$ 300 milhões. Ontem pela manhã, os dados reais: ao redor de 12.000 espectadores no Couto Pereira, sábado à noite. Portanto, um resultado abaixo do previsível. xxx Empresários de sólido patrimônio (Rubens possui aqui há 20 anos uma firma de consultoria), os Maluf tentaram oferecer a Curitiba a oportunidade de assistir um show internacional. Otimistas, não amargavam, ontem, ira maior; ao contrário, ainda não tinham descartado a possibilidade de bancar um outro show - este em nível bem mais sofisticado, para um espaço apropriado: Ray Charles e Ella Fitzgerald, que juntos iniciam uma tournée internacional, provavelmente a última que a grande cantora de jazz realiza. Entretanto, o fracasso de público no show de Nina Hagen deve ter explicações. Para os promotores do espetáculo, o vilão é claramente identificado: o escritório do Ecad. A história já está no âmbito judicial onde oferecerá alguns desdobramentos. xxx A pretensão do Ecad, em termos de cobrança dos direitos autorais, foi simplesmente absurda. Partindo do fato de que o Estádio Couto Pereira tem capacidade máxima de 75 mil lugares, taxou a promoção em exatamente 37.500 ingressos - o que significaria um depósito prévio de mais de Cr$ 100 milhões. Com razão, Rubens Maluf acionou o eficiente advogado José Taliberti, que em São Paulo (fora do Ecad e das sociedades que representa) impetrou mandado de segurança para garantir o direito de fazer o depósito legal - e não a absurda taxa pretendida. A medida cautelar foi acolhida pelo juiz Cristiano Ferreira Leite, da 8ª Vara Civil de São Paulo, em despacho na tarde de 3 de outubro último. Em Curitiba, no dia seguinte, o Ecad tentou um embargo dessa decisão junto à 14ª Vara, através de liminar que não foi acolhida pelo juiz Sidnei Mora. Assim, amparado pela decisão judicial, o show de Nina foi liberado junto à Polícia Federal (que normalmente só dá autorização após aprovação do escritório local do Ecad), já que a questão se encontrava sub judice. Entretanto, os representantes locais do Escritório de direitos Autorais não se conformaram e tentaram pressionar as autoridades, causando tumultos na hora do show, pois até a segurança da promoção se viu envolvida em conflitos, que quase terminaram em grossa pancadaria. xxx A discussão sobre os direitos autorais desbordou para a fase dos boatos de que o show seria cancelado. Com isso - acreditam os promotores do show - houve retração na compra dos ingressos, de modo que, ao final, apenas 12 mil pessoas compareceram ao estádio. Outro fator que contribuiu para o esvaziamento: 42 ônibus trazendo cerca de 2.500 fãs de Ponta Grossa, Joinville, Blumenau, Florianópolis e outras cidades também não compareceram, mesmo depois de feitas reservas de ingressos. xxx Numa cidade em que temporadas artísticas apresentam melancólico resultados (no último fim de semana, no Paiol, apenas 80 pessoas compareceram nas 3 apresentações do cantor gaúcho Nelson Coelho de Castro), o fracasso do show de Nina Hagen não chega a surpreender. Surpresa é que ainda haja gente corajosa como Rubens e Luís Carlos Maluf, que bancaram um show milionário e, agora, têm que dispor de seu patrimônio, para honrar os compromissos assumidos, em razão dos prejuízos. xxx Mas há também surpresas: padre Zezinho, 50 lps gravados, cantor de músicas religiosas, levou ao Estádio Almir de Almeida, domingo à tarde, um público de 12 mil pessoas. Ou seja, idêntico ao de Nina Hagen - para ouvir canções espirituais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
08/10/1985

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