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Aramis

No estádio de vazios, o show de Nina Hagen

Às 20h47min, após a apresentação do grupo Intelligence, composto de três jovens brasileiros recém-chegados dos Estados Unidos, veio o aviso quase em tom de apelo: o público que se encontrava nas arquibancadas do Estádio Couto Pereira podia aproximar-se da área em frente ao palco, previamente destinada aos que se dispuseram a pagar Cr$ 130,00 pela cadeira (que, na verdade, acabaram não sendo colocadas ali). A decisão foi da própria produção de Nina Hagen: preocupada com os imensos vazios no estádio e para que o show não tivesse um aspecto melancólico, a solução foi democratizar o acesso: quem pagou Cr$ 30 mil pode, assim, ver de perto a cantora alemã e os músicos. As opiniões divergiam. A publicitária Silvia Dias, coordenadora de comunicação do espetáculo, garantia que 25 mil ingressos haviam sido vendidos até às 21 horas. Muitos duvidaram: se houve, realmente, esse número de ingressos comercializados, muita gente não compareceu ao Estádio Couto Pereira, e sábado à noite, apesar do clima agradável que fazia. Entre os descrentes com esse número, encontrava-se o gordo e experiente José Lázaro, 51 anos, 23 de atividades no show bussines, coordenador técnico da produção, que, nos bastidores, estimava "no máximo em 7 mil o número de espectadores presentes". Com o sotaque argentino e muita sinceridade, dava uma interpretação pessoal do pequeno público presente: - "É simples: considero Nina Hagen uma fraude!" xxx Nem 8, nem 80. Nina é uma cantriz extraordinária, em termos de marketing no palco: trocando de trajes, inúmeras vezes - de um excitante biquini com o qual abre o show até o traje em couro, na forma punk, que a caracteriza em tantas ilustrações, a cantora é elétrica, acompanhada de quatro instrumentistas da maior competência, também identificados, num amplo aproveitamento visual, com tudo que é possível. Teoricamente, o Estádio Couto Pereira comporta 75 mil espectadores. Nem 20% das arquibancadas foram ocupadas até às 21 horas, e, mesmo em frente ao palco, na grande área do gramado coberta com um plástico, a presença de espectadores era menor do que se poderia esperar. Poucos jovens caracterizados. Um ou outro punk de cabeça raspada ou colorida, brincos ou rostos maquilados. Na maior parte, garotos e moços da classe média, em jeans, relativamente [tranqüilos] e moderados inclusive nos aplausos. Ao final, houve pedidos de bis e "uma música a mais", mas não com a intensidade que se poderia esperar. xxx Até quinta-feira, a abertura do show com a participação da recém-nascida banda "Intelligence", de São Paulo, não havia sido anunciada. O produtor desse novo grupo, Glauco Guerina, 31 anos, veio a Curitiba na noite de terça-feira para acertar a participação do conjunto no show interessado, basicamente, na promoção que o evento poderia trazer ao grupo, que dentro de 30 dias pretende apresentar-se no Ginásio do Tarumã. Agora, após observar o público inexpressivo que foi ver Nina Hagen no Couto Pereira, talvez Glauco até mude o projeto: afinal, para uma banda nova, há apenas 8 semanas no Brasil, tentar atrair espectadores ao distante Estádio Almir de Almeida é um risco. O grupo "Intelligence" tem competência: compõe-se de Peter tosir, 28 anos, baixista; Albino Ivantosi, 27, bateria; e Claudio Celso, 29, guitarra - todos paulistas que se encontraram nos Estados Unidos. Ali fizeram alguns trabalhos - inclusive gravando um disco com produção de Roy Cicala, que inclui entre suas realizações dois dos LPs de John Lennon. Retornando ao Brasil e sentindo a poluição da música rock, com inúmeros grupos medíocres disputando um mercado em aberto, o "Intelligence" pretende fazer shows grandiosos e atuar em áreas bem definidas. Até agora, já se apresentou no "Latitude 90" e no "Rádio Clube" - danceterias paulistas. Contratados da RCA, começam a travar um elepê na próxima semana.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
08/10/1985

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