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Aramis

Cantores/compositores (III)

Um tema fascinante a ser explorado em trabalho de profundidade: estudar as influências geográficas na formação musical dos compositores, em suas canções, em sua visão artística ou comercial. A idéia surge-me ouvindo vários cantores e compositores, que independente de suas terras natais, podem se agrupar nos chamados "grupos" paulista ou carioca. Por exemplo, há 15 anos, quando Vinícius de Moraes declarou, no auge da Bossa Nova de que São Paulo era o túmulo do samba, houve quase uma revolução. Protestos, movimentos, ensaios, críticas, etc. É claro que o poeta brincava tanto é que hoje, o seu parceiro querido, Toquinho, é um paulista. Em São Paulo, hoje, há mais de uma dezena de casas de samba, fenômeno aliás que cresceu nos anos 60, paralelamente a revelações de tantos talentos - na chamada época dos Festivais: Mas sempre há quem insiste em classificar geograficamente os sambistas cariocas e paulistas, mesmo com a ponte aérea, que hoje não é só entre as duas capitais, mas nacional. Benito Di Paula, por exemplo, é o caso mais claro do sambão jóia, o sambão-marketing, feito no esquema fácil de comercialismo. Ex-bolerista das noites paulistas, achou no romantismo piegas, na batida acadêmica, o caminho fácil para o sucesso - na mesma esteira de um Agepê ou o também paulista Wando (Wanderley Alves dos Reis, 30 anos), este mais humilde e simples, que teve o grande impulso promocional ao ter uma de suas mais românticas músicas "Moça", incluída na trilha sonora de uma telenovela" ("Pecado Capital"). São compositores simples, gente geralmente sem maior preparo intelectual, em busca de estabilidade econômica e que se deslumbram com o sucesso momentâneo. E de quem as gravadoras passam a exigir uma produção regular, para o mínimo de um elepê anual e, é claro, a produção cai. Wando, por exemplo tem agora o seu terceiro lp. ("Ilusão", Beverly, BLP 9155, setembro/77), onde é autor de sete das 11 músicas, tendo, evidentemente parceiros (Rosemarie, em "Feira Louca"), Luís Wagner em "Se Quiser Chorar Por Mim", Macario Batista em "Cor da Minha Cor", e Edson Conceição e, "O Que Você Foi Fazer Ontem Em Meu Quarto!"), além, de sozinho, ser autor de "Presidente da Favela", "Senhorita, Senhorita". Wando é despretensioso - embora confuso algumas vezes, em seus temas. Sente-se nele um talento em bruto, que, infelizmente, está deixando de ser burilado pela pressa, pela exigência que fazem de novas músicas, de sua presença como artista de consumo. O resultado, é claro, acaba sendo prejudicial, embora, em alguns momentos, algumas frases de suas músicas, algumas harmonias, impressionem. Ainda sem ter tido o boom de Benito Di Paula ou Wando, Luís Américo, que partindo para temas futebolísticos ("Camisa 10) conseguiu chegar nas paradas há algum tempo, ampara o seu novo lp ("Meu Boné", Chantecler, 212 703 074, setembro/77), com pelo menos duas composições, já consagradas, de autores que parece admirar Lupicinio Rodrigues/Alcides Gonçalves ("Quem Há De Dizer") e Luiz Gonzaga Jr., ("Pois é Seu Zé"). Afora "Perdi Você" (Conde Fernete - Bráulio de Castro - Adilson Francisco), e "Cavaco e Violão" (Américo-Conde Fernete), todas as demais faixas são de sua autoria, em parceria com um jovem chamado Braguinha (não confundir com João de Barro, o Carlos Alberto Ferreira Braga, Rio de Janeiro, 25 de março de 1907). São também sambas simples, falando de coisas triviais, ingênuos a partir dos títulos "Meu Boné", "Tempo de Amar", "Fim de Prosa", "Bar em Bar", "Breque de Boi", "Meu Travesseiro", "Gabiroba", etc.), que devem, é claro, serem ouvidos, com simpatia, pois afinal trata-se de um trabalho de um jovem voltado a nossa música, mas ainda em busca de um caminho mais pessoal. Bebeto (Roberto Tadeu de Souza, 31 anos) é outro jovem guitarrista, cantor e compositor de algum nome na noite paulista, que se exibe em incrementadas casas, onde mais se dança do que se curte a boa música: Com diferentes amigos - Theodoro, Dhema, Lobo e Té Walter Santos (será o excelente compositor da fase da Bossa Nova, hoje jinglista?) - Bebeto compõe suas músicas que vem gravando em elepês. O seu segundo lp-solo ("Esperanças Mil", Copacabana, 12129, agosta/77), o traz cantando músicas como "Água, Água", "Princesa Negra de Angola", "Hei Cara", "Sol de Verão", "Sua Presença Me Faz Feliz", etc. Se Wando, Luís Ámérico e Bebeto, para só citar três exemplos, podem ser vistos com simpatia, e até esperança, sive estímulo e um crédito de confiança, e até esperança o mesmo não pode dizer de intérpretes que enriqueceram com o Samba, são hoje famosos nacionalmente e não se preocupam em renovar-se, em melhorar seus repertórios. E o que ocorre com Jair Rodrigues (de Oliveira), paulista de Igarapava (6/2/1930), 15 anos de carreira, hoje um dos artistas mais ricos do Brasil. Extremamente simpático e comunicativo, desde que começou sua carreira, em 1961. Jair teve a orientação de Corumba (ex-dupla com Venâncio), até hoje o seu empresário artístico. Infelizmente, Jair há muitos anos não se preocupa em ter uma melhor produção, fazendo seus elepês de afogadilho, como observou, meses atrás, Sérgio Cabral. O resultado é que embora venda bastante, tenha muitos contratos para shows, em termos artísticos vem decaindo. "Estou com o samba e não abro!" ((Phillips(, 6340342, outubro/77), é como tantos outros de seus discos: Jair mais ri do que canta, procurando superar com letras aparentemente bem humoradas, com cacos totalmente dispensáveis, o que falta em qualidade. Tipicamente paulista, Jair canta músicas das mais lamentáveis neste seu novo lp. Como "Compadre São Paulo ("Zé Dia") e "Qual é a do Boi" (Beto Sem Braço/HervalRios). Nem a presença de compositores mais sérios, como os baianos Edil Pacheco ("Olhos de Naná") e Ederaldo Gentil ("Semear do Canto"), ou a regravação "Aquarela (Mineira(" de Ary Barroso, fazem deste lp merecer melhor cotação. Outra faixa lamentável, que mostra toda a falta de critério de Jair na escolha de repertório é a ridícula "Viva a Mulher da Gente" que só pode justificar por ter creditado como um dos seus autores o seu superempresário Corumba. Não é que se queira apenas criticar os sambistas paulistas, mas realmente o pessoal está precisando de uma sacudida. O simpático Francisco Egydio (São Paulo, 17 de janeiro de 1927), 26 anos de carreira e que, no início dos anos 60, estourou com a versão de "I Believe", grande sucesso de Mahalia Jackson (1911-1972), é outro exemplo de cantor que não procura renovar seu repertório. Passou anos na Odeon, onde seu melhor trabalho foi um lp interpretando músicas de Lupicinio Rodrigues (que continua a ter no veterano Jamelão ainda o melhor cantor para seus sambas dor-de-cotovelo). Agora, voltando, com novo nome - "Chico Egidio" (sem "Y") (Chantecler, 2-08-701-078, setembro/77), desperdiça uma boa oportunidade: dispensáveis versões como "Escondido" (Luís Araque), "Noite de Ronda" (Maria Teresa Lara), "Te Amo Eternamente" etc.; ou velhos sucessos - "Se Alguém Perguntar Por Mim" (Luiz Wanderley), "Risque" (Ary Barroso), "Caminhemos" (Herivelto Martins), "A Volta do Boêmio" (Adelino (Moreira(). E o mais triste é que Egidio, de grande potência vocal, exagera em suas interpretações, no estilo que há 30 anos já era superado. Por estas e outras que ele anda esquecido, fazendo roteiro das churrascarias. O que é pena, pois se bem orientado poderia ter um público bem maior. Ouça-se, dois recentes elepês de sambistas cariocas: Luiz Ayrão e Roberto Ribeiro, ambos hoje os principais nomes nesta área, da gravadora Odeon, Luiz (Gonzaga) Ayrão, carioca de Grajaú, 19 de janeiro de 1942, menos de 10 anos de carreira profissional, vários sucessos implacados, é um sambista que também faz muito mais bossa e balanço do que seus colegas paulistas. Compositor eclético - que já forneceu até êxitos para Roberto Carlos, Ayrão, em seu novo lp (Odeon, SBXLD 13.071, setembro/77), mostra-se muito à vontade, com apenas cinco composições próprias, reservando as demais faixas a músicas de amigos em quem acredita, como Sidney da Conceição ("Os Amantes", "Vem Amor"), Tiãozinho Posta ("O Que Que Há Portela", um atual tema, em relação as vitórias do Beija-Flor). Entre suas músicas, um semi-choro em homenagem a Chico Buarque de Hollanda ("Meu Caro Amigo Chico"), calcado em cima de "Meu Caro Amigo", que se destaca no lp. Aliás, Chico tem merecido várias homenagens: o compositor português Paulo de Carvalho lhe dedicou um "Recado para o Chico" (TLD - Cooperativa Disco, Lisboa, setembro/77)e a ponta-grossense Denise De Kalafe, radicada no México, também fez uma belíssima música para Chico. A de Luiz Ayrão, aproveitando muito bem a letra de "Caro Amigo", tem embalo e um bom destaque da flauta (possivelmente o mestre Copinha). Se Ayrão já é ouvido com prazer, Roberto Ribeiro, fluminense de Campos, ex-jogador de futebol, mais de 12 anos de carreira, continua a ser um dos melhores sambistas, como intérprete principalmente. No encarte que acompanha o seu lp "Poeira Pura" (((Odeon, SMOFB 3939, setembro/77), o jornalista Roberto Moura, disk - review d'O Pasquim", acentua aquilo que há pouco falamos, lamentando a falta de critérios de Jair e Francisco Egydio na gravação de seus elepês. Diz Moura: "Repertório - taí o que salta na frente à primeira audição desse quarto elepê de Roberto Ribeiro, indiscutivelmente o mais bem dotado dos intérpretes da nova geração do samba. Neste "Poeira Pura" se percebe como o amadurecimento deste puxador de sambas do Império Serrano vai consolidar dentro da própria seleção das músicas (entre inéditas e não inéditas), o prestígio e o sucesso que os discos anteriores lhe proporcionaram - e não foi por acaso"). Lançado por Hermínio Bello de Carvalho - que produziu seus 2 primeiros lps levando-o, inclusive, à Europa, na Brasilexport, junto com Simone e João D'Aquino, em seu primeiro lp solo ("Molejo"), Roberto já demonstrava as suas possibilidades como cantor, suficiente para lhe valer o título de revelação. Em 76, "Arrasta-Povo", já produzido por João (D'(Aquino, reunia excelentes composições, de gente como Ivone Lara e Delcio Carvalho & ("Acreditar") ou a regravação de "Quitandeiro" (Monarco/Paulo da Portela). Agora, "Poeira Pura" é, usando a feliz definição do bom amigo Roberto Moura, "um prisma cujo reflexo mais forte é o repertório". Uma faixa deste lp, "Amor De Verdade", (Flávio Moreira - Liette de Souza), está entre os mais espirituosos sambas do ano, assim como "Início da Felicidade" (Monarco) e "Liberdade" ((Ivone( Lara - Delcio Carvalho). Um samba enredo de Silas de Oliveira, que o Império Serrano apresentou em 68 - "Pernambuco, o Leão do Norte", tem em Roberto, desta vez, uma grande interpretação. "Cabide de Molambo", o clássico samba de João de Bahiana (João Machado Guedes - 1887-1974), também ganha novo colorido no estilo liberto, equilibrado, que Roberto sabe dar as músicas que canta. Todas as faixas são de qualidade, mas destaque-se "Prece a Xangô", dos baianos Nelson Rufino/Zé Luiz, "Propagas" (Jorge A. Lucas), "Um Dia de Rei" (Noca da Portela - Daniel Santos). Roberto Ribeiro é também compositor, e dele são duas faixas, ambas parcerias com Joel Menezes: "Caro Amor" e "Engenho Novo". A faixa título, "Poeira Pura", é de João (D'(Aquino - Rubem Correa. Produção cuidadosa, presença de músicos do melhor nível - como Waldir e Aquino nos violões, Toco Preto e Carlinhos do Cavaco, e mais os apoios de "As Gatas", Golden Boys, Trio Esperança e Grupo Família, se completam para fazer deste um dos melhores elepês de samba do ano. Por último, um registro: Aloysio, um crioulo simpático e de boa voz - que não sabemos onde nasceu - faz afinal um lp solo "Por Muitas Razões ...", (((Tapecar, setembro/77), onde mostra bom gosto, gravando músicas como "Saia do Caminho" (Mesquita/Evaldo Rui), "Olhos nos Olhos" (Chico Buarque), ao lado de composições próprias ("Gênio no Espelho", "Maravilha", "Preciso Precisar", parcerias com Dora Lopes). Boa voz, boa produção - méritos a José Ribamar e Ed Lincoln fazem com que Aloysio mereça ser ouvido com atenção.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
28
13/11/1977
preciso do fone para contato do cantor Bebeto,Amigo caso tenha algum contacto me envie por favor sou de Porto Alegre. Bbrigado e feliz 2009.
Preciso do contato com número de telefone do cantor Bebeto para contratá-lo para fazer um show Rio de Janeiro
mpb
eu achei super interessante este site,mas eu queria uma lista com os nomes dos principais cantores e compositores para um trabalho escolar
Preciso de tel ou e-mail e nome da pessoa que poderei fazer contato para um show do Monarco em Porto Alegre

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