Celso Adolfo, o talento mineiro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de fevereiro de 1988
Uma das grandes revelações de 1983 foi o do compositor Celso Adolfo, mineiro de São Domingos do Prata. Após muita luta e com ajuda de seu amigo Milton Nascimento (que dele havia gravado o belíssimo "Coração Brasileiro", no elepê "Anima") estreou num álbum bem produzido pelo próprio Milton, então na Barclay. Carlos Felipe, de "O Estado de Minas", o definia como "o mineiro que canta as alegrias, chora o amor em versos românticos mas levanta também os problemas e o episódio histórico que vivemos em nosso mundo".
Excelentes composições, voz agradável, seguro violonista - apesar de tudo Celso Adolfo não "aconteceu" em termos de vendagem. Tanto é que se passaram quatro anos para fazer um novo disco, o que aconteceu no final de 1987, com uma produção independente (Diplomata Discos e Fitas, Rua Tupis, 1252, Belo Horizonte). "Feliz" é uma beleza de disco. Confirma - como se isto fosse preciso - o talento de Celso Adolfo como compositor, numa linha intimista, suave - lembrando o Chico Buarque de uma fase mais ingênua. Mas é apenas uma lembrança, pois Celso tem muita personalidade e garra. Sobretudo a ternura e a emoção com que desenvolve temas partindo da simplicidade de uma estrela ("Aldebaran"), "Água" ("Água / minha mãe, quero teu trilho / minha mãe, eu sou teu filho / Todo dia quero te ver"), ou da "Chuva" - esta uma canção infantil, dedicada aos seus sobrinhos. Romântico sem pieguice, "Depois do Amor" ("Nós Dois"), ecológico ("Passarim"), sem desprezar raízes afro ("Africana"), tem na simplicidade das letras bem construídas ("Luz da Tarde", e especialmente, "Feliz") o compositor pleno que é - capaz de fugir de esquemas, rótulos, mas fazer desde um tema infantil como um samba delicioso ("Me Deixa").
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