A CIA e o Brasil
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de setembro de 1974
Lançado no Brasil quase que simultaneamente ao seu aparecimento nos EUA, o livro-denúncia "A CIA e o Culto da Inteligência" (Editora Nova Fronteira, setembro/74, 198 páginas Cr$ 45,00) adquire algumas características especiais, que o tornam mais do que um simples best-seller. De princípio é a primeira vez que nos Estados Unidos, surge um livro censurado por decisão do Tribunal Federal os autores, Victor Marchetti e John D. Marks tiveram que submeter o manuscrito do presente livro à Cia (Central Inteligency Agency) para censura prévia. Conforme especificado na decisão do Tribunal a CIA ordenou a supressão de 339 trechos de extensão variada. Posteriormente em obediência às solicitações feitas à CIA pelos advogados dos autores e o início do processo do editor (Alfredo Knoff, bastante conhecido em Curitiba onde já esteve duas vezes, aqui tendo um de seus maiores amigos, o empresário Aristides Mehry) e dos autores contra a CIA, desafiando a censura 170 dessas supressões, foram reincorporadas. Escrita por dois homens que conheceram o funcionamento daquele serviço da inteligência nos bastidores, o livro traz fantásticas revelações, uma das quais se justifica inclusive chamada na capa tem especial interesse aos leitores brasileiros: no início de outubro de 1969 a CIA por intermédio de um agente secreto, soube que um grupo de radicais pretendia [seqüestrar] um avião no Brasil e fugir para Cuba. Essa informação foi transmitida à sede da CIA em Langley, Virgínia e da lá enviada numa base de "Só para ser vista" a Henry Kessinger na Casa Branca e aos funcionários superiores do Departamento de Estado, de Defesa e da Agência de Segurança Nacional. Dai a poucos dias, a 8 de outubro, os mesmos radicais identificados no relatório da CIA se apoderaram, de arma em punho de um avião comercial brasileiro com 49 pessoas a bordo e, depois de uma parada para se reabastecer na Guiana, obrigaram o piloto a seguir para Havana. Nem a CIA nem as outras [agências] do governo americano, que sabiam de antemão do plano dos radicais, tentaram impedir que o crime fosse cometido, embora naquela época a política oficial dos Estados Unidos tal como proclamada pelo presidente a de tomar todas as providências possíveis para eliminar a pirataria aérea. Mais tarde quando os funcionários do Departamento de Estado perguntaram a seus colegas da CIA por que não haviam tomado medidas preventivas para frustrar o [seqüestro], os agentes clandestinos da organização demoraram mais de um mês para responder. Nesse ínterim, as forças de segurança brasileira conseguiram dissolver o principal grupo revolucionário do país e matar seu líder, Carlos Marighella. Pouco depois, a 4 de novembro, a CIA comunicou a morte do líder revolucionário em caráter extra-oficial ao Departamento de Estado, frisando que se tivessem tomado qualquer precaução para impedir o [seqüestro] aéreo em outubro, a infiltração da agência no movimento radical seria desmascarada e a organização de Marighella não ficaria destruída.
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