A Cidade & O Tempo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de abril de 1974
Num país tão pobre de registros da História, com sua memória tão esquecida (às vezes até assassinada, como escreveu há alguns anos o jornalista Franklim de Oliveira), só mesmo o esforço de pessoas idealistas e entusiastas consegue preservar aquilo que o poder público tem obrigação de amparar. E um exemplo disto é o fotógrafo Arthur Wisehral, 80 anos, desde 1914 registrando-se cenas da cidade em que nasceu - Rua Paula Gomes, 80 - e da qual só saiu por três anos, na década de 40, quando foi trabalhar no Recôncavo Baiano, em pesquisas petrolíferas. Com extraordinária vitalidade e ainda eventualmente operando suas máquinas fotográficas, o "sêo" Wisehral, como é chamado carinhosamente, guarda um valioso patrimônio em termos de imagens de pelo menos cinco décadas de nossa cidade.
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Até hoje tem recusado as propostas para vender o seu acervo - temendo, e com justas razões, uma exploração comercial e desonesta de seu trabalho de fotógrafo, já que sempre procurou registrar cenas da cidade, de seu povo, quase mais por hobby do que com intenções mercantilistas. Ele próprio não sabe quantos negativos [possui], mas se orgulha de, em termos técnicos, garantir a perfeição das cópias que sempre fez - nas quais nunca deixou de registrar as datas em que as mesmas foram feitas - o que dá ainda mais valor ao seu acervo.
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Homem simples, sem maiores ambições, Arthur Wisehral tem assim em suas mãos um registro em branco e preto da evolução da cidade - em termos arquitetônicos, de costumes e mesmo social, pois em seus negativos estão - como uma máquina do tempo - as fisionomias de milhares de pessoas - desde nomes conhecidos, políticos, empresários, autoridades civis e militares, até os anônimos rostos da multidão. Mais do que um grande álbum-de-família, o seu trabalho teve uma característica especial: sempre que soube que uma casa iria ser demolida, preocupou-se em fotografá-la, idéia por sinal que embora já tinha sido levada, oficialmente, [à] Prefeitura, até hoje não foi aceita sob as mais diversas alegações.
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