Cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de abril de 1973
Uma das tendências do cinema americano nesta década parece ser a valorização do thriller negro, isto e, os filmes políticos em que o preto se afirma, vigorosamente, como herói individual (Shaft) ou grupo social-político (a quadrilha de "A Essência de um roubo-Cool Breezer", próximo lançamento da MGM). O sucesso de "Shaft" justificou uma seqüência, talvez com menos originalidade do que a primeira aventura, mas que, em termos de ação-violência-sexo tem condições de alcançar renda que garantirá sua permanência por duas ou três semanas na tela do São João, onde substituiu, inesperadamente, "O Fim de uma angústia" (Rage) o antimilitarista filme do George C. Scott que, pelo visto, não foi suficientemente compreendido pelo nosso público. E` preciso esclarecer, como já fez o crítico Ely Azevedo, do "Jornal do Brasil", a diferença nítida entre o thriller negro - no sentido trágico - do cinema americano de pós-guerra e a tendência dominante dos black movies que hoje movimentam surpreendentemente as bilheterias. Estes, na trilha aberta pelo vigoroso Shaft, expõem uma irreverência superficial, malandra, sem maiores prestações que excitar e prender a atenção do espectador durante hora e meia, enquanto os thrillers da Hawks ("A Beira do Abismo-The Big Aleep"), Dmytryk ("Crosfire-Rancor"), Huston ( "The Aslphalt Jangle-O Segredo das Jóias) proporcionavam uma visão realista da sociedade americana. Shaft, o detetive negro criado pelo roteirista Ernest Tidyman, não se compara ao private eyes de Chadler, Burnett ou Dashiell Hammett: é um personagem estereotipado aparentemente boçal, racista, mas que conquista o público. E o que faz este "Shaft`s Big Score!" merecer uma atenção do público, ai menos pela presença da bela Kathy Imrie.
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