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Aramis

Cloty, as cores das matas, dos pássaros

No início, era o barro! Na verdade, a porcelana branca, bem simples, sobre a qual fazia figuras simples, sem pretensões. Quase um artesanato, um passatempo para ocupar horas livres que, após ver os dois filhos - Marcos e Ricardo, prósperos e independentes, os cinco netos já na escola - a fazia utilizar uma energia que sempre a caracterizou. Da pintura de porcelanas, uma evolução para o desenho e mesmo o óleo. Autodidata, sem desprezar a experiência de quem lhe poderia ensinar, Cloty, em três décadas, fez a sua sensibilidade evoluir em cores e formas. Adquiriu um estilo, brasileiramente voltou-se a temas verde-amarelos - a flora, a fauna, o nosso folclore e até a nossa história. Hoje, mesmo sem pretensão, seu trabalho tem uma identidade e um reconhecimento que a faz ser convidada para salões importantes. Como a mostra de arte no Ambiente Cultural Maria Luiza do GBOEX, em Porto Alegre (Rua 7 de Setembro, 604, térreo), em exposição dividida com Paulo Aguinsky, de São Borja, RS; Henrique Radomsky, de Porto Alegre e Analino Zorzi, de Flores da Cunha. xxx Entre os trabalhos de cerâmica de Aguinsky, as modernas esculturas de Radomsky e os óleos brilhantes de Zorzi, a pintura cromática de Cloty - com seus passarinhos, flores e borboletas - é um toque ecológico, entremeado da própria poesia-apresentação, no belíssimo catálogo, em que, com seu espírito de religiosidade, a artista diz: "Nada te peço Senhor / Também não me ajoelho a teus pés / Isto não me é necessário / Pois vivo prostrada / a vida inteira / ante tudo que criaste!" "Ouço o pipilar dos filhotes bicos rasgados ao pressentirem a chegada ao ninho da mãe com alimento. Vejo a flor enfeitar alegrias e tristezas, com seu colorido e perfume sigo o voar da abelha Zanzando entre as flores Anseio incontido Na nostalgia do por do sol, nas frias tardes de inverno" As palavras de Cloty traduzem em letras as imagens coloridas de suas letras. Trabalhos que nestes últimos anos, têm freqüentado, com regularidade, coletivas, salões e mesmo algumas individuais. A primeira exibição, modesta, tímida, foi em 1956, no Salão Paranaense, quando Cloty ainda assinava o seu nome verdadeiro - Clotilde Quadros de Cravo - Quadros, como seu primo Jânio; Cravo, do marido, o general Djalma, hoje aos 81 anos. Em 1957, uma presença numa coletiva no Círculo Militar - mais na condição de esposa de oficial do que propriamente com pretensões artísticas. No ano seguinte, entretanto, voltava a participar de duas coletivas - uma delas o Salão de Artes Primavera, no Concórdia. Passaram-se, entretanto, nove anos, antes que Cloty se decidisse por uma individual. Mulher dinâmica, participante de várias instituições femininas - chegou mesmo a ter projetos de uma candidatura a Câmara e seu sonho maior seria ver o filho Ricardo, hoje um dos mais prósperos empresários da nova geração, seguir a carreira política - Cloty aposentou nos anos 70 as ambições políticas e passou a se dedicar a pintura. Assim, da modéstia naif encontrou seu estilo e duas dezenas de mostras constam hoje de seu curriculum. Modesta, sem pretensões de um dia se tornar uma profissional da pintura, Cloty tem hoje seus trabalhos bem colocados no mercado do Sul e ter sido convidada para participar da mostra de arte da GBOEX, na capital gaúcha, lhe trouxe uma natural alegria. Tão grande quanto a definição que o poeta e crítico Armindo Trevisan deu a sua pintura: uma festa para os olhos. "Uma pintura que, por meio de grafismos elegantes e de um ludismo que tem algo de um "divertissement" convida os espectadores a um vôo controlado, o vôo das lendas sancionadas pela oralidade. Cloty dá linha à pandorga multicolorida da imaginação; e também, quando esta ameaça perde-se no firmamento arbitrário, puxa-se para a atenção do espectador, mediante uma coreografia de linhas hipnóticas. É uma pintura que tem o mérito de mexer com o "nervo da surpresa" - para empregarmos uma expressão de G. K. Chesterton". LEGENDA FOTO - Cloty - Clotilde Quadros de Cravo - uma artista em evolução, participa de mostra em Porto Alegre.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
31/05/1990

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