As danças coloridas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de maio de 1977
Somente às 19 horas de segunda-feira chegou a Curitiba o guarda-roupa dos bailarinos (as) do Moisseiv. Os artistas - bailarinos e músicos - também só chegaram à tarde poucas horas antes do espetáculo.
Entretanto, com o maior sentido profissional, a apresentação de estréia teve o mesmo brilho e gabarito que faz, há 40 anos, o grupo fundado por Igor Moisseiv, uma das mais famosas companhias de dança do mundo. Apesar do altíssimo custo de produção - a Escala, de propriedade de José Barbosa, responsabilizou-se pelo transporte aéreo de 150 pessoas, de Buenos Aires a Moscou, passando por várias capitais brasileiras, mais hospedagem e cachê de US$ 4 mil por apresentação - a temporada do Ballet Mosseiv (hoje, 21 horas, última apresentação no Guairão se constitui num dos grandes eventos artísticos do ano. E vem contribuir para ampliar ainda mais o gosto pela dança - setor no qual o público curitibano tem sido, particularmente, privilegiado. Após as marcantes temporadas de 75/76, temos agora novas opções; do corpo de baile da Fundação Teatro Guaíra, interestadualizando-se com seu balé "Giselle" às próximas temporadas do balé do Canadá (dias 1º e 2 de junho) e do Tahiti ( 4 a 8 de junho), entre outros espetáculos programados.
***
Caberia a um especialista em danças, se houvesse, na imprensa local, um análise pormenorizado do balé Moisseiv.
Ao leigo, entusiasta o colorido, o vigor, o entusiasmo das belíssimas bailarinas (muitas ucranianas) que, ao lado de jovens dançarinos, fazem dos 14 números do espetáculo montado para essa temporada, momento de grande beleza. Igor Filatov, executivo na montagem, em colaboração com Lev Golavanor e Anatoli Fedorov procurou um programa de fácil comunicabilidade, valorizando os coloridos trajes criados por Anna Petrova e dando a alguns números a leveza e movimento, capazes de lembrar alguns dos melhores momentos do músical visto no cinema. A "Dança Campestre", quinto número da primeira parte, com 7 bailarinos e 7 bailarinas, em danças quase acrobáticas e ultra-ritmadas, faz o espectador lembrar os antológicos momentos criados por Sranley Donem em "Sete Noivas Para Sete Irmão" (Seven Brides For Seven Brother, 1955), talvez um dos mais importantes musicais de todos os tempos. Evidentemente, o folclore cultuado pelo moisseiv nada em comum com a coreografia dos músicos americanos, mas em ambos há o mesmo cuidado profissional, vigor e colorido - para oferecer um espetáculo capaz de, realmente, encher os olhos do espectador que, pagando Cr$ 200,00 de ingresso, sente-se gratificado. Além da beleza visual, os sons perfeitos da grande orquestra sob regência de Anatoli Gus, complementada, em alguns números, com românticos solos de violino ou acordeon, no palco - na execução de bailarinos-musicos, como nostálgica "Quadrilha Antiga da Cidade". Há concessões, buscando agradar a platéia latina americana - como o número "Gaúcho", que nada acrescenta. Pois a identidade se estabelece nos números de maior ritmo e acrobacia, como no visualmente encantador "Os Cossacos" (encerramento da primeira parte) ou na Suite Ucraniana Vesnianka, cujo extraordinário salto mortal de um dos bailarinos, é bisado, sob entusiásticos aplausos do público em pé.
Enviar novo comentário