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Desafio hindu abrirá mostra que custará 20 mil dólares

Mesmo sendo um cinéfilo desde a infância, fã especialmente do cinema estrangeiro, o prefeito Jaime Lerner terá que estar descansado na noite do próximo dia 5, segunda-feira, para não dormir (ou sair durante a projeção) quando for assistir "O Mahabharata", que abrirá a extensão curitibana da XIV Mostra Internacional de Cinema - e que se estenderá por três semanas. Mesmo sendo apenas um dos dez (dos 46) filmes com legendas em português que serão apresentados na mostra, "Mahabharata", com seus 171 minutos está entre os mais pesados, difíceis e desafiadores filmes já realizados - sendo uma obra não comercial, destinada a públicos especialíssimos conforme reconheceu um de seus produtores o francês Michael Propper, que se encontra em São Paulo tentando vender seus direitos (e também da mini-série da televisão, seis horas) para exibição normal do Brasil. A denúncia aqui feita sobre o plano inicial da Fucucu em detonar mais de US$ 100 mil para trazer a Mostra integralmente, à Curitiba - o que indignou milhares de pessoas (e poderia até provocar uma CPI na Câmara) fez com que o projeto se adequasse a uma realidade. Assim, ao contrário do que ocorreu em 1989, houve preocupação de eliminar da programação os filmes já com exibição assegurada no circuito exibidor, pois seria criminoso pagar milhões de cruzeiros para que estas produções que normalmente terão exibição (a maioria no circuito da própria FUCUCU) fossem antecipadas em algumas semanas. Em compensação, mais uma vez, entre os filmes que só vieram para a Mostra organizada pelo paulista Leon Cakoff, alguns dos melhores títulos não chegarão a Curitiba, ficando apenas restritos a São Paulo. Ontem, as senhoras que dirigem a FUCUCU/Secretaria Municipal da Cultura haviam prometido uma entrevista coletiva para justificar o investimento - oficialmente de Cr$ 2 milhões, (mas que, a exemplo do que houve em 1989, podendo chegar a cifras bem maiores) e os critérios de "seleção" (sic) dos filmes que virão a Curitiba. A assistente social Celise Niero, 31 anos, paranaense de Maringá, teria se "aconselhado" (sic) com críticos da "Folha de São Paulo" - Amir Labak e Nelson Brissac Peixoto, mais o próprio Cakoff e também aceitando palpites do Sr. Fernando Severo (realizador de "O Mundo Perdido de Kosak") para escolher o que será visto pelos curitibanos. Embora ainda se desconheça a totalidade dos 84 longas e 33 curtas que estarão na maratona paulista - e cotejando-se com os títulos que constam da programação para Curitiba (sujeita, obviamente, a substituições de última hora) já se constata que obras importantes serão sonegadas aos espectadores curitibanos. Afinal, no ano passado, enquanto vieram para o rastolho da mostra uma dezena de filmes que logo depois teriam lançamento comercial, o mais importante documentário trazido pelo Sr. Cakoff - "História do Vento" do holandês Joris Ivens (1898-1989), apesar de prometido para a abertura acabou sendo substituído por "Mistery Train", de Jim Jarmusch (que naquelas alturas já estava negociado para lançamento comercial), e não foi exibido. Foi a primeira das várias maracutaias em termos de programação que frustrou os cinéfilos - e faz com que a insistência da Fucucu/Secretaria Municipal de Cultura em investir milhares de dólares nesta nova edição sejam devidamente fiscalizados. A mostra tem sua validade, há alguns títulos interessantes - mas a forma com que as negociações foram conduzidas faz com que, com toda razão, muitos façam indagações. Sem falar que se há dinheiro para este tipo de promoção, quando se trata de prestigiar os cineastas e videomakers locais a Fucucu nada faz - ao contrário, prejudica inclusive vários projetos, conforme, temos denunciado em nossas colunas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
23/10/1990

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