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Aramis

Dos Pastores baianos ao King Kong

Há dois anos, quando três filmes baseados em romances de Jorge Amado foram rodados, simultaneamente, na Bahia - "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de Bruno Barreto (o maior êxito de bilheteria do cinema nacional nos últimos anos), "Tenda dos Milagres" de Nelson Pereira dos Santos (1) e "Os Pastores da Noite", coube ao (francês( Camus (2), o mérito de se preocupar em entregar a gente da Bahia a criação da trilha sonora. Embora a banda musical de "Dona Flor", a cargo de Chico Buarque e Francis Hime, trouxesse êxitos como "A Flor da Terra" (o lp com a trilha original, embora prometido, não foi lançado pela Sigla), "Os Pastores da Noite", com coordenação musical entregue ao astuto Roberto Santana, reuniu compositores baianos da nova geração. E o resultado está num belíssimo lp RCA Victor, ((103.191, junho/77)(, candidato a entrar na lista dos melhores do ano - e seguramente com mercado internacional garantido, acompanhando a carreira do filme de Camus. A dupla Antonio Carlos e Jocafi criou 5 músicas para a trilha ("Otália da Bahia", "Bota a Boca", "Batucada", "Jesuino Galo Doido" e "Marialva"), encarregando-se de interpretar apenas uma, entregando as demais à voz perfeita de Maria Creuza, que defende ainda belos temas de Walter Queiroz ("O Bahia", "Maravilha", esta dividida com o autor, "Canção de Adeus, Saudade"). A diversificação salutar da trilha permitiu ainda a presença do percussionista Djalma Corrêa, vocalizando sua parceria com o poeta Ildazio Tavares intitulada "Bate-Bate", o trio Os Tincoãs em "Marialva", Walter Queiroz catando "Capoeira Pra Cabo Martins", a dupla Kris e Cristina (3) em "Bota A Boca", Emilio Santiago dividindo com Creuza uma das versões de "Otália da Bahia" (belíssima música, repetida 3 vezes no lp, uma das quais instrumentalmente com solo de gaita de Rildo Hora) e mesmo uma "Batucada" exclusivamente com bateria. O equilíbrio do disco, a integração de vários compositores-intérpretes de uma mesma geração e, principalmente o extraordinário apuro de Maria Creuza, fazem da trilha sonora de "Os Pastores da Noite", um dos melhores lps da temporada, valido principalmente por antecipar a trilha sonora de um filme que, ao menos musicamente, promete tanto quanto "Orfeu do Carnaval", que Camus aqui rodou há 20 anos passados. Uma modesta produção da RKO (Whate Price Hollywood", 1932), inspirou, há 40 anos passados, a primeira versão de "Nasce Uma Estrela", dirigido por William Wellamn. Em 1954, George Cukor voltaria ao mesmo tema trabalhando sobre o roteiro de Wellman e Roberto Carson, mas, evidentemente, atualizando a história de uma atriz que tem chance de reaparecer graças ao esforço de seu marido - cuja carreira, proporcionalmente a sua recuperação, vai decaindo. Por sua interpretação de Vocki Lester, Judy Garland (1922 - 1969) foi indicada ao Oscar de melhor atriz, perdendo entretanto para Grace Kelly (por sua interpretação de George Elgin, em "Amar é Sofrer /The Country Girl", de George Seaton). Judy não ganhou o Oscar, mas "Nasce uma Estrela" a relançou no olimpo holywoodiano, da qual estava um pouco esquecida na época e na trilha de "A Star Is Born", catava clássicos temas de Harold Arlen e Ira Gershwin, como "The Man That Got Away", "Gotta Haves Me Go With You", "Lose That Long Face", entre outras. Vinte anos depois, o mesmo roteiro de Wellman/Carson inspira mais uma versão, novamente atualizando a história. Desta vez o ambiente, embora continue no mundo do show bussines, é uma cantora pop, interpretada por Barbra Streissand - também produtora do filme e co-autora de algumas músicas da trilha - principal personagem. Dirigido por Frank Pierson, "A Star Is Born", versão 1976, ainda não tem data marcada para lançamento do Brasil - apesar de sua canção tema, ter recebido o Oscar deste ano, tem sua trilha sonora a cargo do cada vez mais talentoso Paul Willians. Aqui Willians não fez um trabalho romântico (como em "Lecença para Amar Até a Meia-Noite") ou nervoso (como um "Tubarão" ou "Inferno na Torre"), mas numa linha pop - trabalhando principalmente com K. Ascher ("Wuth One More Look At You", "Wathc Closely Now"), tendo parcerias com a própria estrela Barbra Streissand ("Evergreen", tema central, premiado com o Oscar de melhor canção), enquanto Barbra dividiu outra música com Leon Russel ("Lost Inside Of You"). Kris Kristofferson, cantor e ator (a partir de "Billy The Kid & Pat Garret"), que no filme interpreta o personagem vivido anteriormente por Frederich March (1937) e James Mason (1954), canta quatro músicas. Dentro da carreira de Barbra Streissand, "A Star Is born" é um salto maior: longe da sensibilidade triste de "People", essa sua experiência como atriz-compositora-produtora, na refilmagem de um filme clássico, mostra atualização para novas platéias e se mantém na crista da onda. Vamos ver se a garotada vai curtir a versão-76 de "Nasce uma Estrela", como (nós( curtimos a de 54 e nossos pais a de 1937. A trilha sonora saiu pela CBS, no mês passado e deve interessar ao menos os colecionadores de discos de miss Streissand. Dentro do planejamento de marketing que foi feita para a massificação no consumo de "King Kong" (Cine Plaza, 7ª semana) - que envolveu livros (o roteiro, edição Símbolo; "A criação de ..." edições Lampeão), revistas, camisetas, gidgets e até jogos infantis ("Quebra Cuca", Editora Abril, nº 92), estava demorando a aparecer a trilha sonora, com a música que o inglês John Barry fez para a superprodução de Dino de Laurentis. Distribuída nos EUA pela Paramount, vendida no Exterior a empresas independentes (no Brasil, a Paris Filmes), a sound-track de "(King Kong(" foi nos EUA - e também aqui - uma edição da Reprise Records, do grupo Warner. E, finalmente, em julho, a WEA do Brasil aqui editou a trilha de "King Kong" (com os 13 principais momentos sonoros desta produção de US/ 24 milhões. Se o filme, dirigido por John Guilhermin, é, no mínimo ridículo e lamentável, a trilha de John Barry - respeitado maestro e compositor, consagrado internacionalmente pelas músicas dos filmes da série 007 - é artesanalmente competente. Os momentos da ação são bem sublinhados pelas cordas e metais e embora nenhum tema se destaque especialmente e também um disco para colecionadores de ST. A mesma Warner, antecipando a trilha sonora completa do filme "A Ponte do Desejo" (Ode to Billy Joe), editou compacto duplo com os quatro temas centrais deste filme, dois interpretados pelo jovem Bobbie Gentry e dois do competente e admirado Michel Legrand. O compacto duplo (WEA, 96.017, julho/77), é u bom aperitivo para o lp, com a integra da trilha deste filme - ainda inédito no Brasil - e que deve ser lançado em breve no Brasil. Dois registros especiais: há 2 anos, o produtor Roberto Menescal, da Phonogram, convidou Maurício Einhorn, sem dúvida o melhor executante de harmônica no Brasil, para solar os arranjos do maestro Ugo Marotta, com grande orquestra, de 14 canções premiadas com Oscar, num lp intitulado "Oscar Winners", que vendeu muito bem. O nome de Maurício, injustamente, saiu em tipo mínimo na contracapa, para sua grande decepção e o disco sempre foi apresentado nas rádios como gravação de "The Oscar Winners". Agora, a Phonogram, inclui em sua série "A Era de Ouro ...", a reedição daquele disco ((Phillips(, 6349136, 1975). Só que agora o nome da orquestra, bolado no setor de marketing da empresa é "The John Wellington Strings Orchestra" e na contracapa não há as informações dos filmes e anos de sua realização, nas quais as músicas apareceram. Embora válido, para continuar a manter em catálogo um disco bem gravado, com românticos e sensíveis solos de Einhorn, lamentamos que ao invés de reeditar este disco, a (Phillips( não produzisse um segundo lp, com novas músicas, das quase 40 canções premiadas até hoje pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de (Hollywood(. Einhorn merece fazer novos discos e o público quer outros volumes da série. Por que só reeditar ? Já pela pequena CID, selo Itamaraty, temos um despercebido lp intitulado "Suavemente", onde ao lado de gravações com grupos anônimos - como "The Araminta Strings (tema de "O Mensageiro / The Go Between"), The Charles Segal Orchestra ("Love Story"), Little Sammy Gaha ("The Ballad Of Frenchie King"), há duas faixas que justificam que os colecionadores de música de cinema adquiram o lp: a atriz italiana Cláudia Cardinale revelando-se como cantora em "Paris Woman", de Francis Lai, do filme "The Legend Of Frenchie King", e a orquestra de Michel Legrand, com "Paris Was Made For Lovers", do filme "Time For Loving". NOTAS (1) "Tenda dos Milagres" foi exibido no Festival de Cinema de Brasília, encerrado domingo passado, e terá seu lançamento comercial em setembro. (2) Marcel Camus, em 1957, realizou "Orfeu do Carnaval", da peça de Vinicius de Moraes, com música de Rom/Vinicius/Luiz Bonfá/Antonio Maria, que conquistou dezenas de prêmios (inclusive o Oscar, de melhor produção estrangeira) e foi exigido em todo mundo. (3) Kris e Kristina é formado por duas irmãs, filhas de Patrícia Fabine, primeira produtora de programas na TV Paranaense, em 1960. Kristina, na verdade Martiza Fabiane, é hoje esposa do letrista Heitor Valente, parceiro de Cesar Costa Filho.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
27
07/08/1977

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