1- Uma qualidade não se pode negar a Jorge Bem: o seu incrível "swing". Pois graças a este balanço é um dos poucos artistas brasileiros que consegue entusiasmar as platéias européias, onde seus discos vendem muito e suas constantes temporadas tem muito sucesso. Além do mais, o incrível Jorge Bem está procurando sempre ajustar-se as musicas de moda: pegou os estertores da Bossa Nova, tentou entrar no Tropicalismo, pintou na Jovem Guarda, voltou ao sambão, fez transas espiritualistas e agora ataca com o balançante som discotheque em "A Banda do Zé Pretinho"(Sigla, 403.6148, março/78). Lançada com um amplo esquema promocional -cobertura da Rede Globo de Televisão, jogos de futebol, a mitologia popular, Fio Maravilha, nega Teresa etc., este disco de JB é destinado ao consumo imediato, alias dentro do marketing fotográfico da Sigla: o disco que não vende em 6 meses é sumariamente retirado de catalogo, com o que se perdem preciosos álbuns (exemplo recente: "Contrastes", com Jards Macalé). "A Banda do Zé pretinho" inventada por Jorge Ben é formada por Bidu (surdo), Dadi (baixo). Pedrinho (bateria), Joãozinho (percussão) e Wagner (baixo), que apresentam o som incrementado das novas musicas de Jorge: "Troca-Troca", "Bom dia, Boa Tarde, Boa Noite, amor", "Cade o penalty", "Minha estrela é do oriente", "Treze pontos", "Menino Jesus de Praga", "Amante Amado", "Berenice", "Denize Rei" e "Viva São Pedro". 2- O Black-Rio, fenômeno sociológico que a jornalista Lena Frias analisou num excelente estudo publicado no "Jornal do Brasil", continua a render dividendos fotográficos. A faixa aberta inicialmente por gravadoras menores, como a Top Tap e Tapecar, tem agora na briga do consumismo deste supérfluo som, também empresas poderosas. A WEA, cujo presidente André Midani é um dos defensores do Black-Rio, lança o lp "Balanço Black"(WEA, 28.009, abril/78), com uma miscelânea de artistas do gênero, como Charles Wright, Fuzzy askins, grupos Slave, Black Diamond, Roy Ayers B. Ubiquity, Ashford & Simpson, Bootsy's Rubber Band e outros. Já a Phonogram tem em Gerson "King'Combo, a sua principal força para enfrentar a Banda Black Rio, da Warner. O volume 2 de Gerson Combo saiu na praça com musicas do próprio Combo, mais Hugo Belardi, Pedrinho, Marcelo, Paulo Santos, Messias e outros especialistas em fazer musica de consumo fácil, tipo descartável. 3- Falando em sucesso descartável, dois outros lançamentos também para venda imediata, nos balcões de ofertas: o volume 13 da série "Samba é Uma Parada", com os anônimos integrantes de Os Caretas, desfilando os sambões-jóias que subiram as paradas nacionais de sucesso no último trimestre, e o "O Som do Sucesso", com uma não identificada Orquestra Tropicana, já mesclando 3 temas nacionais - "Omaria"(Renato Teixeira", "Que Pena" (Peninha) e "A Noite Vai Chegar"(Paulinho Camargo), a sucessos-discotheques como "Loneliness", "Zodiacs", "Easy", "Emotion" etc. Ambos da phonogram. 4- Jurado furioso dos tempos de glória dos programas de Flavio Cavalcanti, na televisão, criador do tipo mau humorado, José Fernandes ganha a vida como pianista de churrascarias, no Rio de Janeiro. Onde deve vender os discos que grava na RCA, com tangos tradicionais. A série "Tangos Nota 10", chega agora o volume 3, com Zé Fernandes recordando os maiores sucessos de Anibal Troilo (1914-1974), como "Maria", "Garua", "Barrio de Tango", "Garras" etc., e tendo a participação especial de 3 cantores argentinos: Roberto Goyeneche, Floreal Ruiz e Roberto Rufino. Para quem curte tangos e é grande esta faixa de público - um disco que pode ser ouvido com atenção. 5- Uma série de discos com musica alemã, de vários estilos, o tradicional-folclorico, em "Das Lied der Heimat" (Europa/RGE), com canções que fazem a delicia das velhas famílias de origem germânica, o maestro Klaus Wunderlich, regendo uma orquestra com destaque nos metais, para homenagear Glenn Miller (1904-1944), no digestivo "In The Miller Mood" (Telefunken/Chantecler), com "standards" como "Moonlighet Serenade", "Tuxedo Junction", "American Patrol" e outros nove standards dos anos 30/40. Outro maestro-regente alemão que conhece a fórmula do sucesso internacional é Bert Kaempfert, que, como autor, deu a Frank Sinatra um de seus maiores sucessos ("Strangers in the Night") e que, como regente de orquestra, vendeu milhões de cópias de seu lp "African Beat", "Tropical Sunrise" (Phonogram/Polydor, 2310562, abril/78), é um disco-temperado ao gosto menos existente dos públicos de vários países, misturando "Andorinha Preta", "Cachaça Mecânica", "Canta de Ossanha" (com "a") e "Wave", a coisas como "Dreams", "Shades Of Love" etc. Na faixa tradicional, "Festival da Cerveja" (Land Der Lieder/ Polydor/Phonogram), gravado ao vivo no famoso "Oktoberfest" de Munique, é outro lançamento que deve vender muito nas lojas do Vale do Itajai. 6- Já que falamos em música instrumental, dois registros: o digestivo e cor-de-rosa Frank Pourcel, com sua grande orquestra, em "Music Parade", dedica todo o lado 2 a temas clássicos: um fragmento do Concerto n. 1 para Piano e Orquestra e o tema do Lago dos Cisnes, de Tchaikowsky (1840/1893); uma área do ato 1 de "Norma" de Bellini; "La Danza" de Rossini e "Clair de Lune " de Claude Debussy (1862-1913). No lado 2, temas menos pretensiosos: "Don't Go Breaking My Heart" (Ann Orson), "L'Ete Indien", "Bye Bye Chérie", "Soleado" e o balançante "That's Entertainment" (Schwartz-Dietz). Quem será Don Pacheco? Somente com este titulo, a Copacabana coloca na Praça um disco instrumental, possivelmente gravado em São Paulo, com músicos de estúdio, reunindo standards ultraconhecidos - "Lara's The-me", "La Paloma", "Red Roses For a Blue Lady", "Moonlight Serenade", "La Mer", "Aquarela do Brasil", "Et-Maintenant" etc. Na capa e contracapa, uma mulher em insinuantes trajes brancos, fazendo deste um bom disco para os momentos que antecedem o amor. Ou para depois, durante o cigarro.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Nenhum

Coluna ou Seção: Jornal da Música

Página: 27

Data: 21/05/1978

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