Gente
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de janeiro de 1974
Para o pernambucano Osman Lins (foto), escrever não é diversão para horas de ócio nem meio de obter prestígio mundial, mas um compromisso total com a palavra e com o mundo que lhe faculta "revisar valores, pesar o imponderável, desfiar enfim o tecido das idéias e avançar um pouco na obscuridade das coisas", conforme está dito no mais polêmico de seus livros, "Guerra sem Testemunhas", meditação sobre a condição do escritor e a realidade social, publicado em 1969. A biografia literária de Osman Lins começa, de certo modo com a morte de sua mãe, ocorrida em 1924, poucos dias depois de nascido. Não a conheceu sequer de retrato. Foi isso talvez que o levou mais tarde a escrever, pois escrever é ainda hoje para ele "uma tentativa de elaborar um rosto invisível". Seu pai, homem tímido e discreto, dono de uma pequena alfaiataria, recorreu, para criá-lo ao auxílio da avó do menino, admirável figura de mulher que iria aparecer transfigurada em Joana Carolina a protagonista do "Retábulo de Santa Joana Carolina", possivelmente o melhor e mais comovente conto até hoje escrito por Osman Lins. Concluído o ginásio na cidade natal, foi ele para o Recife. Ali divulgou em jornais seus primeiros escritos e cursou ciências econômicas enquanto escrevia um romance que nunca quis publicar, mas teve o condão de definir-lhe o destino de escritor. Destino que os longos anos que trabalhou num Banco, onde jamais pensou fazer carreira e cujo nome procura esquecer, não lograram impedir que se cumprisse. Em 1955 saiu publicado seu romance de estréia, "O Visitante", logo distinguido com nada menos de três prêmios literários. Dois anos depois aparece "Os Gestos", livro de contos contemplado com outros três prêmios literários. A par da ficção, o teatro passa também a interessar o escritor, que em 1960 concluiu o curso de dramaturgia na Escola de Artes da Universidade do Recife e no ano seguinte vê representada no Rio sua primeira peça, "Lisboa e o Prisioneiro", encenada pela Cia. Tônia-Celi-Autran o já publicada em volume (1964). No ano de 1961, viajava ele para a Europa como bolsista da Aliança Francesa, enquanto saia no Rio seu segundo romance "O Fiel e a Pedra". De volta ao Brasil, fixou-se em São Paulo, onde vive atualmente, dedicando-se com exclusividade a escrever e a ensinar literatura na Faculdade de Marília. Suas outras obras publicadas até o momento são: "Marinheiro de Primeira Viagem", relato de viagem (1963): "Um Mundo Estagnado", ensaio, "Novo, Novena", narrativas e "Guerra do Cansa-Cavalo", teatro, prêmio José de Anchieta (1966). Existem edições portuguesas de alguns desses livros, sendo que "Novo, Novena" foi traduzido e publicado em francês pela editora Donoel. Osman Lins tem inéditas, para publicação e representação próximas, três peças em um ato, e trabalha atualmente num estudo sobre o problema do espaço nos romances de Lima Barreto, a quem muito admira, inclusive por ver nele um símbolo do escritor massacrado pela estrutura cultural brasileira (José Paulo Paes). Nota: o texto acima, traçando um rápido perfil do romancista Osman Lins, elaborado pelo poeta e diretor editorial da Cultrix, introduz aos leitores o autor de "Alvorada", seu último romance - e considerado um dos mais originais da língua portuguesa - que a Melhoramentos vem de editar o que por sua importância dedicaremos a coluna de "Livros" de amanhã, também com um "Review" de José Paulo Paes.
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