Gert, um idealista na defesa do verde
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de setembro de 1988
Só no Paraná são mais de 8 mil espécies daqueles que os botânicos classificam de "plantas superiores" - ou seja, as que apresentam flores e frutos - agrupadas em 260 famílias. E destas, pelo menos mil, já desapareceram "ou estão em vias de desaparecerem totalmente", garante, com segurança, um dos nomes mais respeitados da botância entre nós, Gert G. Hotschbach, 65 anos - completados no último dia 28 de agosto.
Idealizador e organizador do Museu Botânico Municipal - que começou a montar a partir de 1965, quando a convite do então prefeito Ivo Arzua Pereira, pôde deixar de trabalhar como representante comercial para dedicar-se apenas à sua grande paixão - a botânica. Hotschbach é um pesquisador respeitado internacionalmente, "embora mais reconhecido fora do Paraná, do que por aqui" - não deixa de admitir com uma certa amargura.
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Entomologista que começou a se interessar pela natureza ainda criança - quando menino no bairro do Batel, onde nasceu, fascinado pelas borboletas, as colecionava e classificava - Gert formou-se em química industrial e sua formação em botância foi de autodidata. O que não impediu de, em mais de 40 anos de pesquisas, realizar um trabalho admirável, identificando pelo menos 300 espécies de plantas no Paraná - as quais acrescentou as 125 mil que compõem o acervo do Museu Botâncio Municipal, cuja sede junto ao horto do Guabirotuba, foi inaugurado pelo ex-prefeito Saul Raiz em 11 de dezembro de 1975.
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Na simplicidade dos cientistas que, efetivamente se dedicam por idealismo ao trabalho, Gert G. Hotschbach é capaz de passar horas falando sobre botância, as espécies em extinção no Paraná - "cada vez mais abalado em seu ecossistema" - como fez, para um grupo de jornalistas, durante a gravação de um importante depoimento dentro da série Memória Histórica do Paraná, patrocinada pelo Bamerindus.
Em suas pesquisas para colher espécimes da flora paranaense, o então jovem Gert Hotschbach foi um dos primeiros a escalar o Marumbi e outras elevações da Serra do Mar. Isto no início dos anos 40 e quando o Brasil declarou guerra aos países do Eixo, a sua atividade de cientista na Serra do Mar foi confundida com a "de espião nazista". Ao voltar de uma de suas expedições acabou preso. O que o salvou de ficar mais de um dia na prisão foi o diploma de colaborador voluntário, assinado pelo então interventor Manoel Ribas, pelos seus 10 anos de ajuda espontânea ao Museu Paranaense, "sem nunca ter recebido um centavo".
Trabalhando como representante comercial para sobreviver, Gert preferia sempre "os lugares mais difíceis e inóspitos, mas que tinham uma fauna rica" e assim, dando mais atenção à coleta de exemplares de plantas do que aos negócios, foi fazendo o seu próprio acervo - que, mais tarde, incorporaria ao Museu Botânico.
Com uma equipe mínima de colaboradores - dois botânicos, 7 outros auxiliares,orçamento praticamente inexistente, Gert Hotscbach projetou, entretanto, a unidade junto a comunidades científicas de vários países e sua correspondência mostra o conceito que desfruta em universidades, institutos de pesquisas e museus ligados à botânica em vários continentes.
- Sempre que é possível, procuramos ter vários exemplares das novas plantas identificadas, para permuta com outras instituições - explica, ao justificar a expressiva correspondência internacional que recebe.
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Burle Marx, um dos maiores nomes do paisagismo no Brasil, está entre os que sempre admirou o trabalho de Gert. Ao ser contratado para projetar os jardins da ampla praça N.S. Salete, defronte o Passeio Público [a praça N. S. Salete localiza-se no Centro Cívico. A praça defronte o Passeio Público chama-se Kalil Gebram], não só convidou Gert para auxiliá-lo, como lhe deu ampla liberdade para que ele, com seu conhecimento de nossa flora, fizesse indicações das plantas que ali deveriam ser utilizadas.
- Infelizmente, o projeto não pôde ser desenvolvido como idealizamos - lamenta o botânico, que, também não vê já há alguns anos o famoso Burle marx. Mas o respeito entre os dois é grande - unidos pela preocupcação de ver, cada vez mais, reduzida a cobertura natural de nosso país.
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Ao longo destes anos, Gert e alguns colaboradores têm se empenhado em pesquisas não só no Paraná, mas também em outros estados - Minas Gerais e Bahia, especialmente. Preocupa-se com a destruição sistemática de nossas reservas florestais, a destruição de matas naturais - "que quando atingidas por incêndios não se recompõem jamais", explica - vendo que, nesta época de estiagem se repitam em dezenas de municípios, as tragédias que, em 1963, provocaram o desaparecimento de grandes reservas.
Jaguariaíva, por exemplo, é lembrada como exemplo de um dos municípios em que houve maior destruição de matas - com frondosas árvores substituídas por pinus eliotis, nas quais nem sequer os pássaros conseguem sobreviver. Mantendo uma reserva biológica em Sapitanduba, município de Antonina, Gert sempre esteve a disposição de quem o procura para orientar o plantio de árvores. Há alguns anos, foi procurado pelo prefeito de Morretes, que parecia disposto a promover a arborização ao longo das ruas daquela cidade. Gert se dispôs a ceder, gratuitamente, as mudas - desde que pudesse orientar a escolha dos espécimes. O prefeito, vaidosamente, preferiu ao invés de árvores típicas, apropriadas à região, comprar mudas de outras, importadas da Europa.
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