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Aramis

Graças a Lucas, filmes que não chegariam ao circuitão

Enquanto as majors - CIC, MGM, Warner, Columbia, etc. - concentram suas atrações em filmes consagrados, produções que, quando de seus lançamentos nos circuitos de 35mm ganharam grande promoção - e têm assim, um recall junto à faixa acima dos 30 anos - e uma natural curiosidade aos que não assistiram na época, algumas distribuidoras têm, salutarmente, se voltado para produções independentes, que não chegariam ao Brasil no circuitão. São produções modestas, que mesmo em seus países de origem não obtiveram a repercussão - mas que nem por isto devem deixar de interessar a quem gosta de cinema. Pena que os donos de locadoras, geralmente comerciantes mal informados, e pessimamente assessorados (com pouquíssimas exceções), desprezem filmes que não tenham estrelas famosas no elenco e, com a desculpa de que "não haverá procura", deixam de adquirir vídeos que chegam sem prévia promoção. Com isto forma-se o círculo vicioso: não há cópias disponíveis em locadoras porque seus donos não acreditam nos filmes. Como o público não pode adivinhar a existência destas opções que fogem ao esquema tradicional, também não os procura. Resultado: ótimos - ou ao menos curiosos - lançamentos - ficam esquecidos. Também as distribuidoras são culpadas. Quando deveriam fazer um melhor trabalho promocional, esquecem de chegar ao público-alvo e só com boa vontade é que se pode ter informações a respeito de filmes. A Cinematográfica FJ Lucas Neto teve, ao menos, o bom senso de contratar um dos maiores experts em cinema e vídeo no Brasil - Rubens Ewald Filho - para orientar seus releases, que, assim, trazem uma qualidade especial de informações sobre obras que, normalmente, estariam esquecidas. Hoje, dedicamos nosso espaço para alguns lançamentos da FJ Lucas, que talvez não se encontrem na maioria das locadoras da cidade - mas que ao menos da Disc Tape e Master, cujos proprietários são empresários da ampla visão, estão à disposição dos interessados. xxx "Amargas Satisfações" (South of Reno), 1987, é uma produção independente americana que foi exibida nos festivais de Montreal e Vancouver, no Canadá e que traz um novo diretor, Mark Rezyka, polonês criado em Montreal e que aos 23 anos mudou-se para Los Angeles, onde estudou desenho e trabalhou em animação, realizando mais de 70 vídeos clips antes de conseguir fazer seu primeiro longa-metragem. O roteiro (do próprio Mark), guarda algumas semelhanças (ou influências) com "Paris Texas" e "Gosto de Sangue" (Blood Simple, inédito nos cinemas, mas à disposição em vídeo). Basicamente é sobre o personagem Martin (Jeffrey Osterrage), que vive à beira de uma estrada no deserto de Mojave, Califórnia. A mulher, Anette (Lisa Blont), há tempos afastou-se e tem um amante, Willard (Lewis van Bergen), que acusa Martin de ter tentado envenená-lo. Jeffrey gasta seu tempo sentado numa velha cadeira de barbeiro, assistindo na televisão um programa de perguntas sobre o cinema - cujas respostas sabe na ponta da língua. Para ter com quem conversar, joga pregos e cacos de vidros na estrada. Os viajantes têm os pneus furados, recebem sua ajuda. Um universo cinzento, tempo sem esperanças num filme aberto a várias leituras e que merece ser verificado. xxx Não confundir "Spaghetti House, Onde Tudo Pode Acontecer", comédia italiana de Giulio Paradisi, 1975, com "Maccarroni", 1983, de Ettore Scolla - com Marcelo Mastroianni e Jack Lemmon, que, estranhamente, continua inédito no Brasil, apesar do prestígio dos atores e do diretor ("A Família", "Nós que nos Amávamos Tanto", "Splendor", etc.). "Spaghetti House" é uma comédia sobre Domenico (Nino Manfredi), um garçon italiano que trabalha num restaurante de Londres e sonha em ter a sua própria casa. Uma noite, o restaurante é invadido por três assaltantes negros, que se dizem terroristas. Mistura de uma crônica política com comédia, "Spaghetti House" traz um novo diretor italiano, Giulio Paradisi, que foi assistente de Fellini, Luigi, Comencini e outros e que estreou com "Ragazzo di Borgatta", 74, inédito no Brasil - mas definido por Rubens Ewald como "uma espécie de versão mais atual de "Mamma Roma". Nino Manfredi, 59 anos, é um dos mais populares atores italianos, com filmografia das mais respeitáveis iniciada em 1949 ("Torna a Napoli"). xxx Entre tantos filmes de terror explícito, uma curiosidade: "A Guardiã da Lâmpada Mágica" (The Lamp), de Tom Daley, 1986, produção independente filmado em Huston, Texas. Os efeitos especiais são de Martin Brecker ("April Fool" e "Friday the 13th's") e foram produzidos pela Reefx, de Los Angeles. O argumento é uma variante da lenda do Gênio da Lâmpada, com elementos de final surpresa. Inspirados em um conto de W. W. Jacobs, "A Mão do Macaco" (que já teve várias versões no cinema), desta vez o gênio não é um homem ou gigante, como as versões da lenda das 1.001 Noites, mas sim um monstro humanóide com 20 metros de altura. A história começa em 1893, quando uma garotinha, sobrevivente de um naufrágio, traz a lâmpada da qual é guardiã... a história passa para o ano de 1985, quando ela, já velhinha, vive numa mansão que é invadida por marginais que encontram a lâmpada. Imaginem o que acontece. xxx Uma nova versão de um dos mais conhecidos romances históricos: "Quo Vadis", produção italiana, 1986, de Franco Rossi, com um elenco internacional - Klaus Maria Brandauer (Nero), Frederic Forrest (Petrônio), Max von Sidow (Pedro), Cristina Raines (Popéia), Marie Therese Relin (Lígia), entre outros. O romance histórico do polonês Henryk Siekiwitz (editado no Brasil pela Saraiva) já teve cinco versões cinematográficas: duas francesas, uma delas (1901) dirigida por Ferdinand Zecca, com 50 minutos e outra, em 1913, produzida pela Pathé; houve uma italiana, em 1913, direção de Ennio Guazzoni, outra alemã, 1923, com Emil Jannings (o professor do clássico "O Anjo Azul", como Nero), direção de George Jacoby. Mas a mais famosa é a de 1951, produzida pela MGM, rodada em Roma, com direção de Mervyn LeRoy, com Peter Ustinov como o cruel Nero; Robert Taylor como Marcus Vinícius e Deborah Keer - no auge de sua carreira - como a escrava Lígia. O filme foi um dos maiores êxitos nos anos 50, tendo permanecido por dois meses em exibição no antigo Cine Ópera. Agora, a FJ Lucas está lançando versão produzida pela RAI (Rádio e Televisão Italiana), em forma de minissérie (condensada em 225 minutos). No papel que Robert Taylor interpretou há 39 anos passados - o do centurião Marcus Vinícius, temos agora Francesco Quinn, filho do veterano Anthony Quinn. No mínimo curioso será ver um dos cult-actors de nossos dias, Klaus Maria Brandauer ("Mephisto", "Coronel Rald", "Entre Dois Amores", etc.) como Nero. O diretor, Franco Rossi, um florentino de 71 anos, estudou direito antes de se decidir pelo cinema, como assistente de Mário Comicini e Renato Castellani. Em 1950 fez seu primeiro filme, "Camicie Rosse", e chegou até a vir ao Brasil, para rodar no Rio de Janeiro uma frustrada adaptação da peça de Glaucio Gil, "Procura-se uma Rosa", com Cláudia Cardinalle (belíssima), Lando Buzzanca e Grande Otelo. Depois, em Los Angeles, fez "Smog". Voltando-se para minisséries históricas, antes de "Quo Vadis", realizou "Odisséia" (em 8 episódios) e "Eneida", ambas para a televisão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
05/04/1990
Os filmes distribuídos pela FJ Lucas Vídeo que mais me lembro de ter visto, pois marcaram a minhav vida, foram O Vôo do Dragão e Bruce Lee no Jogo da Morte, além de filmes cultuados de terror com Demons e Demons 2, ambos produzidos pelo mestre do terror italiano Dario Argento e dirigidos por Lamberto Bava. BOns tempos esses, que infelizmente não voltam mais.

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