"A Grande Arte" e "O Pescador de Ilusões" são as melhores estréias
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de novembro de 1991
Mais seis estréias neste final de ano - entre as quais duas que, com boa vontade, poderão ser nominadas entre os 10 melhores do ano, cujas listagens já começam a ser preparadas.
"A Grande Arte", de Walter Salles Jr., do romance de Rubens Fonseca, superprodução (US$ 5 milhões) para os padrões nacionais, mas com esquema internacional e, inclusive, grande parte dos diálogos em inglês, é o lançamento mais esperado - embora a repercussão no eixo Rio-São Paulo, mesmo com toda a mídia, tenha sido abaixo do que os produtores esperavam.
Nas próximas duas semanas chegarão as chamadas "esperanças de Natal", filmes com ampla promoção e capazes de fazer o público ir às salas - embora mesmo "Hook", a nova aventura Spielbergueana - e com trailler já nas salas - não traga grandes animações.
"O Pescador de Ilusões" - Depois do simbólico "Brazil" e da frustrada superprodução "As Aventuras do Barão de Munchausen", Terry Gilliam, o americano mais esperto do grupo Monthy Python, realizou "The Fischer King", que literalmente dividiu a crítica (e o público). Há quem o classifique como um dos filme com melhor roteiro (Richard LAGravanesse) dos últimos 20 anos do cinema, enquanto outros - como Wilson Cunha, do "Cinemania", não perdoam aquilo que classificam de "pieguice" da história: a redenção que um disc-jóckey (Jeff Bridges) busca na humildade - após provocar uma tragédia (semelhante a fato real ocorrido há poucas semanas numa cidade do Texas) - e de seu encontro com Parry (Robin Williams), um vagabundo das ruas de Nova Iorque. Com música de George Fenton, fotografia de Roger Pratt, "O Pescador de Ilusões" é tido como um dos filmes fortes a obter várias "nominations" ao Oscar. No Cine Plaza.
"A Obra em Negro" (L'Ouvre au Noir) deverá atrair ao Cine Luz ao menos uma faixa intelectualizada que já conhece o livro homônimo de Marguerite Yourcenar em que André Delvaux buscou o roteiro para esta produção estrelada por Gian Maria Volonte, Samy Frey e Anna Karina - três nomes conhecidos do cinema europeu. A história se passa no século XVI, durante a inquisição - e tem como personagem central um alquimista, e se Delvaux conseguiu transpor às imagens a força do texto de Yourcenar, eis um filme merecedor de atenção.
"A Grande Arte" - É outro filme com raízes literárias. No caso foi o próprio Rubem Fonseca - por sinal um cinéfilo apaixonado - quem trabalhou no roteiro, fazendo cinco diferentes tratamentos de sua história, modificando personagens e mesmo o final, conforme o diretor Walter Salles Jr., opinava. Vindo da televisão, na qual se revelou um dos mais bem sucedidos diretores de séries documentais, com um esquema altamente profissional, Salles Jr., estréia com um filme que, lançado primeiro nos Estados Unidos, ganhou elogios da crítica, inclusive opiniões favoráveis à indicação ao Oscar. Em Cannes, em maio último, quando teve também uma de suas primeiras [?], já havia entusiasmado todos que o assistiram. O elenco internacional reúne o americano Peter Coyote, o francês Tchéky Karyo (visto há duas semanas em "Nikita"), a inglesa Amanda Pays e os brasileiros Raul Cortez e Giulia Gam, entre outros. Uma estréia de visão obrigatória. Cine Ritz.
"A Repossuída" (Reprosessed), trata como comédia um tema que tem sido explorado "ad nausean" neste últimos anos: o exorcismo. Leslie Nielsen, o envelhecido comediante da série "Corra que a Polícia Vem Aí" (cuja terceira parte continua em cartaz no Lido II), é agora o exorcista padre Jedidiah Mayii, que tenta expulsar o diabo do corpo de Nancy Anglet (Linda Blair, ironicamente aquela menina que estrelou o primeiro filme da série, há 18 anos). Ned Beatty é o terceiro nome do elenco desta comédia dirigida por Bob Logan. Cine Bristol.
"As Confusões de um Sedutor" (Skin Deep), tem a credenciá-lo a competência de Black Edwards, que apesar de alguns momentos ditos "sérios" em sua filmografia extensa, iniciada há 37 anos com "Sorria para a Vida", tem acertado quando satiriza o "american way of life". Sem a participação de sua estrela (e esposa) Julie Andrews, esta comédia tem em Vicent Gardenia o nome mais conhecido - ao lado de John Ritter, Alysson Reed e Julianne Philips. A conferir. Cine Astor.
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