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Aramis

Guaíra, um novo Puerto Stroessner para compras

"Vitrininha do mundo" há muito que Puerto Stroessner deixou de ser o Paraíso dos Compristas. O boom desenvolvimentista de Foz do Iguaçu, o crescimento vertical de caravanas de turismo, a multiplicação de lojas e comércio ambulante retiraram há muito, qualquer satisfação em comprar artigos estrangeiros no outro lado da Ponte da Amizade. Mercadorias falsificadas, preços elevados e, principalmente, o péssimo atendimento, no qual desde caixeiros a proprietários de lojas tratam os brasileiros com a maior brutalidade, são, incrivelmente, tolerados por milhares de pessoas que aceitam tal recepção sadomasoquista pela falta de opção de "aproveitar" produtos (e a ilusão de preços convenientes) que não encontram no Brasil. Puerto Iguazu, no lado argentino, restringe-se a produtos fabricados naquele país, sem o charme internacional do comércio paraguaio e a Zona Franca de Manaus está distante - e com passagens a quase Cz$ 100 mil - mais conveniente então é voar a Flórida do que a Amazônia, se for apenas para satisfazer a compulsão comprista. xxx Portanto, transformar uma pequena cidade paraguaia, às margens do lago de Itaipu, defronte a Guaíra, num novo centro comercial internacional se constitui em um ovo-de-Colombo. Pode significar o reerguimento econômico daquela cidade paranaense que vem sofrendo um total esvaziamento turístico desde que Itaipu acabou com uma das maiores belezas naturais do mundo, ao mesmo tempo que representará uma necessária concorrência a Puerto Stroessner - e outra opção turística que não seja apenas Foz do Iguaçu. Quem pretende fazer deste ovo um lucrativo omelete não chama-se Colombo mas tem know-how em culinária econômica: João Paulo de Oliveira Mello, 41 anos, fundador e presidente de uma firma cuja sigla lembra uma estatal - Embrafom - mas que é privada e com uma ampliação de propósitos tão grande quanto o seu nome: Empresa Brasileira de Fomento aos Municípios. No sábado, 21, no auditório do Hotel Deville Colonial, João Paulo e seu sócio, o engenheiro agrônomo Valdir Izidoro Silveira esperam encontrar pelo menos meia centena de executivos ligados ao turismo e ao desenvolvimento da região que preferiram reduzir os aperitivos na feijoada do meio-dia para, de ouvidos abertos, ouvir as idéias em torno da implantação de fortes projetos capazes de desenvolver Guaíra como uma cidade-pólo turística. Os planos são ambiciosos: substituir as medievais balsas que fazem a ligação entre Guaíra e Puerto Guaira por overcrafts moderníssimos, estimular o comércio do lado paraguaio (atualmente meia centena de lojas, modestas, sem a diversificação de produtos que se encontram em Puerto Stroessner) e reforçar, de todas as formas, a infra-estrutura turística de Guaíra. Pensando numa injeção de milhares de turistas e como a capacidade hoteleira da cidade é mínima - (o melhor hotel é o Deville, mas insuficiente para atender uma maior demanda) - há até o projeto de aproveitar 500 das 1.500 residências construídas pela Eletrosul (e que estariam ociosas) em "cabanas turísticas", com todos os serviços de motéis modernos e confortáveis. O programa é ambicioso, implica em investimentos pesados. João Paulo Oliveira Mello não deixa por menos quer atrair, inclusive, grupos americanos, que exploram parques de diversões e que possam se interessar pelo mercado brasileiro. Explica: - Nem só de Disneyworld vive o entretenimento americano. Há outros grandes grupos de diversões que poderão ser atraídos se houver estímulos. xxx Inquieto, criativo e arrojado, João Paulo - filho de uma família das mais tradicionais do Paraná, neto do histórico prefeito João Moreira Garcez, é um cozinheiro de idéias. Há 20 anos, quando Ricardo Amaral ainda não tinha a estrutura do "Rick's" que o enriqueceria no Rio de Janeiro, João Paulo foi o primeiro em fazer com que o cachorro-quente não ficasse restrito aos tradicionais Mignom e Triângulo: abriu o Tipiti Dog que com seus sanduíches incrementados fez sucesso e cresceu para uma cadeia de mais de 20 lojas. Quando a concorrência apareceu, Oliveira Mello preferiu partir para novas idéias e, em São Paulo, entre outros projetos, transformou uma área no Jequetibo, distante 77 quilômetros da praça da Sé, no Vale dos Orixás, atraindo 380 mil umbandistas em busca de espaços próprios. Há dois anos, João Paulo pensou em retornar ao setor de alimentações - com a tentativa de implantar uma nova cadeia de lanchonetes, a Juriti do Bico Amarelo, mas, astutamente, sentiu que a área de projetos para municípios poderia dar maiores resultados e criou a Embrafom, com sede em Brasília (Q-702, Asa Norte "B", edifício Rádio Center) e escritório em Curitiba (rua Voluntários da Pátria, 2553, 1º), nos quais desenvolve desde projetos de organização de associações de bombeiros voluntários e praças culturais até um ambicioso Programa Nacional da Micro Agroindústria, que, segundo garante, já tem 183 projetos em andamento no Paraná mais 40 em Santa Catarina - entre os 380 grandes contratos que a sua empresa conseguiu firmar. Editando um house-organ - "O Municipalista" - que distribui as prefeituras de todo país, arrojo não falta a João Paulo, que abandonou o curso de direito no 4º ano para tentar na prática provar a validade de sua energia na livre iniciativa, com pensamentos como estes - que enfeitam sua publicação: - "Ação de baixo para baixo e não de cima para baixo e nem de baixo para cima". - "Decididamente o que falta não são recursos e nem matéria-prima, mas sim o despertar da consciência do homem rural". Depois do Tipiti Dog e do Juriti do Bico Amarelo, João Paulo quer mergulhar nas águas do lago de Itaipu em braçadas empresariais internacionais. Que a travessia seja bem sucedida!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/05/1988

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