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Aramis

Histórias de bailarinas, otimismo e tóxico

Desde que Herbert Ross realizou o digestivo e gostoso "Momento de Decisão" (The Turning Point, 77), o ballet ganhou um excelente marketing promocional. Academias de dança se multiplicaram e até o preconceito que impedia muito machão de se dedicar à dança caiu por terra. As apresentações de companhias de ballet - e até mesmo grupos amadorísticos têm um público crescente. Entretanto, a literatura da dança ainda é pequena - quer tecnicamente falando, quer na ficção. Por isso, causa surpresa o aparecimento de um romance como "Ballerina" de Edward Stewart (Record, 1985, 461 páginas), contando a história de duas jovens - Stephanie e Christine, que têm em comum uma carreira, um apartamento e até um amante... e compartilham o sonho de ser grandes bailarinas. Um livro de fácil leitura e que ainda não encontrou o público a que se destina, pois neste caso já estaria há semanas entre os mais vendidos. xxx Norman Vicente Peale, pastor e pregador, é autor de vários best-sellers, nos quais tem "vendido" seu otimismo em relação à vida positiva. Aos 88 anos, esse americano de Ohio, faz em "A verdadeira alegria da vida positiva" (Record, 342 páginas, Cr$ 74.900) uma espécie de autobiografia, descrevendo seu trabalho de mais de 50 anos na Igreja Marble Collegiate, em Nova Iorque. Mas apesar do sentido autobiográfico, não deixa também de falar sobre as pessoas que exerceram uma influência em muitos momentos de sua vida - a família, o magistério, os amigos. xxx Investindo firme e forte na área de ficção, a Guanabara lança vários autores até agora inéditos no Brasil. É o caso de Mary Gordon, que há 7 anos, com "Final Payments" (Pagamentos Finais) foi considerada uma revelação pela crítica americana - o mesmo ocorrendo com seu romance posterior - "The company of women". Agora, aos 35 anos, casada, 2 filhos, essa novaiorquina tem seu primeiro livro - "Homens e Anjos" (326 páginas, Cr$ 85.000) editado no Brasil. É a história de Anne Foster, 38 anos, um casamento e 2 filhos (como a autora), historiadora de arte, que vê-se pela primeira vez separada do marido, quando ele parte para a França, com uma bolsa de estudos. Anne não o acompanha e mergulha num trabalho fascinante - organizar um catálogo da pintora Caroline Watson. No decorrer desse trabalho ela começa a mudar: é atraída por um outro homem. Uma história de amor com profundidade, que na opinião da escritora Sonia Nolasco Ferreira (esposa de Paulo Francis, radicada em Nova Iorque), "é envolvente e não fornece resposta ou final feliz: muito pelo contrário, apresenta mais perguntas que respostas. É um livro que incomoda até quem definiu seus credos, realização profissional, maternidade". xxx Outro fascinante livro sobre mulheres: "Martina", autobiografia da campeã de tênis Martina Navratilova narrada a George Vecsey (Editora Guanabara, 308 páginas, Cr$ 78.000). Dissidente russa, Martina asilou-se há 10 anos nos EUA, firmando-se como uma das maiores jogadoras do mundo do tênis, ao lado de Billie Jean King, Chris Evert e Virginia Wade. Seu jogo especial, com saques e voleios, e sua característica agressividade junto à rede, fazem dela um mito vivo. Várias vezes campeã em Wimbledon, hoje uma mulher rica - contratos notáveis e investimentos em petróleo. Nos últimos anos suas relações lésbicas provocaram muitas fofocas, e ela também fala a respeito disso nessa autobiografia divertida, honesta e até comovente. Sobre suas preferências afetivas, ela comenta: "Gosto de homens, gosto dos dois. Só que me dou melhor com outras mulheres". xxx Poeta e cineasta, falecido há 23 anos, Jean Cocteau teve uma de suas mais pessoais obras - "Ópio - Diário de uma Desintoxicação" editado há algum tempo pela Brasiliense, na respeitada coleção Circo de Letras. Em tradução de Reinaldo Moraes, esse emocionante depoimento de Jean Cocteau (1898-1963) foi escrito durante uma cura desintoxicante numa clínica, sendo assim um diário "filho do mítico casamento entre droga e literatura", como diz o editor em sua primeira apresentação. Mas "Ópio" traz também retratos fulminantes, desenhos e reflexões sobre cinema, poesia, literatura e arte. Se, por um lado, a riquíssima matéria verbal de Cocteau faz o elogio das alucinações próprias dos poetas visionários, por outro, revela um controle mental lucidíssimo e carregado de ironia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
23
16/02/1986

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