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Aramis

Hollywood lança seu "novo" herói para 1986

Há um tipo de filme que já se julgava totalmente ultrapassado e de repente voltou a impor-se e com grande sucesso, particularmente nos Estados Unidos e daqui para o resto do mundo. Trata-se de filmes que giram em torno do "herói combatente", que volta ao lugar dos acontecimentos, em geral o Vietnã, campeões da cultura física, vigilantes, agente secretos superdotados, em suma, autênticos "homens", musculosos e de olhar impiedoso, poucas palavras e desejos de vingança, bem armados e com recorde de mortos. Nesse sentido, importante debate foi realizado na Comissão de Censura. "Death Wish III", o último filme da série "O Justiceiro de Todas as Horas" havia recebido o temível "x", quer dizer, fora proibido para menores de 18 anos. A causa: uns 60 mortos em menos de duas horas, mas o realizador da série, um fanático do truculento, Michael Winner, objetou que em "Rambo" se eliminavam 83 pessoas. "Eram vietnamitas", parece ter sido a explicação dos integrantes da Comissão. De qualquer forrma. "Death Wish III", parece superar em truculência os seus antecessores ao ponto que um dos seus autores, indignado por tanto sangue, quis que seu nome fosse eliminado da ficha técnica. No fundo, seremos humanos A novidade desse tipo de filme por assim dizer "machista", reside na "tentativa de apresentar nossos heróis como seres humanos". É certo que são um pouco cínicos e vingativos mas, no fundo, têm um coração de ouro. É a sociedade que "os torna violentos". Com base nessa moral, deduzida diretamente do impressionante sucesso dos últimos tempos, "Rambo", a epopéia da reminiscência reaganiana tornou-se sucesso de bilheteria. O heroismo frio de James Bond somado à emotividade intensa e rebelde de James Dean, dá o tipo americano dos anos 80, o mito com o qual os homens procuram identificar-se e pelo qual as mulheres se sentem atraidíssimas. Uma psicóloga americana explicou a questão nestes termos: "os homens de hoje não sabem com certeza o que a sociedade espera deles, sejam fortes ou ternos, por isso é que experimentam a forte necessidade de modelos não ambíguos". E "modelos não ambíguos" são esses heróis que já pululam nas telas e que Hollywood está se encarregando de fornecer em quantidades. Vejamos alguns títulos: "Comando para Matar", "Invasão dos Estados Unidos" e "Remo Williams: the Adventure Begins". Todos eles, a seu modo preenchem o vazio que se teria produzido até o aparecimento de "Rocky IV", que é o atual recordista de bilheteria nos Estados Unidos. E se no momento esses heróis devem contentar-se em lançar olhares apaixonados e ter relações humanas exclusivamente com seus colegas, o futuro reserva-lhes grandes histórias de amor paralelas... As mulheres, por sua vez, não esperam e se, por ora, servem um pouco como companheiras desses senhores, estão criando para si um espaço próprio. A ABC, uma das mais importantes redes de televisão, criou a série "Lady Blue", calcada numa impiedosa policial de Chicago que aparecerá em "Sudden Death", filme no qual uma jovem violentada decide fazer justiça com suas próprias mãos. Que nos prepara 1986? Se 1985 foi o ano dos super-heróis da marca reaganiana, 1986 marcará o nascimento de gerações inteiras de "homens ao ataque". Os produtores de Hollywood - evidentemente impressionados com o sucesso de "Rambo", "Comando para Matar" e outros filmes das mesmas características - já estão competindo por roteiros que reúnem "punhos e sangue" em quantidades. Deste modo, 1986 verá o nascimento de "Behind the Enemy Lines", uma espécie de cópia de "Rambo", com David Carradine no papel do veterano que volta do Vietnã para salvar prisioneiros de guerra, "Command Squad", com Sybil Danning no papel de uma mãe vingadora, "Command Leopard", com Klaus Kinski; "Let's Get Hurry", com Robert Duvall e "The Retaliators", com dois heróis que estão se impondo: Robert Ginty e Sandaho Bergman. E a coisa não pára aqui. Pensa-se na possibilidade de fazer desenhos animados que tenham como protagonista Rambo, talvez uma maneira de fazer das crianças outros tantos "rambomaníacos".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
25
16/02/1986

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