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Aramis

Império do Sol

Vem crescendo o interesse do público pelos romances que dão origem a filmes de sucesso. Aliás, isto não é novidade: nos anos 50, a Editora Vecchi tinha uma coleção chamada "Os Maiores Êxitos da Tela" que chegava até a romancear roteiros para oferecer aos cinemaníacos de então a oportunidade de "ler os filmes". Hoje as editoras sofisticam-se em suas coleções de romance que deram certo no cinema chegam até em edições a preços reduzidos nas bancas de revistas e jornais, como faz a Nova Cultural. A Record, sempre astuta em seus lançamentos, procura adquirir os títulos ainda quando os filmes não estrearam no Brasil, para fazer lançamentos simultâneos. Portanto, nesta temporada de filmes ultra-badalados pelos Oscars a casa publicadora de Alfredo Machado lança simultaneamente os romances dos quais foram retirados os roteiros de dois favoritos para a premiação no próximo dia 11: "O Império do Sol", que Steven Spielberg roteirizou a partir do romance de J. G. Ballard e "O Último Imperador", a biografia de P'u-I, escrita por Edward Behr, que baseou o belíssimo filme de Bernardo Bertolucci - o grande favorito do Oscar-88. Como "The Last Emperor" só terá lançamento depois da festa do Oscar vamos registrar aqui "O Império do Sol" (em exibição nos cines Bristol e Cinema I, desde quinta-feira). A leitura deste romance de 278 páginas, tradução de Nosé Sanz (crítico de cinema, especialista em science-fiction, livreiro, falecido há poucas semanas) dará ainda maior emoção a todos que forem assistir ao filme de Spielberg em termos de técnica e emoção. Com sua visão sempre com a pureza da infância, deixando a trepidante linguagem do cinema-seriado/cinema-quadrinhos ("Indiana Jones", "Caçadores da Arca Perdida") ou a magia ("E. T."), nesta sua nova superprodução, ele mostra toda sua ternura, conseguindo arrancar lágrimas do público sem cair no melodrama malcriado. Em "A Cor Púrpura", há dois anos, também partindo de um romance, Spielberg recriava todo um universo da intolerância racial e mostrava a dignidade de uma família preta no Sul dos EUA. Agora, em "Império do Sol", Spielberg foi buscar um romance tão emotivo e sincero sobre a estupidez da guerra como "Uma Arma para Johnny", de Dalton Trumbo - mas ao mesmo tempo tão lírico quanto os melhores momentos de Erich Marie Remarque ("Sem Novidade no Fronte", "Arco do Triunfo", etc). Autobiográfico e com a sinceridade pessimista que o faz um dos escritores mais importantes da atualidade, J. B. Ballard rememora em "O Império do Sol" as suas experiências em Xangai durante a II Guerra Mundial e na Civilian Assembly Centre, onde ficou internado de 1942 a 1945. Através do garoto Jim Graham, 11 anos, que é, de repente retirado de uma vida burguesa e tranquila na Xangai para mergulhar no inferno da violência e miséria da guerra, Ballard constrói uma saga universal - e ao mesmo tempo contemporânea. Quantos meninos como Jim, neste Brasil de tanta miséria e fome por culpa da canalha política, não são obrigados a usar de toda sua esperteza e malandragem para sobreviverem?
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
6
10/04/1988

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