Eldorado do new rock (com batida inglesa)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de abril de 1988
Voltada inicialmente apenas a um catálogo cultural, com ênfase nos projetos de pesquisa, o Estúdio Eldorado acabou modificando seu marketing. Aluisio Falcão, o pernambucano que após ter sido o grande artífice da melhor fase na produtora de Marcos Pereira (1930-1980), foi o ideólogo-produtor do Eldorado, acabaria também se afastando desta etiqueta pertencente ao grupo "O Estado de São Paulo" e dedicando-se, a partir de 1987, à produção de discos-brindes, já tendo realizado dois álbuns marcantes, um com músicas de Adoniram Barbosa, outro com o violonista Baden Powell - ambos, infelizmente, distribuídos apenas aos clientes das firmas que os patrocinaram.
O Estúdio Eldorado diversificou sua linha de produção. Se, de um lado, mantém um catálogo erudito - pioneiro inclusive na edição de direct-disc (laser), com álbuns do pianista João Carlos Martins e do violoncelista Antonio Menezes (que, como solista da Orquestra de Câmara de Blumenau, apresenta-se na próxima quinta-feira, 15, no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto), também procura outras faixas de público. A jornalista Miriam Gynski, produtora-apresentadora do primeiro programa sobre new age music na Rádio Eldorado, coordena uma série de discos com o som desta nova tendência sonora. Para o público jovem, o Eldorado foi buscar selos ingleses, com grupos surgidos nesta década, com um som fortíssimo e que vêm sendo colocados no mercado.
Em seu último pacote pop, o Eldorado trouxe vários grupos. Num chamado elepê "pau-de-sebo", fórmula para reunir diferentes formações e sentir os que têm maiores possibilidades de emplacarem em vendas estão as bandas Colourbox, Íris Montal Coil, The Wofgang Press, Throwing Muses, Dead Dan Dance, Dif Juz, Cland of Xymox e, o mais conhecido, Cocteau Twins, que, no ano passado já teve aqui lançado, pela mesma Eldorado o lp "The Moon and the Melodies".
A banda The Railway Childrens (o nome foi escolhido em homenagem a um lírico filme dos anos 70, que se chamou no Brasil de "Quando o Coração Bate mais Forte") chega num elepê em que seus integrantes mostram serem líricos sem sentimentalismo, suaves mas doloridos - como era o filme - e com músicas nas quais as guitarras parecem conversar nas mãos de Brian Bateman e Gary Newby (também vocalista) sobre a cozinha de Stephen Hull (baixo) e Guy Keegan (bateria).
Sewerime Blues é outro grupo inglês, que a partir do nome, faz um trocadilho com "Summertime Blues", um dos momentos mais inspirados de Eddie Cochran (sai o "verão" entra o "esgoto"). Seus integrantes procuram mostrar um som definido como Rockabilly psicótico, ou seja, uma retomada do velho rock'n'roll como veio ao mundo - meio negro, meio hilbily (caipira) - na voz dos "vovôs" Presley, Lerry Lee Lewis, Carl Perkins, Eddie Cochran, Roy Orbison. Só que numa reciclagem moderna, aproximando-os de uma faixa de público jovem.
World By Storm é o título do segundo álbum da banda "The Three Johns", nos quais estes "Joãos" ingleses se propõem a não deixar pedra sobre pedra: um rock'n'roll hard, pesado, com letras definidas pelo vocalista John Hyatt como urgentes. Quem tiver disposição que os escute...
Finalmente, mais um disco pau-de-sebo, desta vez reunindo grupos do selo independente Rhytm King, que funde todos os sons-modismo do momento (funk, soul, disco, rap, hip hop etc.): Schooly E, Dr. French, King Sun, Taffy, Bailey & Bridges, 3 Wise Men e Renegade Soundwage.
LEGENDA FOTO 1 - The Three Johns
LEGENDA FOTO 2 - Wolfgang Press
LEGENDA FOTO 3 - Colourbox
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