Jerzy/Eça, o concerto que precisa acontecer
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de julho de 1988
Ao retornar no domingo para o Rio de Janeiro, o violinista Jerzy Milewski deixou com a produtora Verinha Walflor, a possibilidade de realizar em Curitiba um dos espetáculos mais importantes do ano: o concerto em que une o seu violino ao piano de Luiz Eça, baixo de Luiz Alves e bateria percussão de Robertinho Silva, no qual o jazz e o erudito alcançam um nível artístico raramente visto e ouvido no Brasil.
Até agora, só privilegiados convidados da Nescafé Nestle viram o Luiz Eça & Jerzy Wilewski Ensemble: no Rio, dia 14 de junho, no hotel Merediam e, em São Paulo, no último dia 8 de julho, no Centro de Convenções Rebouças.
Pelo resultado artístico que o encontro conseguiu - fruto de quase três anos de pesados ensaios, a proposta de apresentar suítes instrumentais a partir de temas de Luiz Eça e outras peças de extrema delicadeza, o projeto cultural tende a se fixar e prestem atenção nisto no futuro como o grande evento cultural de 1988. Uma amostragem gravada, produzida num álbum de circulação restrita na primeira etapa, já dá o significado de quanto podem fazer talentos maiores em termos de música. A gravação registrada nos Stúdios Transamérica, em janeiro deste ano, teve uma primeira edição de 7 mil exemplares, sem comercialização, mas Jerzey negociou seus direitos através da Cellulloid, um dos mais importantes sêlos de música de qualidade (francês, mas com escritórios em Nova Iorque, representado no Brasil pela Barclay BMG), cujos executivos, impressionados pela qualidade decidiram lançar o disco simultaneamente em vários países sempre que possível com temporadas do enssemble Jerzy/Eça.
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Jerzey tem razões afetivas para que Curitiba seja incluída neste roteiro inicial de apresentações de um projeto que desde 1985 vem sendo carinhosamente desenvolvido. Afinal, foi aqui que sua esposa, a pianista Aleida Schweitzer, catarinense de Lages, formou-se em Ciências Sociais pela UFP (turma-1962), sendo fundadora não só do Coral da UFP, mas de outros grupos. Estudando piano na Polônia, a partir de 1965, Aleida conheceu Jerzy, de uma família de músicos e ao voltar para o Brasil, já casados, desenvolveram uma sólida carreira como músicos.
Com o violoncelista Peter Dauelsberg e o violonista Cussy de Almeida formaram o Quarteto Guaíra, idealizado por Maurício Távora (1938-1986), quando superintendente da Fundação Teatro Guaíra, que chegou a gravar um importante disco (Continental, 1978), fazendo dezenas de apresentações não só no Paraná, mas também em outras capitais. Infelizmente, o Quarteto sofreu o mal que condena todos os projetos culturais no Paraná: bastou Maurício deixar a direção do Guaíra, para que o mesmo fosse desativado.
Jerzy e Aleida estiveram em viagem de férias em Lages (Aleida integrou inclusive o júri do Festival de MPB, ali realizado há três semanas) com os filhos, os gêmeos Pamina e Christof, 14 anos, mais o seu irmão (gêmeo), Roman, pianista radicado na Suíça e casado com uma famosa cantora. Malgorzata que vieram conhecer o Brasil.
Agora, retornando ao Rio, Jerzy tem uma agenda e trabalhos importantes: com Luiz Eça & Ensemble, temporadas no Merediam (2 a 6 de setembro) e posteriormente em São Paulo, dentro de um roteiro que a organizada Fernanda Quinderé, esposa de Luisinho, está estruturando.
Já com 12 elepês em sua discografia, incluindo trabalhos de resgate de compositores esquecidos como o mineiro Flausino Vale (1894-1954), que chegou a ter uma de suas composições gravadas pelo famoso Jascha Heifetz, Jerzy gravou há dois anos "As Quatro Estações" de Vivaldi, com a Sinfônica de Varsóvia que, posteriomente, viria ao Brasil (inclusive Curitiba), acompanhando-o numa série de apresentações. Com muitos projetos musicais, alguns já em fase de produção como a gravação da obra integral de Bach para violino (inclusive dois violinos, ele mesmo fazendo o segundo, desafio que só Heifetz fez até hoje), enquanto Aleida gravou três concertos de Bach, com a Sinfônica de Varsóvia. Jerzy pensa sempre em trabalhos diversificados. Lamenta que um álbum com Paulinho da Viola não tenha sido possível realizar, mas em compensação fez um belo álbum chamado "Villa Lobos As Crianças", baseado na obra de Maria Clara Machado ("Clarinha na Ilha"), narrado por Lucinha Lins e Claudio Cavalcanti, com um encarte de 10 páginas, ilustrados por Ziraldo, e que só agora começa a ter sua comercialização dirigida.
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